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O dia estava sendo ótimo, apesar de eu não ter dormido tempo suficiente para meu corpo descansar. Eu e minha tia Raquel estávamos passeando pelo shopping, depois de ter almoçado em um restaurante por ali.

Tia Raquel era muito parecida com a minha mãe, Baixinha, de cabelos lisos e negros que iam até um pouco abaixo do queixo, Ela é uma mulher muito linda, e estava muito bem para seus 47 anos.

- eu já não aguento mais andar - comentei manhosa a abraçando pelos ombros, apesar do passeio estar sendo ótimo, eu sabia que ela queria falar alguma coisa. Já que ela só enrolava de loja em loja quando queria tratar de algum assunto

- deixa de ser velha, Melanie. Nem eu me canso tão rápido - ela disse rindo e analisando a blusa que estava na sua mão pela terceira vez

- ok, desembucha que eu sei que a senhora quer falar alguma coisa - tirei a blusa de sua mão e me afastando dela para olhar melhor - o que aconteceu?

- por que você acha que tem alguma coisa? - riu nervosa olhando em volta da loja, levantei minhas sobrancelhas cruzando os braços e fiquei encarando seu pequeno rosto

- porque eu te conheço, agora fala logo - coloquei a blusa no lugar e entrelacei nossos braços voltando a andar devagar pela loja

- eu não sei como te falar isso, Melanie - suspirou parando de andar, o que me fez parar para voltar a olhar seu rosto - seu pai está pra ser solto, ele entrou em contato e disse que queria ver você.

Aquilo com certeza me pegou de surpresa, as vezes me pegava pensando em como seria se ele saísse da prisão e agora ele iria sair, de verdade. E eu não sabia o que pensar, nem o que fazer.

Não me lembrava de muita coisa da minha infância, as poucas coisas que lembrava sempre envolvia uma certa família que morava em frente a minha antiga casa.

O pouco que lembrava de meus pais, não eram coisas boas, mas da noite que minha mãe morreu. Essa sim eu me lembrava perfeitamente, desde a hora da discussão até que seu corpo mole ficará sobre o chão.

- querida?! - despertei -me de meus pensamentos voltando a focar na mulher mulher baixinha a minha frente, passei a mão no rosto até meus cabelos e respirei fundo olhando para os lados

- eu não quero ver ele, tia. A senhora sabe muito bem disso - agora quem não queria mais falar sobre aquilo era eu, mas depois que ela começava um assunto nunca parava

- eu sei disso, foi por isso que não dei nenhuma informação de onde estamos. Mas você sabe o que eu acho - sorriu de canto se aproximando e entrelaçando nossos braços voltando a andar pela loja - você não se lembra de muita coisa, e eu não quero defendê-lo. Longe de mim, mas ele é seu pai, e ele está sóbrio desde aquela época, dar uma chance não seria ruim.

- uma chance pra que, tia? Ele matou minha mãe, sua irmã. O que espera que eu faça com isso? - a olhei de relance enquanto íamos para fora da loja e seguimos até a loja que eu queria ir desde que chegamos, mas essa vontade já tinha passado.

- eu sei disso, querida. só quero que pense a respeito, se você não quiser vê-lo não vou te obrigar, mas você tem que pensar se é realmente isso que você quer, se realmente quer ficar sem respostas a vida toda. - apenas balancei a cabeça concordando olhando pra qualquer lugar naquele shopping, ela quem me criou, e sabia muito bem o que eu queria.
Mas ela também nunca iria deixar de me dar uma reflexão sobre o assunto.

Acredito eu que não se passava das 14:30, depois daquela conversa eu simplesmente perdi a vontade de continuar passeando, e também não estava afim de ir pra casa. Precisava me distrair, fugir dos meus próprios pensamentos.
Já tinha perdido a conta do quanto tinha bebido, eu só me sentia leve, feliz e engraçada. Se é que isso faz sentindo.

Your memoryOnde histórias criam vida. Descubra agora