Dylan tirava as últimas coisas das caixas de mudança que abarrotavam seu novo quarto, não que tudo ali fosse exatamente novo, as cortinas e paredes do quarto estavam exatamente iguais como a garota tinha deixado alguns anos antes. Era estranho estar de volta depois de um bom tempo sendo "independente" no internato que estudava, sabia que ia sentir saudades de lá e de seus amigos, mas não tinha outra escolha a doença de seu pai piorava a cada dia e não sabiam quanto tempo ele ainda tinha, só sabiam que não era somente a irmã e os avós da Dylan que teriam que carregar esse fardo, ela também deveria. Desde a morte da mãe das garotas o pai delas nunca foi o mesmo e sabiam que essa tinha sido um dos estopins para a doença dele. O Sr. Melindrois cuidou de suas filhas, mas não podemos dizer que foi um bom pai pelo seu estado, as duas meninas recebiam apoio de seus avós aos quais são completamente apegadas.
Dylan foi tirada de seus pensamentos quando escutou barulhos e um grito vindos da cozinha onde sua irmã e seu pai estavam, saiu correndo para ver o que havia ocorrido, encontrando a cozinha cheia de cacos de vidro espalhados pelo chão e seu pai estava tendo um ataque nervoso enquanto gritava com a irmã de Dylan que ao ver a cena andou até ele tentando acalmá-lo, sentou-o em uma das cadeiras que havia no local enquanto ele ainda resmungava coisas desconexas.
- Oh Maggie, A Maggie ela... - Sr. Melindrois resmungava olhando para o nada, mas então ele olhou para a Dylan e começou a acariciar o rosto da filha que estranhou o gesto e tentou se afastar, mas algo a impediu de fazê-lo. - Maggie, elas tentam me matar, Maggie, eu não posso ficar aqui... Devemos ir embora, Maggie. Não... Não...
Dylan não sabia mais como reagir ao ser chamada pelo nome da mãe, fazia tanto tempo que tentava não tocar no assunto que agora era como se abrissem uma ferida mal cicatrizada na garota. Sentiu lágrimas em seus olhos, mas não chorou.
- Papai, a mamãe já se foi, lembra? Essa é a Dylan, sua filha. - Hope, irmã da Dylan, se aproximou dos dois ao ver que a Dylan não estava mais conseguindo reagir e seu pai poderia acabar em um ataque nervoso novamente separando a Dylan dele.
O pai das garotas continuou a falar coisas desconexas enquanto Hope o ajudava fazendo o que fazia todos os dias, cuidar de seu pai. Dylan sabia o quanto a irmã tinha sacrificado para cuidar do pai delas, por isso ela devia ajudá-la, mas não sabia como e muito menos por onde começar. Dylan se sentia totalmente impotente sobre tudo que ocorria naquela casa e, às vezes, sentia que estava impotente até sobre seu destino, nada mais estava nas mãos da garota e ela sabia que deveria se acostumar com isso para aprender como conseguir cuidar de seu pai, para conseguir sobreviver em casa.
- Eu acho... Eu preciso sair. - Dylan finalmente conseguiu falar em voz alta e assim que o fez saiu praticamente correndo da casa, ela conhecia aquele bairro com as palmas da mão e era ótimo ver que quase nada tinha mudado ali, mesmas casas, mesma vizinhança aquilo era quase um sinal de nostalgia para a ruiva que corria por ali com apenas um destino em mente, um dos únicos locais que ela conseguiria ficar pensando para se deixar ser consumida pela saudade e também pela nostalgia.
Dylan estava sentada em um dos balanços do antigo parque, ela se balançava devagar apenas deixando que o ruído metálico que as correntes faziam embalassem seus pensamentos. Esse parque era poucos quarteirões de distância da sua casa, antigamente ela ia ali todos os dias com sua mãe. Ela e a Hope terminavam qualquer tarefa da escolinha que tivessem e iam para ali se divertir, Dylan odiava como Hope se fazia de muito mais velha e não a deixava brincar nos mesmos brinquedos que ela, sempre mandando Dylan ir pros brinquedos mais infantis mesmo que as duas só tivessem um ano de diferença entre suas idades. Depois de brincarem no parque e com certeza depois de brigarem a mãe das meninas as levava para tomarem sorvete e fazia com que as duas fizessem as pazes. Essa foi uma das melhores épocas da vida de Dylan, mesmo que ela não lembre muito da mãe isso é algo que nunca irá esquecer. Hoje o parque não passa de uma estrutura de metal com muita ferrugem, não tem crianças brincando nem mesmo adultos sentados nos bancos conversando, apenas existiam o esqueleto e as lembranças. A ruiva só voltou ao mundo real quando escutou os barulhos do balanço ao lado do dela e ao olhar para ver quem estava ali viu uma menina de cabelo preto bem escuro em contraste com sua pele branca, a garota se balançava sem nem mesmo perceber a presença da Dylan no local. Dylan começou a devagar em seus pensamentos novamente, mas olhava para a garota e seus pensamentos se voltavam a ela.
- Ahn... Oi? Posso ajudar? - A garota acenou em frente ao rosto de Dylan fazendo-a voltar ao mundo real e também fazendo com que suas bochechas adquirissem um tom rosado por ser percebida pela garota desconhecida. - O quê faz aqui? Quero dizer, não que queira soar rude, mas ninguém vem aqui acabei me acostumando a esse ser meu lugar.
