Capítulo dois

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País das Jadeítas;
anos depois

   O sininho acima da porta do estabelecimento soou assim que a abriu e passou por ela. Revirando os olhos internamente ele ignorou os olhares sobre si e se sentou numa banqueta, pedindo um drink forte ao barman de fuça esnobe para aplacar o frustramento de mais uma busca falha num país tão diferente dos demais.
  Ponderou seriamente em jogar as mãos para o alto e regressar seriamente ao seu lar sempre tão aconchegante, mas a ideia de ter que tentar se acostumar definitivamente ao novo comportamento frio do irmão não lhe caia nada bem. Há um tempo atrás Sasuke tinha até mesmo pensado de que seu irmão precisava mesmo era de boceta para aplacar a solidão, talvez até mesmo com isso ele voltasse a ser gente normal, mas concluiu de que se esse pensamento saísse por sua boca de jamanta e caísse aos ouvidos do irmão, Sasuke estaria em coma até agora. Talvez Sasuke entendesse o comportamento do mais velho se ele já tivesse amado alguém como Itachi amou, e ainda obviamente ama, a Uchiha desaparecida; Mas a vontade de amarrar seu bode é igualada a zero... Ser conhecido como "O tio galinha'' já estava de bom tamanho, na verdade.
  Para quê ter só uma se pode ter tantas?, essa era a sua filosofia de vida, não a abandonaria por nada.
  Sorriu de canto, bebendo seu segundo copo do drink que desceu queimando em sua garganta.
— Aaargh… Trabalhei tanto hoje que até suei no cu — dois velhos, aparentemente trabalhadores, se sentaram respectivamente nas banquetas ao lado de Sasuke de forma desleixada. Sasuke quase se engasgou com aquela revelação.
— Não é de me admirar o cheiro de bosta, seu cuzão. Arremessa dois canecão de cerveja aí, Dong-Sun. Quero beber até o cu fazer bico e o galo cantar — o coroa do barman riu, claramente se divertindo com os dois clientes.
— Só tome cuidado para não levar um coice da cavala da sua patroa, seu corno. Qualquer hora ela aparece aí, te levando arrastado pelas pelancas no meio do asfalto quente, Kido — este bebeu o primeiro gole da cerveja como se fosse água, o outro apenas riu.
  Sasuke suspirou contido, pensando em que ponto chegou da vida para estar escutando conversa alheia, daqueles dois idiotas. Sasuke ainda se surpreendeu pelos dois bebuns falarem o seu idioma natal, já que o mesmo se irritou quando tentou mais cedo, em vão, entender a língua daquele povo quando respondiam, ou tentavam, as suas perguntas.
— Tô achando que aquela égua velha prefere mais aquela família que caga dinheiro do que a mim, seu marido boa pinta — o outro riu do amigo — Até pensei em pedir qualquer trabalho para aquela gente engomadinha, porque não estou mais aguentando esse emprego atual. Trabalhar para pobre é pedir esmolas para dois, Min-Jung.
— Eu que o diga! — Min-Jung bateu o copo grande na mesa, pedindo por mais — Ouvi dizer por aí que aquele amigo do Haruki-San, o de cabeça lilás, se casou com a neta do velho Kiza-Sama. Não sei a história toda, mas o cara levou a sorte grande. Coisa assim não acontece comigo… Desgraça de vida.
— Ah, o velho deserdou o único filho após o coitado ter traído a própria noiva se relacionando romanticamente com uma plebéia qualquer. Após os dois desaparecerem do país, o velho ficou sabendo por bocas alheias anos mais tarde que teria mais um neto, mas o rabugento estava rancoroso demais para ter qualquer vontade de conhecer a criança. Mas parece que Kiza-Sama se arrependeu anos depois e, depois de anos de busca, conseguiu não somente encontrá-la numa das cinco grandes nações, como também descobrir que seu filho, antes de morrer junto da esposa, foi o líder de Kono… Kono alguma coisa — contou Kido, como quem não quer nada.
  Qualquer desânimo que Sasuke sentia antes se evaporou ao escutar as últimas frases daquela história dramática.
— Konohagakure no Sato… a Vila da Folha? Aigo! — disse Min-Jung espantado, completando o raciocínio do outro que assentiu veementemente.
— Hm… isso mesmo. Além de ser gostosa e ter cabelos rosa, a garota… essa mulher é uma ninja de elite, médica e um par de outras coisas que eu nem entendo. Mas te digo outra coisa: Haruki ganhou uma rival e tanto, não acha?
  O outro riu em escárnio. O cérebro de Sasuke ia fritando tanto que jurou que ia cair do banco a qualquer momento.
— Essa menina pode ser o que for, mas acho difícil ela vencer o próprio irmão. O maluco é um gênio! Você sabe que para nascer com o poder do clã não pode haver miscigenação, e a garota é filha de gente de fora. Uma qualquer para as pessoas daquela família — Min-Jung respondeu com descaso.
— O velho não a teria procurado por anos caso a garota não fosse importante para ele. Mas o incesto naquela família é dos brabos, viu? — caíram na gargalhada — O surubão rolou à solta!
— É levar para o matadouro e meter o créu — completou Min-Jung, gargalhando.
  Sasuke quis se estapear na testa naquele momento, para não fazê-lo ele pediu mais outra dose da bebida.
— Ah, nesse caso o malandro do Niki foi bem rápido traçando a irmã do amigo. Ela só chegou há mais de dois anos se não me engano — “Os anos batem com o tempo de sumiço de Sakura”, pensou Sasuke retesando-se no banco —, e já engataram um romance… para a alegria do velho Kiza-Sama e para a desgraça do Haruki-San. Mal ganhou uma irmã e já a perdeu para o próprio amigo. Inclusive os dois já têm uma filha, até — o homem chifrudo, Kido, segundo Sasuke, continuou com as fofocas. Sasuke sentiu calafrios sinistros dançarem em seu corpo.
— Tsk! Isso é um exagero, não é como se Haruki tivesse um coração mesmo. Aquele lá só ama a si mesmo e a corna da mãe dele. Inclusive a velha está bem doente, coitada. Imagine o que ela sentiu quando a filha bastarda da mulher que traçou seu noivo chegou com o “ar das graças” no casarão.
— Isso está parecendo aqueles dramas da televisão — ele arrotou, fazendo seu amigo tampar o nariz. Sasuke sentia sua pálpebra esquerda tremer em um tique.
— Inclusive, a sua patroa trabalha para eles, né? Com o quê? Quem sabe tem uma vaga para mim lá também, como segurança talvez. — perguntou Min-Jung.
— Hum, ela cuida da criança deles, como uma babá. Pagam muito bem, na verdade. A vaca ganha mais que eu — resmungou ele e o outro riu — Ah! Me lembrei, minha patroa me disse que acha que a criança não é filha do Niki.
— Eeeeh! Por que ela acha isso?
— Por causa da cor dos olhos e do cabelo — diante a curiosidade de Min-Jung, Kido complementou: — São escuros como a noite.

