Freud Said.

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[N/A: Olá, seja bem-vinde a essa one-shot que foi escrita com a influência de Dead Poets Society. Peço perdão por qualquer erro grotesco abaixo, pois o capítulo não foi revisado].

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Eu caminhava pela área externa do Hillerska; gostava de observar as folhas caindo no outono, sentir a brisa em minha face e me atentar aos sons da natureza.

Não nego que o colégio é um lugar lindo; — velho e repleto de tradições, mas ainda sim, lindo — reconheço minha sorte e acima de tudo, privilégio em estudar num colégio tão caro quanto esse.

Entretanto, como tudo aquilo na vida, há uma parte ruim. August e sua trupe de babacas é em grande parte o que tornou minha experiência ruim. Nunca fiz questão de esconder quem sou, o que sou.

Se achando por ter um pouquinho de "sangue azul" em suas veias, o representante de classe se acha no direito de caçoar daqueles cujas condições são menores. Eu me orgulho de ter uma bolsa nesse colégio, pois sei quanto minha mãe trabalha para garantir a vaga dos filhos aqui.

E como se já não fosse muita estupidez zoar com minha cara por ser bolsista, August de Årnäs é um desgraçado homofóbico. Por mais que diariamente eu sinta a necessidade de gritar isso para os quatro ventos, todos dentro dessas paredes antigas já sabem. Alguns até compactuam com seus preconceitos.

Certa vez, Sigmund Freud fez uma indagação: "Quanto de você existe naquilo que você odeia?" E posso dizer que no internato e em August existem no mínimo 65% depois da chegada de Wilhelm.

Quando vi o príncipe pela primeira vez, eu estava ensaiando na sala de música e o peguei me espionando.

— Não deveria estar na aula, Alteza? — Questionei.

— Na verdade não — respondeu, entrou e fechou a porta atrás de si, aproximou-se de mim e do piano. — Eu tenho o resto do dia livre para conhecer a instituição.

— Eu poderia me oferecer para te ajudar nessa missão incrível, mas creio que seu primo já se voluntariou — comentei e então ele assentiu.

— Mas posso levá-lo em um lugar antes do almoço se me permitir, Alteza…

— Vamos assim que você terminar… e por favor, me chame por Wilhelm.

— Certo, Wilhelm. Sou o Simon, a propósito. — sorri e afastei um pouquinho o banco do piano para me levantar. — Vamos lá, já ensaiei o bastante.

Então eu saí na frente e o príncipe me acompanhou discretamente, evitando levantar qualquer suspeita. Descemos os degraus da entrada/saída rapidamente e rimos antes de seguir pelo caminho de pedregulhos até o lago.

— Esse aqui é um dos meus lugares favoritos do Hillerska, Wilhelm. Gosto de vir aqui principalmente quando estou de cabeça cheia porque na maioria das vezes a água está calma e me ajuda a me acalmar também. Muitas pessoas vêm até aqui, mas creio que sou uma das únicas pessoas que enxerga similaridade com esse lago. — Senti seu olhar atento sobre mim e minhas bochechas queimaram um pouquinho — Nós, meros seres humanos, somos como a água desse lago agora. Em paz, harmonia. Em dias difíceis, ficamos mais agitados. Em determinados momentos podemos até transbordar. E com apenas um segundo, mudamos. Essa água não será a mesma na hora do jantar, assim como nós.

— Tenho que concordar, Simon. Não serei o mesmo depois de ter me mostrado seu lugar favorito no internato. Sua forma de enxergar as coisas é muito poética e leve — me elogiou e então sorri.

— Bem, eu sou um poeta medíocre, então enxergo a vida de modo a transformá-la em poesia e música. É para isso que vivo. Todavia, não é por eu ter uma leve visão da vida, que tenho que romantizá-la. Ao mesmo tempo que gosto desse externo, da estética desse ambiente, detesto a hipocrisia, os preconceitos e o quão fácil é rápido pessoas babacas se dão bem aqui e na vida.

— Eu entendo como se sente, Simon. Detesto injustiças. Posso contar um segredo a ti? — Indagou, tímido.

— Claro, Wilhelm.

— Eu não queria ser príncipe e quero muito menos ser rei. É uma responsabilidade tamanha. A qual não estou pronto para lidar e sinto que jamais estarei. Às vezes gostaria de ser como meu irmão… mais seguro de mim, decidido sobre minha vida.

— Se não é isso que você quer, Wilhelm, não tem que ser assim. Você deve viver a vida que você almeja, descobrir o que te instiga, te motiva, aquilo que o faz se sentir vivo — eu digo e o vejo sorrir.

— Eu quero pintar. Ser pintor. Não um "grande" pintor, mas quero fazer minha arte por prazer e viver dela, como um ser humano. Não como a figura perfeita de um príncipe. Por isso eu sempre pintei escondido. Sem o conhecimento de meus pais.

— Tem um outro lugar que preciso mostrar a você! — Eu disse e o puxei pelo braço.

Corremos por entre as árvores, nos afastando a cada minuto do internato. Fomos nos aproximando de uma construção antiga que parecia fazer parte da instituição de ensino há muitos e muitos anos antes de nascermos. Haviam três salas e coincidentemente a do meio costumava ser um ateliê.

Sabendo disso, abri a porta e deixei o garoto explorar aquele ambiente antigo e empoeirado. Ele pareceu não se importar com a sujeira. Agarrou uma tela, ajustou-a num cavalete, retirou um lápis de seu bolso e começou a fazer sua arte.

Devagar, os rabiscos foram ganhando forma, pude ver alguns cachos e metade de meu rosto ilustrado pelas mãos da realeza. Sorri largo, surpreso com um dos talentos ocultos de Wilhelm. Me senti grato por ele compartilhar algo tão íntimo com alguém como eu.

— Wille… por que decidiu compartilhar seu gosto pela pintura comigo? Você mal me conhece — questiono quando estamos refazendo o caminho para o colégio.

— Você fez eu me sentir confortável contigo, Simon. Compartilhou algo seu também. Se abriu comigo para que através de um simples lago eu pudesse conhecer mais sobre você e então eu fiz a mesma coisa.

Eu apenas sorri, grato. Sem saber o que dizer. Conforme o passar dos dias, eventualmente nos tornamos mais próximos e andávamos de mãos dadas algumas vezes. Tínhamos nossos encontros secretos em alguns dos esconderijos da instituição. Eu havia me tornado a grande inspiração para que Wille pudesse criar.

Eu gostava de permanecer acordado aos fins de semana, acompanhando o nascer do sol com xícaras de chá e meu caderno de poesias em mãos, escrevendo estrofes e mais estrofes sobre o amor que sentia pelo garoto e o quão incrível ele me fazia sentir. Gostava de me permitir ser vulnerável com ele.

Gostava de conhecer o amor ao lado dele e me descobrir ao lado do príncipe de sorriso bonito e artista intenso. E então, se eu existo 65% em August e Hillerska. Todo o meu resto, os últimos átomos que me formam existem unicamente naquele que eu amo de modo tão juvenil.

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Vejo você em uma próxima! (:

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The Prince Who Wants to be a Painter. | Wilhelm & Simon.Onde histórias criam vida. Descubra agora