A Princesa e o Cavaleiro - Parte 1

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2009, num banheiro escolar de portas riscadas por mensagens adolescentes, sofrer era brincadeira de mau gosto.

O dia das Bruxas é amanhã, mas a minha história de terror acontece todos os dias.

Eu ouço os seus passos e as suas risadas. Não demora para que as piadas ecoem pelos azulejos sujos, outrora brancos. São sobre mim, eu sei. São sempre sobre mim, sobre o quanto pareço uma palhaça quando me maquio, uma pata choca quando uso salto, uma prostituta quando tento me vestir melhor, uma ridícula quando tento falar com algum rapaz. Uma das garotas dá um soco na porta do banheiro, provocando risos nas outras, porque sabem que eu estou aqui. Encolho-me sobre a privada.

Só queria que Edward Cullen aparecesse e me levasse deste maldito lugar para bem longe, para qualquer outro lugar, outro mundo. Eu sei que ele me amaria e jamais me chamaria de palhaça ou de prostituta. Ele me adoraria, eu sei que sim, sem se importar com o que eu sou, com quem eu sou de verdade. É um dos poucos caras que iria me querer. Observei minha edição de Crepúsculo dentro da mochila, respirei fundo, fechei meus olhos e imaginei que Edward silenciaria todas elas.

Esperei as garotas irem embora para chorar baixinho enquanto abraçava a minha mochila como forma de afastar aquela dor violenta no meu peito.

Edward Cullen não existe, nem mesmo Jacob Black - qualquer um dos dois serviria, desde que cuidassem de mim, de verdade -, mas eu existo, eu sou real. O meu sofrimento é real. Tal como a minha inveja de Isabella Swan, por ter alguém que cuida dela de maneira incondicional.

Depois de alguns minutos, deixei o banheiro com o rosto limpo da maquiagem porque as lágrimas mancharam tudo e eu precisei lavar antes que alguém visse. Não me sinto mais leve, a cabeça lateja e dói um pouco, mas estou acostumada, é uma reação comum a estes momentos de grande estresse e ansiedade. Por sorte, não furaram os pneus da minha bicicleta hoje, então vou para casa pedalando, observando as pessoas se prepararem para a Noite de Halloween.

Aqui se leva muito a sério o feriado do Dia das Bruxas, ao ponto de criar um festival baseado numa lenda que faz parte da fundação histórica dessa cidade. Uns dizem ser pura lenda, outros que é um aumento de uma pequena coisa. Eu acredito que seja verdade. Cresci ouvindo esta lenda, contada pelos meus avós, pelos meus pais e até pelos meus professores, então posso te contar o que sei.

Posso te contar a história do homem que eu amo.

Há muitos séculos, Ravenhill era apenas um assentamento de trabalhadores rurais servindo a um senhor feudal, um rico o bastante para financiar soldados e ter o título de um nobre. Uns dizem que ele era um conde, outros dizem que ele era um duque. Não há registros de sua existência. Só as histórias que os mais antigos passam adiante. O nobre era devoto ao seu deus porque precisava ter o apoio da igreja para controlar Ravenhill, ter poder sobre ele, porque queria enriquecer.

Eram dias de violência e de perseguição aos cristãos e nossas terras recebiam visitas constantes de criminosos porque era afastada para dentro das montanhas, então o nobre decidiu pedir ajuda ao bispo com o qual tinha estreita amizade. Um destacamento vindo diretamente do exército santo das Cruzadas chegou a Ravenhill para proteger os trabalhadores e cuidar das fronteiras. Todos acharam que dias de paz seriam aqueles, dali por diante, porque eram homens encouraçados e bem armados com espadas, escudos e tantas outras coisas que os faziam cavaleiros perfeitos.

E de todos eles, o mais feroz e o mais honrado de todos era o Elmo de Prata. Seu nome se perdeu da história, mas não os seus feitos e nem os seus méritos. Esta lenda é dele. Elmo de Prata era o primeiro a chegar nas batalhas e o último a cair nelas. Nunca caiu. Sua alma se estendia para a sua armadura e a sua espada, eram partes dele como o seu coração de leão e a sua força de titã. Erguia-se como uma torre perante os inimigos e ninguém tinha forças para derrubá-lo em batalha.

Contos para Não Ler no EscuroOnde histórias criam vida. Descubra agora