Capítulo I

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30 de setembro de 2022


Era o último debate antes do fatídico dia, O Grande Domingo estava chegando como dia qualquer, mas não como um dia comum. Todas às vezes que se encontravam diante das câmeras era como um momento agridoce. Ele havia prestado atenção quando ela foi prefeita da própria cidade onde nasceu, sabia do potencial que ela tinha e também dos erros cometidos. Simone deixou um singelo sorriso nascer como um furtivo raio de sol, não imponente como o sol, mas que iluminou tanto quanto, quando Inácio, assim carinhosamente chamado intimamente por ela, chamou-a de ingrata. Naquele local eram apenas Lula e Simone. No entanto, era como se o menino pobre de São Caetano, atualmente a calma Caetés, estivesse debatendo com a menina do laço de fita de Três Lagoas.


—A senhora foi muito dura comigo hoje. —Lula começou enquanto Simone olhava para o além deles. Os olhos taciturnos de Simone fiscalizavam o ambiente e isso era um deleite para ele. Tudo nela era perfeito. —Perfeita. —Deixou escapar e recebeu um sinal, sobrancelha direita dela se sobressaltou e ele entendeu. —Quando prefeita, Simone... —Fingiu falar sobre quando a oponente era prefeita. Tocou em seu braço e olhou em seus olhos, o ar de superioridade combinava com ela.


—Não estamos...


—Estamos. —Insistiu. —Nada segura um homem apaixonado. —Ela arregalou os olhos nesse momento. Lula era impossível nesses momentos e ali não era hora.


—E essa paixão é apenas para com o país?—Simone perguntou instigando Lula. Pediu licença e olhou uma última vez quando os repórteres se aproximaram dele. E ele entendeu o sinal. Simone se preparou para os últimos minutos em frente às câmeras, estava prestes a conversar com Renata Lo Prete naquele momento. Sua assessoria de imprensa estava com ela naquele momento, dando os últimos retoques e às vezes percebia que alguém olhava para ela. Sorriu amigavelmente para Soraya quando olharam uma para a outra, mas Simone sabia que era o olhar Dele para com ela. Olhou uma última vez para a aliança em seu dedom tão reluzente e atrativa. Não era infeliz no casamento, nunca foi. Mas, sua história com Lula era de outras primaveras e todos achavam que era algo meramente político...

Olhou as notificações do seu celular, era raro ter domínio até disso em uma eleição, mas ela sorriu singelamente quando viu que suas filhas haviam acompanhado o debate. Respondeu que era muito tarde para as duas estarem acordadas, mas logo lembrou que ambas já eram adultos. Filhos crescem rápido, pensou sozinha. Suas Marias estavam presenciando um momento histórico e ela queria que as duas tivessem a liberdade que um dia ela não teve. Chamada de descontrolada durante uma CPI, Simone sabe muito bem que ser mulher no meio político não era fácil.


(...)


—Não se maltrate. —Lula assustou Simone quando ela estava prestes a tragar um cigarro. Ele tinha sido uma influência nesse vício, sabia disso. Simone estava ansiosa, nervosa e preocupada. Estava exausta, mas não tinha sono algum. Algumas vezes pensava em se entregar ao vício do cigarro outra vez. A primeira vez que fez isso foi quando viu Lula fumando, como fazia antigamente, e tirou o cigarro dos lábios dele para os dela. Simone e Lula tinham como linguagem de amor o toque e as provocações.


—Nunca mais fumei. —Ela declarou quando ele retirou o vicio das mãos dela. Ela ficou na mesma pose quando estavam lá embaixo, em frente às câmeras. Olhou carinhosa para ele, por cima do ombro, mas ainda assim com afeto. —Cansado?

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