- Desculpe, eu não quis perturbar só queria um lugar para... - Olhou para a garota de cabelos negros ao seu lado e desistiu de completar a frase, pois nem a conhecia e não ia sair falando de sua vida para estranhos. - Nada.
- Esse é meu lugar para nada também... Talvez eu possa dividi-lo com você, se quiser é claro. - A garota sorriu um dos sorrisos mais bonitos e sinceros que Dylan já havia visto. O sorriso dela era de tirar o fôlego de qualquer pessoa e era impossível não desejar que seu sorriso fosse igual aquele. - Aliás, eu me chamo Echo, antes que eu acabe esquecendo.
- Acho que eu gostaria sim de dividir esse local com você. - Dylan falou ainda meio sem fôlego pelo sorriso da garota, mas tentou imitá-lo desistindo ao achar que não chegava aos pés do da garota. - Sou a Dylan.
- Dylan... - Echo repetiu apenas para si mesma como se para nunca mais esquecer e Dylan não entendeu por que, mas gostou de como seu nome era pronunciado por ela. - Você é nova aqui? Se mudou agora?
- Sim e não... É complicado. - Dylan encolheu os ombros, sem querer se adentrar no assunto se não acabaria falando sobre seu pai e não era o que queria. Felizmente Echo não se prolongou, apenas sorriu compreensivamente para a ruiva.
- Onde você estuda?
- Eu vou começar agora na San Miguel Public School, como eu precisei vir para cá agora vou ter que começar no meio do ano letivo. - Dylan voltou a olhar para frente, sabia que ia ser complicado começar agora em uma escola nova e ainda mais ao lembrar que amanhã era seu primeiro dia, ela mal teria tempo para se preparar psicologicamente para aquilo. Ela sabia que não ia ser fácil e morria de medo do que poderia ocorrer.
- Não se preocupe, vai ser legal. Não somos os mauricinhos da West. - Echo riu do que havia acabado de falar como se houvesse alguma piada na frase, tal piada que a Dylan não conseguiu entender, mas a ruiva conseguiu sorrir ao perceber que veria a Echo novamente na aula de amanhã e em todo o resto do ano letivo.
- Você estuda lá? Amanhã não vai ser tão ruim assim. - Dylan sorriu olhando diretamente para a garota que retribuiu o sorriso e as duas ficaram um tempo assim, apenas olhando uma para outra, sem entender bem o porquê daquilo, mas o silêncio não era incômodo entre elas e sim reconfortante era estranho como elas se entendiam até silenciosamente.
- Eu preciso ir, está tarde. Te vejo amanhã, Dylan. - Echo falou de repente se levantando e quebrando a comunicação silenciosa das duas bruscamente fazendo com que a Dylan se assustasse e apenas conseguisse acenar para a garota numa despedida apresada e sem jeito. Dylan ficou por ali ainda por algum tempo pensando na menina que tinha acabado de conhecer, mas ao perceber que a cada minuto a rua ficava mais escura decidiu ir logo para casa.
Tentou fazer o menor barulho possível ao entrar em casa, não estava afim de perturbar ninguém ou influenciar em um dos ataques de seu pai, ela já havia sido um fardo grande o suficiente naquele dia e precisava melhorar se não quisesse continuar como mais um fardo ali para sua irmã e seus avós. Quando estava no internato era diferente, eles não tinham que se preocupar com ela, só mandavam notícias uma vez ou outra e tudo certo, Dylan não reclamava disso. Agora eles tinham que realmente cuidar dela. Dylan viu alguns pedaços de vidro ainda pelo chão da cozinha e corredor, sabia que sua irmã talvez não tivesse conseguido limpar direito por causa do seu pai e para se sentir útil catou os pedaços que viu e jogou-os no lixo. Quando foi subir as escadas para o seu quarto Dylan viu Hope sentada no sofá da sala e decidiu se sentar ao lado da irmã, sem falar nada, apenas abraçou a mais velha que retribuiu o gesto.
- Obrigada, Dy. - Hope sussurrou e Dylan mostrou um sorriso quase forçado para a irmã, Dylan não estava ajudando em nada e se sentia horrível por isso, então não sabia por que a irmã a estava agradecendo se ela não estava fazendo nada para ajudar. Ficaram ali por um bom tempo abraçadas e assistindo qualquer porcaria que estava passando na televisão. Dylan não conseguia parar de pensar no tempo em que elas duas não estavam imersas nesses problemas, quando a pior coisa que podia ocorrer era uma estar assistindo televisão na hora do desenho favorito da outra só para implicar, agora elas não sabiam o que de pior podia ocorrer, mas nenhuma das duas queria descobrir. Acabaram dormindo abraçadas no sofá, não parecia nada confortável a posição que elas estavam, mas para elas não havia nada mais confortável que aquele momento.
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It was a Goodbye;
Romance"Talvez minha história não seja diferente de outras várias histórias, talvez essas outras fossem até melhores. Isso não é mais um romance bonitinho onde os protagonistas vivem felizes para sempre, isso é a vida real e nada é tão simples e descomplic...
