Well, humans don't live on the surface
Era manhã e os primeiros raios de sol produziam ondulações brilhantes na parede oposta à janela. Eu ainda esfregava meus olhos, na tentativa de que entendessem que já era hora de levantar. Ninguém ousaria dizer, julgando pelo meu rosto amassado, que pensamentos que só podem ser traduzidos pela imagem de uma locomotiva passavam pela minha cabeça.
Não faço ideia do que sonhei durante a noite e talvez não importe. Olhando através da janela, vejo um jardim repleto de flores. É primavera. Já fazia tempo que eu não pensava sobre isso. Anualmente, o ciclo da natureza se repetindo. Anualmente, eu o ignorando. O universo, funcionando como uma engrenagem perfeita...
"Se a Terra fosse mais próxima do Sol, morreríamos assadinhos. Se fosse mais longe, seríamos picolés. Se girasse mais rápido... Se girasse mais lentamente... Se, se, se, se, se...". E mesmo assim, nós não "se", mesmo assim, eu sou, tu és, ele é, nós somos,vós sois, eles são. Ninguém "se", mas alguém "é". Acho curioso pensar nessa perspectiva, de ser algo. Mesmo com todas as outras possibilidades, as coisas, as pessoas, os animais, a natureza, o universo "são" algo. Um estado tão específico da existência, ou ao menos, da nossa percepção da realidade.
Parece muita coisa para se pensar antes do café... Mas voltemos à imagem da locomotiva. Um símbolo do processo, da revolução, da tecnologia e do presente em movimento para o futuro! A imagem dos pistões, girando, girando, girando, de forma perfeita e contínua. Mais engrenagens...
Diante de tantos acontecimentos cíclicos, parece impossível não me sentir como mais uma peça. Livre arbítrio? Determinismo? A imprevisibilidade do comportamento das partículas subatômicas devido às suas características duais de onda e partícula? Matrix? Cérebro de Boltzmann? Mundo inteligível? Parece difícil obter um parecer definitivo antes de comer um pedaço de pão. Afinal, o cérebro só funciona com glicose, não é mesmo?
Tomo a difícil decisão de levantar da cama e começar a dobrar o cobertor. Arrumo o travesseiro. Ajeito o lençol sobre a cama. Ações precedidas de sinapses que ordenam a movimentação de cada músculo, o comportamento de uma inimaginável quantidade de actinas e miosinas. A questão é que parece muito difícil visualizar tantas coisas acontecendo por trás da simples cena de uma pessoa arrumando sua cama ao levantar.
Decisões. Todos os dias, milhares de pessoas tomam decisões difíceis e não nos damos conta de um infinitésimo delas. O que eu vejo não é tudo. O que meus sentidos percebem, tampouco. Essa falta de percepção de uma totalidade parece tornar os humanos imprevisíveis. E a engrenagem?
Imagino novamente a locomotiva. Dessa vez, ela passa por um túnel. Implacável. Ultrapassa o relevo, faz a rota mais curta e prática. Parece até uma patricinha de um filme hollywoodiano. Passando por cima das pessoas, mantendo a aparência que para ela é tudo. Uma pessoa que só se importa com futilidades! E ainda, ninguém sabe o que passa na cabeça dela. O problema ou a solução é que os humanos não vivem na superfície.
Notas finais:
Oiii! Aqui é a Outer!
Pois é * risos *, vocês devem estar pensando que eu terminei de enlouquecer. Bom, é com grande coragem de minha parte que venho compartilhar esse texto com vocês. Ele não é exatamente uma narrativa, está mais para um monólogo na cabeça da personagem principal. Essa semana eu estava refletindo sobre as ações das pessoas e como elas são executadas seguindo uma lógica que foge o entendimento de um observador externo. Eu gostaria de verdade que vocês não olhassem pra esse texto como uma simples loucura da minha cabeça *mais risos*. Eu realmente pensei enquanto escrevia, viu? Eu não gosto de ter que explicar para o leitor as reflexões, por achar que ele deve passar por um processo crítico de interpretação, mas vou dar só um exemplo de que esse texto tem mais críticas do que ele aparenta em sua superfície.
O trecho "Parece difícil obter um parecer definitivo antes de comer um pedaço de pão", por exemplo, também se refere às milhares de pessoas no mundo todo que estão passando fome. Vocês acham que uma pessoa em condições de miséria tem as mesmas oportunidades que uma pessoa de classe média, que vive uma vida relativamente tranquila? Uma pessoa que não tem suas condições básicas de subsistência do corpo atendidas se preocupa com o imediato: como vou arranjar comida hoje? Será que uma pessoa que não tem nem acesso à comida tem acesso à educação? Se eu tenho a oportunidade de estar escrevendo um texto reflexivo, isso significa que eu tenho acesso a privilégios. Se você o está lendo, você também é privilegiado só pelo fato de ser alfabetizado. O Estado cumpre os seus deveres mínimos de garantir esses direitos que deveriam ser básicos e acessíveis? Bom, só posso dizer que parece difícil obter um parecer definitivo antes de comer um pedaço de pão.
É isso * mais risos *.
Espero que você fique bem, aproveite seu dia. Lembre-se de cuidar de sua saúde, corpo, mente e sentimentos. Aproveite o Halloween, caso você pretenda comemorar ou se divertir.
Até, espero eu, a próxima!
Carinhosamente,
Outer Space Cookies.
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Humans Don't Live on the Surface
Non-FictionA reflexão enlouquecida de Outer sobre as ações das pessoas e como elas são executadas seguindo uma lógica que foge o entendimento de um observador externo!