(nome) Alencar de Lima, São Paulo, 02:47(pm)
Havia acabado de almoçar e agora me deliciava com um sorvete de baunilha. Eu ainda não tinha coragem de visitar meus pais, mesmo depois de sete anos fora. Acho que eles também não gostariam de me ver, eles não teriam tamanha audácia. Estava num restaurante barato de esquina qualquer, mas que eu conhecia muito bem, nasci aqui, é impossível esquecer os torresmo e a couve refogada da mulher do dono do restaurante, Dona Ana Emília.
Ela de primeira não havia me reconhecido, mas conforme eu fiz o pedido ela percebeu pelo simples fato de eu sempre pedir o que ninguém pedia: refogado de cebola e couve (mas não misturados), arroz com açafrão com apenas uma colher de feijão e ketchup por cima de tudo. Minha comida favorita tirando frango a parmegiana. Ana me abraçou quando confirmei que eu estava de volta, porém a alertei que seria temporariamente.
Depois disso, ainda não tinha coragem de ver meus pais, creio que eles também não queriam me ver. Então com as poucas horas que me restavam até meu vôo de volta para Londres, passei na casa de minha irmã mais velha e a pedi para que mantesse o sigilo sobre minha pequena visita de volta ao Brasil aos meus pais, ela concordou. Ela sempre foi minha melhor amiga, mesmo que tenhamos nos distanciados nesses últimos anos desde de que saí de casa, era sempre ela a quem me acolhia. Acho que pelo fato dela sempre ter um instinto acolhedor e de cuidado materno. Meus pais sempre me negaram como filha, por mais que indiretamente como sessões de evitação da minha pessoa e apenas interações para me mandar fazer alguma coisa, desde sempre foi assim, e desde sempre era Lília quem me abraçava no final da noite, quando eu terminava de estudar.
Vi Clarinha, filha dela, e céus, como ela estava enorme, por mais que tenham se passado boas temporadas desde que eu não vejo mais ela, a evolução precoce dela ainda me intriga. Clara tinha seis anos, tinha uma altura considerável para sua idade, porém parecia ter quase vinte anos a mais quando se tratava de conversa. Por mais que tenha o gênio forte, sempre exalava maturidade em suas falas e comportamento. Nem com 26 anos eu tenho essa estabilidade que essa garotinha tem.
A despedida foi dolorosa, porém necessária. E agora, já ba área de embarque me perguntava se só não fui uma garotinha mimada, sensível e ingrata que não sabia reconhecer todo o "amor que eles me deram". Deixei tal questionamento de lado quando o meu vôo foi chamado.
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(nome) Alencar de Lima, Londres, 07:58(am)
— Lar, doce lar - cantarolei ao sentir o cheiro de Khya, o frescor dos orvalhos de minhas plantas, (que mesmo dentro de uma mini estufa improvisada, alastrava umidade pela casa, o que era vantagioso em meio aos secos ares da capital inglesa) e o cheiro das minhas tintas.
Casa.
Demorou um bom tempo para eu perceber que estar em casa, era estar onde as coisas e pessoas pelas quais me deixei cativar.
Khya, minha gata e a felina mais linda de todo o universo, veio em minha direção mas antes saltou para o balcão da cozinha para alcançar meu ombro. Depois de se equilibrar no meu ombro, arranhando um pouco minha clavícula, passou sua cauda pelas minhas costas, alisando meus cabelos quase em forma de cumprimento. Ri com o ato, mas não reclamei mesmo que resulte em mais um dos meus suéteres cheio de pelinhos da acinzentada. Não demorou muito para a de olhos verdes descer de volta ao chão em um pulo ágil.
Em direção a cozinha, lavei minhas mãos e fui preparar um café para mim. Diferentemente da maioria dos britânicos, o café mais doce possível era a melhor opção, mas também, nunca recusaria um porção do líquido marrom sem açúcar. Café é café. Gostoso em qualquer situação.
Virei a xícara num gole só e comecei a arrumar a casa, pois passei uma semana na minha terra natal, ou seja, precisava fazer uma faxina. Pedi a Giulla, minha vizinha para vir de vez em quando aqui em casa abrir um pouco as janelas, dar comida a Khya, acariciá-la e regar as plantas.
E olhando para o meu quintal dava para ver que minha amiga havia cumprido com sua palavra pois nenhuma planta da indícios de estar murchando ou muito seca. Vou lembrar de agradecê-la novamente.
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Jennie Kim, Londres, 01:17(pm)
Pousei mas não tive coragem de sair do aeroporto ainda. Comia um muffin e um café numa lanchonete qualquer. Eu adorava café, principalmente o de Londres. Por mais que gostasse de cafés doces, o café londrino era meu favorito. Forte e tradicional. Gosto também dele por ser ideal para ressacas e que agora era o meu caso. Comia o muffin só para encher o estômago para mais tarde tomar um remédio para dor que eu sabia que viria e não acabar vomitando.
Rondei mais um pouco pela estação quando terminei meu muffin. E agora ainda tomando o café que não havia terminado anteriormente no estabelecimento, aprecio um trabalho de um grupo de estudantes de arte duma escola famosa voltada apenas para arte. Muitos dos quadros retratavam algo semelhante, a apresentação devia ter um tema então, e apenas eu não prestei atenção. Mas o que mais me chamou atenção mesmo foram as esculturas. Depois da música e dança, as artes tridimensionais eram as minhas prediletas. E uma naquela sala reservada para a exposição me chamou atenção.
A maneira com que o artista fez a peça de gesso retratar a leveza de um véu sobre uma moça cuja a aparência por mais bela que seja, não aparentava estar muito feliz, era surreal. Não que ela estivesse triste, ela simplesmente não exalava emoção. É como se eu me visse ali. Uma espécie de espelho. A falta de expressão demonstrava o vazio que eu estava sentindo. É difícil sem as meninas aqui, foram um pouco mais de oito anos vivendo e trabalhando juntas, eu sinto falta delas. O véu para mim simbolizava a cegueira que esse vazio trouxe, até por que, eu não consigo achar uma solução para esse oco que habita em mim, não consigo encontrar algo que o preencha. Talvez pelo fato de eu estar a maior parte do tempo bêbada ou tentando ficar faça com que eu desvie do meu foco.
Mas é isso que me preocupa. Qual é o meu foco? Por que este é meu foco? Como vou consegui-lo? Onde vou consegui-lo? Quando vou consegui-lo? Eu tenho um foco?
Pego um pequeno caderno que lembrei de colocar na bolsa e começo a anotar todas essas perguntas que me pertubavam, quem sabe assim eu talvez consiga transfoma-la em algum impulso para fazer o que realmente quero, isso se eu lembrar da existência desta página onde eu escrevo... Ah! quase ía me esquecendo de anotar o nome da obra...
Necessidade de um apocalipse, Alencar, Escola profissionalizante de artes Renard
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Olá, como vão?
Só queria passar aqui para avisar que vou tentar postar um capítulo a cada quinzena.
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coffee, jennie kim
RandomJennie era uma garota sensível, durante sua carreira no girl group de kpop, Blackpink, era Jisoo quem a ajudava em suas crises, porém agora separadas pelo disband unilateral por parte de Jennie, a Kim se internou num hospital psiquiátrico em Londres...