Prólogo

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"O amor se mantém por um laço de obrigações, o qual, considerando-se que os homens são maus, é rompido toda vez que se apresenta a oportunidade de uma vantagem particular. O temor, diferentemente, é mantido pelo medo de ser castigado, o qual não te abandona jamais." - Maquiavel.

[Inverno de 2022]

Sem dúvidas o ambiente anuviado daquela tarde era o que mais poderia simbolizar o emaranhado de sensações que a dor de se perder alguém pode representar. Choi Yeonjun permanecia estático agarrando o guarda chuva preto com tamanha força que seus dedos apresentavam uma cor lívida, compartilhada também pelo falecido a sua frente.

Seu pai.

Cheirou o buquê de crisântemos em suas mãos e suspirou pesado, posicionando as flores na lápide do Choi. Em sua mente não pôde conter o pensamento do quão contraditório era o que as flores significavam comparado a figura de seu pai.

Simplicidade, sinceridade, vida completa.

Quão hipócrita tinha que ser o indivíduo que o conhecia — e sabia que aquele homem não possuía nenhuma daquelas características — para dispor de flores tão cheias de vida a alguém que já tirou muitas outras? Era desse modo que a família de Yeonjun lidava com os problemas.

Seu irmão Choi Beomgyu o abraçou pelos ombros e afagou seu sobretudo úmido pela chuva débil, enquanto observava calado a mãe chorando copiosamente.

Mesmo sendo rejeitado tão cedo da família por escolher um caminho diferente, não se engane, não era alguém bondoso ou que seguia as regras. Ele apenas confortava seu irmão mais novo inconscientemente em uma tentativa frustrada de varrer a culpa que lotava sua mente, por saber que o cargo de herdar a máfia teria que ser ocupado por alguém. Esse alguém o qual estava ao seu lado agora.

Apesar de saber que seu pai não era a melhor das pessoas que passou por esse mundo, Yeonjun em seu âmago ainda guardava respeito e sentia uma angústia incompreensível para si naquele momento. Seus olhos pesavam e um som embargado cortou sua garganta, abraçando o irmão e escondendo o rosto em seu peito. Por que ele tinha que os deixar naquele momento?

No fundo, não chorava por sua partida, e sim pela responsabilidade miserável que fora empurrada a si tão cedo.

Tal qual um jogo de xadrez, precisa-se pensar sabiamente seu próximo passo, caso contrário o mínimo deslize o leva a derrota. Beomgyu decidiu ser apenas um espectador experiente, enquanto Yeonjun teria que agora jogar sem saber as regras.

O mais novo não pode deixar de pensar que as metáforas de seu pai nunca fizeram tanto sentido como agora. Ele usou todos as suas peças possíveis, mas mesmo assim perdeu a disputa, pois ali eram seres humanos, e não peças de um jogo.

Então, com as mãos trêmulas e o nó na garganta que o sufocava, olhou uma última vez a lápide do pai e prometeu a si mesmo.

Ele não cometeria o mesmo erro.

(IN)COMPLETO /yeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora