Capítulo 3

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NÃO MANIPULÁVEIS


Espero os gêmeos terminarem de comer. Para que eu entenda quem é quem, eles se apresentam. O da direita é Bernardo e o da esquerda, Brandon. Reparo em seus rostos, buscando algo que os diferencie. O primeiro, como noto, tem uma pinta próxima do lábio superior. O segundo tem o cabelo um pouco mais arrumado. Olhando as aparências e diferenças enquanto terminam de almoçar, eu diria que Bernardo é o mais moleque e Brandon, o mais "certinho".

— Bem — começa o segundo —, como você viu, nosso estado não era dos melhores quando chegamos. Isso por que fomos hipnotizados.

— Ou ao menos tentaram nos hipnotizar — interveio o outro.

Arqueio uma sobrancelha.

— Por que eles hipnotizariam vocês?

É Bernardo quem responde:

— Não apenas nós dois — gesticula —, mas todos como nós. Eles tentam, mas não tem cem por cento de sucesso. O controle mental é algo um tanto complicado de se fazer quando não estamos dispostos a sermos controlados.

Volvo para a cela de frente para a nossa. Caleb está sentado, encostado a grade, prestando atenção em nós.

— Era isso que você estava tentando me dizer sobre não sermos manipuláveis? — pergunto a ele, aproximando-me das barras que nos separam.

Caleb anui.

Viro-me para os gêmeos, que afirmam conhecê-lo. Fizeram amizade aqui dentro. Ao menos não preciso me preocupar com apresentações.

— Mas por que exatamente eles não conseguem nos hipnotizar? — lanço.

— Tem uma teoria que diz que, com o passar dos anos, desenvolvemos uma espécie de "escudo" à alienação — responde Brandon. — Não é nenhum tipo de poder, tá mais para criação cultural e social.

— Por sermos o que somos, nossa mente é mais aberta, receptiva ao "anormal" — continua Bernardo, desenhando as aspas no ar.

— Essa nossa melhor receptividade mostrou que podemos evoluir mais que o normal. Afinal, não nos abstemos do incomum. Na verdade, o incomum, ao os olhos dos outros, pode ser extremamente comum para nós.

Franzo o cenho.

— Vocês acreditam nisso?

— Como disse, é uma teoria — replica o irmão da esquerda.

— Porém, já foi comprovado que muitos dos que saíram e não voltaram tinham habilidades especiais — complementou Caleb. — Foi o que meu Aplicador disse.

— Por que confiaríamos nos Aplicadores de Teste? — retruco.

— Não confiamos — fala Brandon —, mas eles são nossas únicas fontes de informação e qualquer coisa que nos digam é melhor do que ficarmos completamente no escuro.

Suspiro pesaroso. Isso não é bom. Temos apenas nós mesmos em quem confiar e aqueles que estão do lado de fora. Não temos muitas escolhas em nossas mãos.

— Desde quando é usada a hipnose? — quero saber.

— Que sabemos, tem cerca de quinze anos que eles adotaram a técnica. — Bernardo se ergue, esticando os músculos definidos. — Quando perceberam que não sofríamos tanta interferência dos meios de comunicação, apelaram em tentar nos tornar zumbis. Claro que eles fazem coisas conosco antes... coisas absurdas quando não nos submetemos ao que desejam...

Futuro Renegado #1 (Ficção LGBT)Onde histórias criam vida. Descubra agora