Prólogo

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Konohagakure no Sato;
Distrito Uchiha

Quatro meses sem você

  “Era numa noite de quarta-feira, a chuva caia de forma violenta atingindo as poucas pessoas que transitavam naquela rua pouco iluminada pelos postes da vila.
Uns se esbarravam nos outros enquanto corriam tentando não se molhar com as gotas frias, outros somente entravam em lojas para escaparem, esperando que a chuva desse seu fim.
  Eu só admirava as gotas caindo daquele céu escuro, sentindo o cheiro de terra molhada invadir minhas narinas vermelhas por conta de uma gripe enquanto segurava uma sacola com um livro de um romance clichê. Para quem achava que alguém como eu leria um livro de ficção científica, aventuras ou uma biografia autorizada de shinobis lendários, não imaginaria que o gênero de romance e drama fazem mais parte da minha prateleira de livros. Até que gostava bastante desse hobby, mas eu nunca tinha imaginado que um dia viveria algo assim, não que eu não acreditasse nisso. Bem, não é como se acontecesse isso todo dia num mundo onde a paz nem sempre é predominante.
  E por um acaso ou o destino — em minha imaginação fértil e clichê, prefiro acreditar na segunda sentença — foi naquele exato momento em que eu vi você. Poderia lhe dizer que foi como em uma cena de um filme daqueles bem clichês, em que o protagonista se apaixona de imediato na mocinha ou até mesmo um imprinting com a chuva dando um aspecto melodramático na cena. Patético, eu sei, mas quem liga?
  Me considerava um homem romântico e não tenho vergonha em admitir isso. Bom… não é como se eu fosse espalhar isso aos quatro ventos, entretanto.
  Do outro lado da rua você saia de um bar — pensando bem, o início pode até não ser tão romântico assim, mas posso corroborar para você que foi bem interessante —, com as vestimentas da Anbu e o cabelo com uma cor inconfundível. Os fios curtos balançavam enquanto arrastavam até os ombros, um olhar indiferente e felino que contrastava com a cor clara dos olhos grandes. Você era fantástica e isso era indubitável. Com duas garrafas de sakê em cada mão você andava com o pequeno nariz arrebitado, como se a rua fosse somente sua. Eu sabia, entretanto, que por mais que não fosse uma paixão como em um filme, eu sentia que havia algo de importante que envolvia você e, fiquei com desejo de conhecê-la melhor.
  Soube pela minha mãe, quando mais jovem, que você era filha de falecidos heróis de Konoha. Sua fama sempre esteve presente desde que nasceu, entretanto, sua personalidade fria e resoluta esteve ao seu lado logo após a morte de seus pais, ou seja, desde quando era apenas uma criança inocente. Eu não sabia sobre toda sua história, não porque não quis, mas não era algo que eu me interessasse e também porque não era da minha conta… Era assim que eu pensava.
  Até naquele momento, é claro. Porque eu queria saber mais sobre você, sobre sua vida, o que gosta ou não gosta, o que faz fora da Anbu ou deixa de fazer. Era algo mais forte que eu, e eu não conseguia driblar isso, fazendo-me sentir um bobo-patético. Claro que já nos esbarramos algumas vezes no corredor da torre Hokage e ou quando o time sete se reunia e nós nos comprimentávamos trivialmente, porque você, querida, preferia ficar em sua própria bolha. Reclusa. Sozinha. E o fato de nunca ter aparecido lá em casa em um encontro do time sete também não me surpreendia em nada. E, como já não era mais o líder da Anbu porque, em breve me tornaria o líder do meu clã, não poderia entrar como bem entendesse no meu antigo escritório e vasculhar seus relatórios das missões que você participou. Por mais que fosse tentador, já não tinha mais esse direito, o que me frustrou um pouco. Ah, pode me chamar de louco por isso, se quiser. Eu me senti um lunático por segui-la naquela noite chuvosa que nem um cão farejador. O quão errado era aquilo?, mas não me importei com isso e continuei adiante, só que me arrependi logo em seguida.
  Me senti um intruso ao vê-la diante às lápides dos seus pais, aquilo não era certo. Minha mente dizia para sair dali, mas meus pés diziam o contrário.
  Então eu fiquei, eu fiquei, Sakura, porque queria que você parasse de chorar enquanto bebia pelo gargalo da garrafa, não se importando com a chuva gelada que a molhava ou se pegasse um resfriado. Eu queria somente dizer para você de que não estava sozinha, que tinha pessoas ao seu redor que a amavam e que queriam vê-la bem, queria dizer que eu estava ali por você. Mas não podia, não podia porque não éramos tão íntimos assim. Porque éramos dois estranhos um para o outro. E eu me recriminei por não tê-la conhecido melhor antes, por não ter me aproximado de você porque, naquele momento eu queria abraçá-la e secar suas lágrimas enquanto dizia que você tinha a mim. Que você tinha um ombro a quem encostar sua cabeça e chorar até cansar.
  Eu sabia que era estranho, muito estranho eu querer aquilo já que eu nem a conhecia direito, mas era mais forte que eu, querida. Era mais forte do que eu.
  Eu não me lembro por quanto tempo que nós ficamos ali, você chorando baixinho e eu te observando, escondido. Mas quando você caiu ao chão eu não pude ficar só olhando. Você desmaiou por fortes emoções — segundo a própria Hokage que a examinou — porque naquele dia era o aniversário da morte dos seus pais. Eu podia ver nitidamente o olhar analítico, curioso da Godaime, quando perguntei o motivo do seu desmaio, e tirando a resposta de minha pergunta ela não perguntou o porquê de minha curiosidade repentina para com você. E eu agradeci por isso, pois não sabia o que responder. Depois desse episódio eu a visitei na manhã seguinte, sei que fui rápido demais e que pareci ansioso que nem um adolescente, mas pouco me importei com isso, pois eu precisava ver como você estava. E foi por pouco que eu não a vi porque você já estava saindo do quarto vestida de outro jeito e com um ar mais leve. Você ficou surpresa quando me viu ali, parado em sua frente e eu… bem, eu fiquei encantado com o verde que eram seus olhos. Eram brilhantes, grandes. Nunca tinha reparado antes o quanto eram lindos.
