Capítulo 1

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Esse era o momento do dia em que eu gosto de chamar de "purgatório".

Ensino médio. Se houvesse uma maneira de pagar pelos meus pecados, essa era certamente uma delas.

Pelo menos já estava em minha última aula, depois disso podia finalmente voltar para casa, enquanto isso aguentava mais um pouco da aula de química. Como se não fosse mau o suficiente a contagem regressiva dos minutos para ir embora ser tão lenta, o meu colega de mesa no laboratório me olhava possessivamente como um louco.

Qual era o problema desse cara? Eu não sou a pessoa mais amigável do mundo, mas nunca fiz nada para Emmett Cullen. Somos parceiros de laboratório a mais de uma semana e ele nunca me dirigiu uma palavra, ele e toda sua família são muito estranhos. Provavelmente por serem filhinhos ricos de papai e com vários incestos na família, ok eles são adotados, mas mesmo assim, estranho.

Emmett continuava me encarando e eu encarava o relógio,4,3,2,1... O toque soou, finalmente posso ir embora. Peguei minha bolsa e caminhei para fora da sala até o ponto do ônibus. Já era noite, no Alasca anoitece por volta das 17, coloquei meu fone e continuei meu percurso, mas conseguia me sentir observada, olhei para trás e nada, achei que estava ficando paranoica, só para ter certeza olhei mais uma vez, e vi uma silhueta escura, um homem sem dúvida. Alto, forte e definitivamente rápido, parecia que cada vez andava mais depressa e estava cada vez mais perto. Olhei em volta e estávamos sozinhos na rua deserta, andei mais rápido, mas não parecia fazer diferença, era como se cada passo que eu dava ele dava dois.

Era estranho este homem me parecer familiar? Decidi mudar de direção, passei até o outro lado da rua e ele fez o mesmo. Ok agora é impossível ser paranoia, estou sendo seguida.

Cheguei no ponto do ônibus, não tinha ninguém. Claro, andei tão rápido que ainda falta alguns minutos até o ônibus chegar. Procurei pelo o homem, mas não o encontrava, fiquei oficialmente assustada. Onde ele foi?

Ouvi um rosnado, vinha de trás de mim, me virei lentamente na direção do som. Sentia meu coração martelar contra meu peito, como se fosse me sair pela boca a qualquer momento.

Foi quando tudo ficou um borrão, me sentia sendo carregada, o vento batia em meu rosto como num conversível em alta velocidade.

Sou finalmente colocada no chão, olho em redor e só enxergo árvores, o que ta acontecendo, como eu vim aqui parar, será que estou sob algum efeito de drogas? Acho que saberia se esse fosse o caso. Nada faz sentido.

Observo a figura do homem sair do meio da floresta, ele retira o chapéu e vejo seu rosto.

-Emmett? Foi você que me trouxe aqui? Como você... -Ele me interrompe antes de eu completar todas as minhas perguntas.

-Me desculpa Heather, você parecia ser uma pessoa legal. -Foi tudo o que ele disse, mas o que quer dizer com isso? -Eu queria conseguir resistir, mas seu sangue tem o cheiro mais doce que já sentira em mais de oitenta anos.

-Meu sangue? Desculpa Emmett, como é que é? -Perguntei segurando o riso. Esse cara é mais doido do que eu pensava.

Emmett se aproximou, até me pareceu ouvi-lo sussurrar desculpa, depois disso não havia milésimo de segundo que faria diferença, ele me segurou com força e mordeu meu pescoço, mas então eu senti, e então não pude segurar o meu grito de agonia. Era como um veneno se espalhando por todo meu corpo, um ardor em todo lado, o meu corpo parecia estar em chamas. Fui perdendo minhas forças, me deixei levar pela dor, já nem conseguia abrir meus olhos.

E então eu sabia que estava morta.

Foram três dias, três dias de uma dor agonizante. Em momentos até pensava ouvir um rosnado vir do fundo de minha garganta. Queria ceder aquela dor, não aquentava mais, mas sempre que tentava me deixar ir a dor aumentava, o veneno corria em minhas veias.

