one-shot

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essa eu fiz de presente pro meu bem t amo meu bem chnfeels

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   O barulho do lápis se arrastando rapidamente pelo papel era um conforto muito conhecido para Momo. Desenhar era algo que parecia estar entrelaçado com seu DNA, cada célula de seu corpo clamava por isso como se fosse sua missão na terra, oferecer um pedaço de seu mundo colorido para aqueles que nunca poderiam imaginá-lo sozinhos. Suas ilustrações eram consideradas estúpidas e fantasiosas por aqueles que não compartilhavam mais o olhar brilhante que era concedido na infância, ela discordava veementemente, mas não os culpava por pensar dessa maneira. Hirai sabia que muitas pessoas eram forçadas a reprimir esse pedaço de si mesmas para enfrentar o mundo cinza que os esperava longe do conforto inocente da ausência de responsabilidades, sabia que os mais desprovidos de sorte nunca puderam experimentar a magia que ela ainda carregava na ponta do lápis.

   Seu pai era um desses azarados. Se lembrava de se sentar na cabeceira da mesa e espalhar seus lápis brilhosos e canetas coloridas porque ele parecia sério sentado de frente para ela com contratos intermináveis para serem lidos e, do ponto de vista dela, borriscados, diversas vezes se perguntou se ele não desenhava no canto da folha quando se cansava de ler. Apesar de ser sério e viver de telefonemas e papéis sem nenhum resquício de arco-íris, não se lembrava de uma única vez em que o Sr. Hirai tratou seus desenhos e pequenas histórias com importância menor do que qualquer documento que levava para casa. As histórias em quadrinho eram as favoritas dele, um pequeno compromisso estabelecido entre os dois de que Momo deveria tentar fazer uma pequena história por semana, ele se sentava no mesmo lugar em que trabalhava e lia disfarçando um sorriso porque queria que ela sentisse que aquele momento era tão sério quanto qualquer outro.

  — Ansioso pelas próximas edições, Srta. Hirai. - ele dizia quando finalmente tinha permissão para abrir um sorriso. Momo guardava com carinho o fato de que seu pai fora seu primeiro e principal incentivo para seguir a carreira para qual nasceu.

   Hirai pensava sobre isso enquanto o lápis dançava sobre a folha como se estivesse vivo. Ser uma ilustradora de livros infantis possibilitava que sempre sentisse a sensação boa de que seus desenhos eram tão importantes quanto os papéis entediantes que advogados como seu pai viviam lendo. A pequena história que desenhava naquela manhã nunca seria apresentada para a editora responsável pela publicação da maioria de seus livros, uma história que talvez as crianças não gostassem ou não entendessem da mesma forma que ela entendia. Momo era assim, fluente nas cores que uma criança usa para colorir o seu mundo, da mesma forma que era fluente em todas as palavras chatas e complicadas que apenas adultos são capazes de compreender, às vezes acabava presa no meio dos dois mundos, bobo demais para um adulto e sério demais para uma criança.

   Uma pequena águia tentando entender por que precisava estender as próprias asas e viver por si mesma, a mãe procurando maneiras de fazê-la compreender que esse era o curso natural das coisas. Eventualmente, a mãe não retornou ao ninho. A chuva torrencial desfez seu lugar seguro e a pequena águia precisou enfrentar o medo da vida real em circunstâncias que nem mesmo sua mãe havia a preparado para viver. Momo se via naquele monte de penas escuras e olhos arregalados, com medo de estender as asas sem o apoio de seu pai, se arrependendo eternamente de ter adiado o próprio crescimento e negado a chance dele de vê-la caminhar pelo curso natural da vida.

   Largou o lápis que segurava e olhou para a direção da sala como se pudesse ver o envelope na mesinha de centro através das paredes. Pela primeira vez em algum tempo, não conseguiu entender os sentimentos conflitantes que a inundavam, eram agridoces, felicidade absoluta de mãos dadas com melancolia forte o suficiente para se tornar amarga. O resultado estava lá, gravado na folha branca para sempre, uma palavra de oito letras que mudaria tudo. Indo no sentido contrário a toda a saudade dolorosa que a perseguia, Momo não conseguia não se sentir como o sol, completamente radiante. Algo dentro de si já sabia que o resultado seria positivo, a sensação de que já carregava em seu ventre a fonte de futuras felicidades e preocupações, ainda tão pequeno e já transformador. Era assim que seu pai se sentia quando pensava sobre ela? Aquele sentimento era arrebatador, quase difícil de respirar quando o notava. Fechou os olhos com força. Faria qualquer coisa por alguém que tecnicamente ainda nem existia, disposta a partir o planeta em dois por um grão de arroz.