Ah, tive tanta sorte por ter controle com minhas expressões, Sakura.
  Mas eu, patético, não sabia o que dizer, porque eu travei, Sakura. E eu queria era saber ler mentes naquela hora, eu queria saber o que você pensou sobre Uchiha Itachi estar que nem um bobo parado naquela porta. Mas você foi mais rápida que eu, tratando logo de me agradecer junto com um baixar leve de cabeça e logo se desculpando pelo incômodo que me causou. Mas sabe, querida, não foi nenhum incômodo, obviamente. Eu senti como se alguém tivesse me empurrado de leve com as duas mãos em minhas costas, fazendo-me criar coragem de convidá-la para um café da manhã, em um lugar mais discreto de Konoha — muitas pessoas da vila são curiosas e fofoqueiras, e claro que boatos criados pelos próprios surgiriam ao nos verem juntos, não queria assustá-la com isso —. Se minha presença naquela porta já arrancou uma expressão de surpresa num rosto sempre tão indiferente, meu convite sem um motivo aparente a deixou mais ainda, e eu me senti um pouco desconfortável com isso. Talvez porque meu pedido soou mais como uma ordem, mas não dei tanta importância com meu mau jeito, pois você aceitou, mesmo que hesitante, mas aceitou. E eu, é claro, me senti aliviado, e contente — por mais que não conseguisse expressar isso muito bem em meu rosto. Todavia, esperta como era, você sabia que minhas bochechas rubras e levemente rosadas diziam muito.
  Eu ainda me lembro da fragrância do seu perfume naquela manhã: era de um pêssego aveludado, suave e viciante. Você toda era, Sakura. Por que eu não tinha reparado nisso antes?
Me desculpe por isso, talvez se minha companhia tivesse a cercado antes, você não teria se sentido tão solitária.
  Eu sei que se você soubesse que eu me culpo por isso, levaria uma bronca de você o dia inteiro. Posso até imaginar sua voz me chamando de idiota agora.
Também me lembro de suas bochechas atingirem um tom rosado, adorável, ao me ver fazer um simples gesto de puxar a cadeira para você se sentar. Acho que era uma mania que peguei do meu pai ao sempre vê-lo fazer com a minha mãe. Ela sente sua falta, meu amor… e eu também.
  Naquele dia, não tinha imaginado que, acompanhados por duas xícaras de chá e suflê de maçã, a nossa conversa renderia tanto assim. E isto, porém, não digo pelo tempo dela — até porque a graça de sua companhia não durou mais que três minutos: você tinha uma missão naquele dia — e, sim, porque ficamos de nos encontrarmos novamente dali a alguns dias. E quem fez o convite foi você, meu bem; e não imaginas o quanto fiquei ansioso a semana inteira, fato que nunca aconteceu antes, vale ressaltar.
  Me pergunto o que você pensou sobre mim naquele dia: você achou-me interessante?, posso dizer que sim, afinal uma mulher incrível como você não me convidaria para um próximo encontro se não achasse minha companhia pelo menos agradável. Mas você ficou tão ansiosa quanto eu para o nosso segundo encontro, Sakura?, infelizmente não tenho uma resposta para isso, mas só de reencontrar você após dias sem nos vermos fez toda minha ansiedade ir embora e meu coração errar uma batida. Era como se mil borboletas batessem suas asas em meu estômago, fazendo-me perder o fôlego.
  Fico com vergonha só de lembrar… Muito piegas, não?
   Mas foi isso que sua presença causou em mim e eu fiquei me perguntando o que estava acontecendo comigo. Não, o que você estava fazendo comigo, porque não era normal, eu sabia disso… Tive que me controlar para não tocá-la, porque eu queria sentir a sua pele, queria saber se era macia e eu até pensei que ao fazer isso você não escaparia de mim. Que simplesmente não evaporasse como em um passo de mágica à minha frente. Você estava tão magnífica naquela noite que até a lua cheia sentiria inveja da sua beleza. Será que sabes o impacto que você causou em mim, meu amor?
  Acho que você riu por dentro ao me ver tão patético daquele jeito, mas a culpa foi sua porque só você que conseguia me deixar assim, como um adolescente com os hormônios à flor da pele. Muito injusto, não acha?
  Porque, embora você estivesse mais relaxada e solta comigo, ainda assim conseguia controlar suas expressões melhor do que eu. Embora os Uchiha tenham fama de serem frios, você ganhava de lavada em todos. Então fiquei surpreso de vê-la tão leve comigo, como se realmente gostasse de minha companhia.
  Você… não faz ideia do quanto sou louco por você, Sakura. Você é o ar que respiro e, mesmo não estando mais aqui comigo, quando eu fecho os olhos e me concentro eu consigo sentir seu toque através da leve brisa que entra pela porta-janela do nosso escritório. E pela minha memória olfativa eu consigo sentir seu perfume gostoso, que está empregado aqui no escritório e no nosso quarto — tênue, tão tênue que me sinto desesperado ao perceber que logo irá sumir. Assim como você.
  Eu estou com saudades, meu amor. Já não sinto mais fome e nem sono... acho que vou enlouquecer.
Por que você foi embora? Isso é uma punição? Eu te fiz algo errado?
Nunca estive tão desesperado como agora, então por que você não volta?
  Você sabe dos meus sentimentos por você, Sakura.”







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