Uma vez Alícia me disse que rolou uma química entre a gente, passamos a tarde toda conversando sobre livros de romance. Foi realmente incrível ver sua empolgação, mas apesar dos bons momentos, a tal da química insistiu em martelar no meu cérebro como uma música chiclete, que mesmo que você não goste, está lembrando dela.
Os dias passaram, continuamos conversando e marcamos um cinema. Não sabia o que vestir, estava nervoso, as mãos suando, o corpo tremendo…foi nesse momento que a porta do meu quarto se abriu revelando minha melhor amiga reclamando da minha demora:
— RODRIGOOOOO! RAPAZ, DESSE JEITO VAI SE ATRASAR! Sai desse quarto.
— Estou indeciso, sabe aquela música “ com que roupa eu vou? No samba que você me convidou…”? Não sei se esta camisa está boa, estou formal? Devo trocar a calça? O que direi a ela? Será que vamos falar sobre filmes? Estou perdido…
— Amigo, a tua sorte é que estou aqui. “Repita comigo: sou bonito, inteligente, agradável, vai dar tudo certo!”
— Voce tem certeza?
— ABSOLUTA!!! Agora se olha no espelho, sorria e vá ao cinema.
— Obrigado pelas palavras! Você sempre sabe como me acalmar, depois te conto tudo. — Abracei Rafaela agora mais tranquilo.
—
A noite estava fresquinha, combinamos de ir no shopping via catarina porque era mais em conta e pela proximidade das nossas casas. Entrei no shopping, subi as escadas, olhei por todos lados e não encontrei a Alícia. Abri o whatsapp e enviei uma mensagem dizendo que já havia chego no lugar no cinema, mas nada dela responder. A aflição começou a tomar conta de mim novamente, estava suando, quando olhei para o sorvete a vi.
Alicia estava deslumbrante, seus cabelos encaracolados foram delicadamente trançados, usava um vestido azul e um casaco rendado e o mais importante: seu rosto estava radiante, um olhar que parecia brilhar combinado com um sorriso que me fez sorrir de volta.
— Vamos comprar um sorvete ou pipoca? — Alícia me tirou do mundo dos pensamentos.
— Ah, o que preferir, digo, pipoca. — Foi o que consegui dizer.
Enquanto esperávamos na fila da pipoca, Alícia retoma a conversa da química que existe entre nós e já que a fila estava grande, aproveitamos para conversar.
— Rodrigo, pelas nossas conversas e pelo pouco que te conheço acho que existe uma química legal entre a gente, digo isso, porque você faz rir, me ajuda, está sempre comigo, se mostra presente, sabe. Me entende, consegue ver quando não estou bem e também sorri quando me vê bem.
— Alícia, você foi uma das melhores pessoas que já conheci e fico muito feliz de saber que me vê desse jeito. Posso te contar uma coisa? Eu pareço um cara simpático, organizado, mas antes de vir para cá eu estava muito nervoso. Ouvir essas palavras de você deixa meu coração quentinho, obrigado. — A puxei para um abraço de urso, que de preferência não tivesse fim.
— E isso não que é química, Rodrigo? Tenho certeza que é. E tenho certeza que é a melhor química que pode acontecer. — Alícia comentou ainda abraçada comigo.
— Então, confesso que não sei muito de química, mas minha melhor amiga poderá responder.
Nesse momento Alícia me olhou no fundo dos meus olhos, analisou meu rosto e perguntou visualmente tímida:
— Se a Rafaela é tua melhor amiga, eu sou o que?
— Namorada. — Falei num tom de voz seguro, era como se todo o nervosismo tivesse desaparecido e no lugar dele, surgisse uma sensação inexplicável de conforto e alegria. Observei que Alicia não havia dito mais nada, então, beijei seus lábios rapidamente.
— Voce não perguntou, mas sim! Aceito ser sua namorada. Confesso que eu pensei em te pedir em namoro, mas ainda bem você tomou iniciativa.
— Casal, a moça está chamando vocês! — um homem que estava atrás da gente nos alertou para comprarmos a pipoca.
—
O filme estava ótimo, mas o melhor foi a companhia da Alícia. Fomos para minha casa, pedimos uma pizza e chamei a Rafaela. Conversamos sobre o filme, sobre o nosso namoro e perguntei sobre a tal química para Rafaela.
— Gente, eu passo a semana toda estudando Química, quando finalmente chega o final de semana vocês me perguntam da bonita? Tem outros assuntos para serem ditos, por exemplo, Rodrigo, você beijou ela por quantos segundos? Brincadeira! Parabéns pelo namoro, estava rezando para que ele esse reunisse coragem suficiente para te pedir em namoro….ou pelo menos a mesma coragem que ele tem para estudar engenharia de telecomunicações…..
— Olha, em minha defesa, não sou o nerd, que só tira notas boas, mas você, Rafaela, você sim, sabe de química como ninguém. Por isso explica para gente o que é química?
— Alícia, está vendo como seu namorado é teimoso? Não tenho um segundo de paz. Se vocês realmente querem saber, vou falar. Química estuda a transformação da matéria. Eu posso analisar a água, o sangue, aprendo a separar misturas, estudo que substâncias reagem, como reagem, porque, e lá vai…
— Sim, mas eu estava falando da química que rola entre a gente, não essa química que você estuda. Poderia explicar? — Alicia pediu curiosa.
— Beleza, a "química" que vocês estão falando na verdade é o relacionamento de vocês, a forma como vocês se comportam e se sentem perto e em relação ao outro. Vocês se sentem bem juntos, certo? Se eu for realmente explicar isso, poderia dizer que é biologia e química, na verdade. Porque vocês são seres vivos e em seus corpos estão ocorrendo um zilhão de reações químicas neste exato momento. Tem hormônios que são liberados e que nos fazem sentir algumas sensações, como as que vocês estão experimentando agora. Já ouviram falar em endorfina? Progesterona, Testosterona? são todos hormônios. Esses hormônios nos fazem sentir prazer, alegria. Imaginem quando vocês fazem algo que gostam, como praticar uma atividade física, vocês sentem um bem-estar, certo?
— Poxa vida, Rafa! E depois quer dizer que não é nerd! — Resmusguei brincando com ela.
— A melhor parte é que com certeza eu falei algo errado e voces nem perceberam… gente, sério vão estudar. pesquisem , leiam mais, o mundo precisa de mais pessoas pesquisadoras e leitoras.
— Estava demorando para ela filosofar. — Falei rindo.
— Ué, até parece que não me conhece, se não filosofar, não sou eu.
A conversa sobre Química estava boa, as horas passaram, e levei Alicia em casa. Porém, agora, dormiria mais feliz, porque sabia que a Alícia, estudante de Pedagogia, era minha namorada, eu passaria o resto dos meus dias liberando e produzindo hormônios das felicidade e do coração apaixonado.