west coast

4 0 0
                                    

Eu deveria me importar? Eu deveria escutar?
Eu deveria ceder meu precioso tempo para ouvi-la?

Prefiro ouvir minha sobrinha de 10 anos cantar Taylor Swift, do que minha esposa gritando em meu ouvido sobre como eu olho para outras mulheres.

Minha sobrinha não é
uma boa cantora.

Seus cabelos ruivos e seu rosto mais vermelho que um morango estava me fazendo rir, cujo minha ação involuntária a deixava ainda mais irritada. Eu não ligo.

Eu não ligo.

— Você fala como se fossemos casados. Você grita comigo como se realmente tivéssemos algo. Nós não temos nada. — Meu tom saiu normal. Nada que eu não pudesse resolver na base da conversa.

— Norman! Somos casados! Está vendo essa aliança? Lembra do meu vestido branco? Você lembra de como ficou bêbado em nossa festa de noivado? Você lembra?! Você lembra, eu sei que lembra. E sei que também lembra que eu tenho o seu sobrenome, Lana Monttanari. Se contente com isso. — Lana retirou seu roupão, revelando seu corpo definido e magro, indo vestir seu vestido de gala, pois estávamos atrasados para o baile.

Não iria opinar. Não irei opinar. O silêncio já diz por si só.

— Você não vai me responder? Eu tenho o seu sobreno-

— Grande. Merda! — Respondi pausadamente, desta vez com o tom de voz elevado.— Isso não vai me fazer ir pra cama com você, e certamente não vai me fazer chorar de noite e me ajoelhar aos seus pés pedindo perdão. Eu olhei sim! Olhei para aquelas mulheres na cafeteria sim. Eu quis olhar, pois olhar para elas não me deu repulsa como essa sua cara me dá, como esses seus olhos azuis me dão. Fique quieta. Poupe saliva, poupe suas cordas vocais, Lana. Apenas se poupe. Chega dessa conversa.

Havia amarrado meus sapatos sociais após terminar meu pequeno discurso e saí do quarto, o silêncio da quarto se tornou ensurdecedor para os meus tímpanos. Os empregados veneram as nossas discussões, nenhum deles gostam dela. E só de abrir a porta dos meus aposentos, pude ouvir pequenas risadas e passos rápidos se afastando do corredor.
Lana é um ser humano desprezível. A conheço desde pequena, ela é o anticristo. Não estou exagerando.

[...]

Shellman, cidade pequena nos Estados Unidos, muito verde, muita água, lagos e rios. Muitas florestas e dinheiro.

Dinheiro. Dinheiro.
E quando eu falo de
dinheiro, eu estou falando de muito dinheiro.

Todos que entram na cidade, necessariamente tem uma renda altíssima. E os que não tem, acabam obtendo de uma forma ou outra. Poucos se mudam para cá, e desse pouco, ficam no máximo cinco famílias das 15 que se mudam anualmente.
Shellman tem dois baile anuais, no começo do ano e no final dele. Sempre muito luxuoso e apenas as famílias com maiores patrimônios são convidados. E claro, os anfitriões seriam os novos moradores da cidade.

Essa era a ideia, mas nunca fora executada.

Todos muito alegres, muitas risadas, muitas fofocas.
Mulheres, vestidos, perfumes, bebidas, jóias e jogos de interesse. Ninguém ligava para os novos moradores, mas precisavam ao menos cumprimentá-los.

Eles não tinham nada de exuberante ou elegante, e para piorar, tem baixa renda. Posso botar pelo terno mal passado de uma coleção de 2010 da Ralph Laurent, o tênis que usava e o cheiro exagerado de seu perfume.
Apertei a mão de tom escuro do novo morador e provavelmente patriarca de sua família e assim fiz com a mulher que o acompanhava, tinha idade de ser filha dele, mas eram um casal.

Ao me apresentar, me esforço para não demonstrar incômodo pelo perfume enjoativo da acompanhante do rapaz, desejando boas vindas para ambos e sendo cortado pela falta de educação vindo de Lana, que chegou de repente.

— Querido, venha. Vou fazer a apresentação dos novos moradores. — Ela nem se quer havia os cumprimentado. Pedi perdão pelos modos de minha "esposa" e entramos no salão principal.

Lana já estava posicionada ao meio do salão, onde iria apresentar os novos moradores e dar as boas vindas. Seu vestido preto era horrível, mas todos juravam que ela estava linda e muito elegante, mas a taça de champanhe que a ruiva segurava disfarçava a falta de sofisticação em um evento tão importante como esse.
 
Céus, como fui me casar com essa brucutu?

— Bom... Aos novos moradores, desejo a todos muita sorte e que Deus abençoe vocês. Eu sou a Lana Monttanari, esposa a mais de dez anos com aquele homem maravilhoso, — apontou para mim. Me fazendo rir, com a mão no peito, fingindo emoção pelas falsas palavras.— tão perfeito, respeitoso e carinhoso. Enfim, chega de elogios! Ele fica todo tímido, hahaha.

Todos caíram na risada, eu também. Mãos femininas encostando e alisando como forma de carinho em meu smoking, precisavam de uma desculpa para me tocar.

—Mas agora estou curiosa... Como foi a compra daquela casa linda na Shermann II? —Lana perguntou com curiosidade, não era apenas dela, e sim de todos.

O local ficou em silêncio. Suas reações foram mais do que esclarecedoras, eles não faziam ideia do que estávamos falando. Então perguntei:

—Foram vocês que se mudaram para a 77, Shermann, certo?

— Não... Estamos na rua de trás, nas casas do subúrbio. — O patriarca da família respondeu.

— Mas isso não faz sentido nenhum, todos falaram que vocês iriam para essa casa. — Lana retruca, fechando a cara.

— Na verdade, nós iríamos comprar a casa, porém, uma moça comprou primeiro. Deu o dobro do valor para comprar a casa.

— E quem é essa moça? — Perguntei, curioso.

— Ela se apresentou como O'Connell. Uma jovem moça. Conhecem ela? — O moço estava completamente perdido.

— Não, não conhecemos. Senhorita O'Connell? Está aqui?

O silêncio estava instalado no salão, mas não por muito tempo.

— Bom, essa jovem com certeza perdeu a chance de estar celebrando conosco. Vamos voltar a celebrar essa

Interrompido. Minha esposa praticamente grita.

— Espere só um momento, meu amor... Eu ainda tenho uma notícia... Na verdade, é uma notícia muito boa...

Lá vem bomba, Norman.

— Amor... Como você sabe, estamos tentando a tanto tempo... Meu sonho nosso sonho... Nosso sonho como casal, era formarmos uma família.

Puta que me pariu...

— Norman.. É com prazer que eu te dou essa notícia, esse presente de Deus... Nós estamos grávidos! — Lana estendia suas mãos para que eu fosse até ela e a abraçasse.

Não expressei nenhuma reação a não ser surpresa. Fui até mesma, a abraçando forte e demonstrando o quão feliz estava assim que toquei em sua pele.

—Esse filho não é meu, querida. — Sussurrei com um sorriso enquanto acariciava sua maquiagem.

— É aí que você se engana, Norman... É aí que você se engana, meu amor. — Sussurrou de volta e logo após sorrindo, acenando e agradecendo todos que podia.

Fiz a mesma coisa, indo abraçar meus amigos com muitos empolgação e gritos de júbilo. A festa estava sendo sem a menor sombra de dúvidas cheia de entretenimento. Conseguia ver o hall de entrada, onde uma silhueta de uma mulher saia dele. Um vestido vermelho.

Maldita cor vermelha.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 21, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

sHELL Onde histórias criam vida. Descubra agora