MINHA JOIA

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Um passo de cada vez e consigo ver os meus sapatos, primeiro o direto depois o esquerdo, passos lentos porém firmes, meus pés já conhecem bem esse caminho. Em frente a loja de docinhos um declive de acessibilidade para cadeirantes, dez passos a frente uma marquise sobe a loja de sapatos, ao lado dessa, a livraria e do outro lado da calçada a loja de joias, com letreiros simples, portas de vido, um balcão rustico de madeira e vidro onde também são expostas as joias, compondo uma bela mistura do delicado e o rustico, o que transmite a personalidade dos donos. O senhor na altura de seus quase 70 anos parece bem humorado, sempre sorridente e atencioso com todos, a julgar por suas peças parece uma pessoa delicada, pois é preciso delicadeza para fabricar peças tão perfeitas com as próprias mãos, há quem diga que sua loja é a mais cara da região, mas verdade seja dita suas peças são únicas, você jamais verá joias parecidas em outro lugar no mundo, ninguém é capaz de lidar com a manipulação do ouro e pedras preciosas com tanta delicadeza como eles. Seu filho embora faça coisas tão linda quanto o pai, parece imprimir sua própria personalidade nas joias, graciosamente brutas, as vezes fosca, as vezes brilhante, mas sempre imprimindo característica que deixa claro quem as fez, não parece ter bom humor, nunca o vi sorrir, nunca pude ouvir sua voz, sempre de senho serrado e focado em suas tarefas, jamais me deu um misero tostão de seu olhar.

Como de costume entro na livraria com a desculpa de encontrar uma raridade no corredor dos cebos, pois esse corredor me dava uma visão privilegiada da joia que eu mais admirava na quela loja, Vegas. Ele gosta de usar preto e tem apego por sua jaqueta de couro fosco e zíper prateado.

- Fuuu - Sinto um sopro em meu ouvido que me tira a concentração, nem preciso olhar para o lado para saber quem é.

- Então é isso? vai passar o dia inteiro aqui nesse corredor admirando sua joia?- Ele pergunta com tom zombeteiro.

- Você sabe que esse momento é sagrado e eu ainda tenho alguns minutos, quem sabe é hoje que ele olha para a porta e eu posso finalmente admirar aqueles olhos lindo. - Falo isso com os olhos ainda fitados em minha joia.

- É meu amigo, acho que não será hoje, ele já foi para o interior da loja e seus olhos ainda não tem o poder de enxergar através da parede. mas... se... você quiser eu posso dar um jeito nisso. - Falou ele como se tivesse algum poder especial.

- Meu tempo está se esgotando, preciso ir. Vamos! e vê se fica quieto,  hoje tenho muito trabalho burocrático a fazer e você nunca quer me ajudar com isso. - Falo mostrando chateação.

- Ah, vamos, quando é que você vai me dar uma chance de te mostrar tudo que posso fazer? - Ele fala com voz manhosa tentando me convencer.

- Com certeza não será hoje- Coloco meus óculos escuros e saio da loja olhando para meus sapatos como antes de entrar.

passando da livraria ando mais 30 passos e viro a esquina, atravesso a rua e lá está a fachada da empresa da minha família. um prédio enorme de 13 andares e muita ocupação para minha cabeça, não posso me queixar, melhor que não ter nada para fazer, por anos foram essas preocupações que me salvaram de mim mesmo.

- Uee, você não veio mesmo né? Então, hoje estarei só, vai ser mais fácil focar.- Pensei comigo.

- Bom dia senhor Pete! - Me cumprimenta a recepcionista no rol da entrada enquanto me entrega o crachá.

- Bom dia! - Respondo com um sorriso sem dentes e um leve aceno com a cabeça, recebendo meu crachá siguindo para o elevador.

Ao entra no elevador aperto o 7 que é meu andar e sigo para minha sala, para passar mais de 8 horas em uma mesa atrás de papeis, assinar, lê, analisar, separar, revisar e tudo mais que esse dia requer de mim.

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