  — Você não abriu. - não foi uma pergunta, embora Myoui Mina tenha afirmado com alguma confusão. Estavam sentadas no sofá da sala, os sapatos que usou para ir ao trabalho ainda nos pés porque Momo sentia que não conseguiria esperar por mais um minuto para ter certeza.

  — Claro que não. Vamos abrir juntas. - tinha um sorriso animado, mãos inquietas brincando com a barra da blusa que usava, a ansiedade no ar era quase tangível. A mais nova respirou fundo, tentando reprimir o tremor nos dedos, rasgando o envelope com todo o cuidado que poderia usar, tirou o papel dobrado e o abriu, seus olhos castanhos viajavam pelas diversas palavras ao mesmo tempo que os de Momo, até chegar na palavra que a fez congelar.

POSITIVO.

   O mundo não era mais o mesmo depois disso. Mina olhou para a esposa e riu entre lágrimas ao ver a expressão incrédula, poucos segundos depois, elas se olhavam como se nada além daquele momento importasse, se a casa estivesse em chamas não conseguiriam notar. Hirai foi a primeira a conseguir realmente se movimentar e a primeira coisa que fez foi abraçar a mais nova com toda a força que tinha, tão feliz que não conseguia respirar, chorando e resmungando o quanto a amava.

  — Nós somos mamães, amor! Eu sou grata por ser você e eu. - Myoui falou entre um soluço e outro, segurando o corpo trêmulo da mais velha com força equivalente à que era segurada, como se ela fosse desaparecer a qualquer momento. Experimentando a sensação arrebatadora de assumir esse papel pela primeira vez, sua família estava crescendo e era a melhor coisa que poderia ter acontecido.

   Mina soube que seria Momo no dia em que a viu sentada na borda de uma piscina desenhando uma ovelhinha pulando uma cerca durante uma festa. O som alto do pop estadunidense fez seu estômago estremecer a noite toda, mas a agitação foi diferente quando a viu ali, uma das poucas garotas japonesas fazendo intercâmbio em Dallas, Myoui não fingia ser cética, tinha certeza de que o destino estava a empurrando para um amor à primeira vista. Ainda se lembrava da sensação de ter os pés doendo pela água fria e ignorar isso porque a risada daquela garota era a melhor que já tinha ouvido, franja quase cobrindo os olhos e o cuidado que tinha ao segurar o pequeno caderno. Mina não fazia ideia de que Momo também soube que seria ela logo na primeira noite. A ilustradora não conseguiu não se apaixonar diante de uma personalidade tão doce combinada com o rosto mais belo que já tinha visto na vida.

   Anos depois, estavam comemorando o fato de que sua pequena família estava aumentando. Com comida coreana pedida em algum delivery e suco de uva servido nas taças que tantas vezes usaram para vinho, conversando e sorrindo sem parar porque estavam vivenciando um dos melhores dias de suas vidas. A maternidade seria um desafio que enfrentariam juntas, independente do cansaço e das incontáveis noites acordadas que viriam, era uma missão sem data para terminar e saber que não fariam isso sozinhas era reconfortante.

   Na mesma madrugada, Momo mantia seus olhos abertos, dedos deslizando pelos cabelos escuros da esposa, perdida em pensamentos quase longínquos demais para retornar. Pensando sobre Mina, sobre seus pais, sobre seu trabalho, sobre sua capacidade e, principalmente, sobre seu filho. A mão que estava livre repousava sobre a própria barriga, ter a certeza de que um pequeno ser estava ali realmente fazia sua percepção do mundo mudar. Imaginou uma garotinha com sorriso idêntico ao de Mina lhe estendendo um desenho bagunçado, perguntando o que achava, esperando que fizesse como seu pai, se imaginou colocando a folha no mesmo lugar onde fazia os desenhos de seus livros para avaliar com mais exatidão. Será que aquela garotinha se sentiria tão importante quanto ela se sentia? Pensar nisso fez uma lágrima escorrer em silêncio. Sua mão chegou a se esticar para alcançar o telefone, parou ao se lembrar que seu pai não atenderia como costumava fazer, seu coração ficou dolorido pela primeira vez em algum tempo, sentia muito mais falta dele do que se achava capaz de administrar. Respirou fundo, olhou para a mais nova e deu um beijo suave em cada uma das pintinhas que conseguiu alcançar, ainda era uma pequena águia desajeitada aprendendo a voar, mas sentiu a calma invadir seu corpo ao perceber que não precisava ficar assustada, tinha Myoui Mina para atravessar a tempestade com ela. Tinha certeza de que, onde quer que estivesse, seu pai também se sentiu mais tranquilo.

☆☆☆☆☆

nao achei ideal, mas sla vai q alguem queria uma boberinha mimo pra ler

PositivoOnde histórias criam vida. Descubra agora