Comecei a ter noção de cada milésimo de segundo que passava, como se tivesse todo o tempo do mundo, mas era todo esse tempo que tornava a minha transformação mais longa. Comecei a ter noção que algo em mim estava mudando, não conseguia ver nada ao certo, minha visão estava muito turva para ver ou sequer pensar em algo.

O que me estava acontecendo? O que era Emmett, porque humano de certeza não era.

Algum tipo de demônio, talvez. Se fosse para morrer, suponho que já devia ter acontecido, mas não. Eu continuava deitada no chão daquela densa floresta sem conseguir me mexer, sem conseguir fazer nada. Quanto mais tempo isso ia durar?

Como se tivesse recebido uma resposta as minhas suplicas.

Percebi que...

Não havia som. Nem respiração. Nem mesmo minha. Por um momento, a ausência de dor era tudo que eu podia perceber. E então eu abri meus olhos e olhei por cima de mim, maravilhada.

Tudo estava tão claro.

A luz do sol acima de mim era extremamente vivaz, e mesmo assim, eu ainda podia ver claramente os pequenos raios sendo emanados por ele. Eu podia ver todas as cores ao meu redor, vivas como nunca.

Atrás da luz, eu conseguia distinguir cada textura nas arvores e na madeira do tronco, na minha frente eu podia ver as partículas de poeira no ar, elas giravam como pequenos planetas, se movendo ao redor uns dos outros.

Não resisti à vontade e inalei o ar. O mesmo saiu rolando em minha garganta, girando as partículas como um buraco negro. Até pareceu errado ter inspirado, meus pulmões não esperavam por isso. Eles reagiram com indiferença ao refluxo.

Eu não precisava do ar, mas gostava dele. Nele, eu podia sentir o gosto da floresta ao meu redor – as adoráveis partículas de poeira, a mistura do ar estagnado com o fluxo de ar mais fresco.

Eu ouvi um som baixo, um som ritmado, com uma voz nervosa gritando ao som da batida. Rap? Eu fiquei confusa por um momento, e então o som desapareceu, como um carro passando com as janelas abertas. Talvez uma estrada não ficasse tão longe daqui.

Depois de um tempo, eu me dei conta de que era exatamente isso. Eu podia ouvir o que acontecia na estrada?

Decidi me sentar e levantar calmamente, mas meu corpo já não respondia como antes e me levantei num pulo em menos de um segundo.

Dei um passo de cada vez, agora tentei ir devagar, mas eu podia sentir agora - a força bruta dos meus membros.

Os objetos ao meu redor - as árvores, os arbustos, as pedras... começaram a parecer muito frágeis.

Um ataque de sede invadiu meu subconsciente, e repentinamente todo o meu fascínio com minhas novas habilidades foram esquecidas. Inspirei fundo e captei um cheiro que me atraia, mas fez minha garganta arder profundamente. Eu deixei que fosse guiada pelo cheiro, pouco consciente do meu movimentou quando eu voei pra pequena clareira de onde a corrente veio. Corri atrás desta fragrância tão atrativa que não havia escolha. Era impulsivo.

O vento mudou trazendo, mais uma vez, o cheiro mais delicioso que já haverá sentido em toda a minha vida.

O feroz rosnado, saindo da minha própria boca, foi tão inesperado que me deu um pouco de lucidez. Isso me desconsertou e limpou a minha mente por um instante - a cegueira causada pela sede retrocedeu, embora a sede ainda queimasse.

Abro os olhos e vejo tudo o que indicava ser um humano, me aproximo cautelosamente, sem fazer nenhum barulho, meus lábios deixaram os meus dentes à mostra em sobreaviso. Mas como se o humano tivesse sentido minha presença, ele se vira para mim.

O seu rosto estava tenso e cauteloso, horrorizado.

Eu percebi que estava prestes a atacá-lo para saciar a minha sede.

E assim o fiz.

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Blood Love - Jasper HaleOnde histórias criam vida. Descubra agora