Poemas de amor de uma garota que nunca se apaixonou - Michaeng

Azul

Azul... Cor do céu belo de primavera
A estação que as mais belas sensações gera.
A cor fria que trás conforto
Cor da harmonia e tudo ao seu entorno.
Tu eres meu azul!
Minha cor gélida e inebriante
Eres meu azul, eres meu amante
Ao olhar para a imensidão azul acima de mim
Sou lembrada do meu amor por ti que jamais terá fim.
Eres meu azul!

Mais um terminado, agora é só passar para meu celular e postar. Espreguiço-me na cadeira para alongar meus músculos que encontram-se rígidos e doloridos devido as horas que fiquei sentada. Olho para a janela de meu quarto e vejo o céu primaveresco, antes azul, agora em tons de vermelho, rosa e laranja. Eu amava ver o por do sol principalmente na primavera, tudo ficava mágico, tudo se transformava na mais bela obra de arte, sinto vontade de pegar uma tela, sentar diante a janela e pintar a cena em minha frente durante horas mas infelizmente minhas obrigações me chamam. Eu deveria estar estudando física já que amanhã tenho prova, mas decidi escrever mais alguns de meus poemas o que acabou me tirando algumas horas preciosas de estudo. Mas o que eu poderia fazer? Creio que escrever seja o melhor passatempo que eu poderia ter, amo fazer meus versos, histórias ou o que for, sinto-me livre e poderosa, tendo como arma as palavras, papel e caneta.

- Acho que você deveria dar uma pausa dos estudos e comer alguma coisa. - sou despertada de meus pensamentos pela voz suave de minha mãe. Viro-me sorrindo e a vejo com um leve sorriso em seu rosto. - Está com fome?

- Sempre estou com fome mãe. O que fez de gostoso para a sua maravilhosa filha?

- Comprei brownie e sorvete de chocolate para acompanhar. - após terminar a frase minha barriga roncou e minha mãe riu - Ande Mina senão sua barriga irá se desgrudar de seu corpo para ir buscar comida sozinha.

- Mãe a senhora é mais dramática que eu... Por isso que eu lhe amo! - afirmei sorrindo e minha mãe apenas me puxou para fora do quarto. Seguimos até a cozinha e logo pude saciar minha fome, enquanto eu comia senti os olhares atentos e inquietos sobre mim. - A senhora sabe que eu sempre sei quando quer dizer algo, então pode dizer.

- Me ligaram da escola Mina... - ela suspirou antes de continuar - filha... Sei que gosta de escrever mas não deixe que isso lhe afete na escola. O diretor disse que você dormiu duas aulas seguidas. Mina você é presidente do concelho estudantil, deve ser o exemplo para seus colegas.

- Mas foi por uma boa causa mãe! Eu precisava terminar meu livro novo, juro que nunca mais ficarei acordada até de madrugada...

- Escrevendo mais um livro? Você sempre promete isso. Eu amo o fato de você ser tão próxima a arte assim como seu pai. Mas não posso permitir que seus hobbies atrapalhem a escola. Lembre-se que seus livros são apenas diversão, seu futuro depende de estudos, poucos se mantém estáveis escrevendo Myoui Mina. - concluiu e senti meu chão sumir. Apenas assenti e terminei de comer meu bolo para pedir licença e sair rumo ao meu quarto.

Deitei em minha cama e comecei a observar o teto cheio de estrelas que eu mesmo havia colocado ali. Minha mãe não sabe, nunca tive coragem de falar para ela sobre quem eu realmente sou. Myoui Masahiro é uma mulher maravilhosa, japonesa, educada e uma empresária bem sucedida. E aí estava o "x" da questão. Ela sempre me elogiava quando eu fazia algo relacionado a arte mas quando eu fiz 15 anos e comecei a me dedicar a esse mundo principalmente ao da escrita, seu apoio começou a fraquejar. Agora que tenho 17 e logo vou me formar, a preocupação dela é que eu escolha algo instável para cursar ao invés de fazer o seguro que seria administração para comandar a empresa da família.

Não a culpo por isso, meu pai era artista plástico quando jovem até o dia que sofreu um acidente no trabalho e nunca mais pôde pintar ou esculpir nada. Ele ficou em choque, havia perdido seu trabalho, sua fonte de renda e sua paixão, era como se uma parte de si tivesse morrido e não muito tempo depois precisou ser internado em um clínica de reabilitação. Passamos por dificuldades financeiras até que nos mudamos do Japão para Coréia do Sul onde minha mãe conseguiu um emprego bom e logo conseguiu abrir a própria empresa de marketing. Devido a esse contexto, minha mãe crio uma grande aversão ao fato de eu querer trabalhar com uma área artística, ela acha que eu jamais serei reconhecida e que as frustrações irão me fazer acabar como meu pai, louco em um manicômio qualquer.

Mas as coisas são um pouquinho diferentes na realidade. Eu sou reconhecida... E muito. Esse ano já ganhei 17 prêmios como melhor escritora e poetisa do país. Minhas contas nas redes sociais ultrapassam os 100 milhões de seguidores, minhas postagens contém mais de bilhões de curtidas. Agora você deve estar se perguntando: se você é tão famosa, por que sua mãe tem dúvidas da sua capacidade e sucesso? E a resposta é simples.

Ela não sabe que eu sou famosa, na verdade... Ninguém sabe. Quando eu fiz 15 anos decidi começar a publicar meus poemas na internet, criei todas as minhas contas com o nome "Sharon" e depois de um mês o sucesso veio, eu pensei diversas vezes em mostrar quem eu sou de fato, mas depois desisti. Sou a escritora Sharon e continuarei assim durante muito tempo. Algo bem irônico em minha vida é o fato de eu ser conhecida pelos poemas e livros de romance e amor sendo que nunca senti nada, absolutamente nada do que eu escrevo e no geral tenho aversão a tal sentimento. Sei que é algo estranho, mas tudo bem, nem tudo no mundo faz sentido mesmo.

Em fim... Essa é minha vida, sou uma escritora secreta!