  Pondo as notas de dinheiro em cima do balcão, Sasuke deixou o estabelecimento — transtornado seria um eufemismo para o que sentia agora — e esgueirou-se para um beco escuro, próximo o suficiente do estabelecimento. Coincidência ou não, obviamente não poderia ignorar o que batucava em sua cabeça e só de imaginar que o que faria mais tarde valeria a pena, qualquer cansaço e frustração iria evaporar como num passe de mágica. Tal como o alívio que cairia lautamente em seu coração. Sua beleza não aguentava mais tanto cansaço, nessas horas é que sentia falta de seus caríssimos produtos de pele.
Os dois saíram pouco cambaleantes do bar, as piadas e provocações saindo de forma grogue e atropeladas pelas bocas baforadas de álcool. Quando se despediram entre xingamentos, certamente de praxe, Sasuke seguiu o “homem corno” pelas ruas já desertas naquele tardio horário, o homem andava em tropeços até chegar numa casa simples e tradicional. Não deu tempo para o velho sequer abrir a porta já que uma mulher de aparência pouco mais nova a abriu de chofre, com um semblante assustador. E ainda sua mãe, dona Mikoto, desejava que seu filho mais novo se casasse… ele não era nem louco de pensar numa coisa dessas!
— Isso são horas de chegar, seu velho? — o que, para Sasuke, não era de se esperar que os ombros do homem se abaixassem, como se estivesse envergonhado ou obviamente com medo — Entre logo antes que eu vire-o do avesso, seu bebum! — ele acatou com a ordem, ainda cambaleante, e sumiu das vistas de Sasuke — E só para avisar: vai dormir no sofá hoje. E não ouse reclamar! Homens… Tsk! São uma perda de tempo.
  Sasuke aproveitou aquela oportunidade, os olhos vermelhos brilhando no escuro e adentrando na mente daquela senhora. Qualquer resquício de rosa, verde e um traseiro bem empinado não lhe restaria dúvidas.
Só que ele viu bem mais que isso.
— Aah… nii-san, até você não escapou de ser corno. Tadinho.

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⏰ Última atualização: Nov 21, 2022 ⏰

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