Superficilmente Profunda

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  O pior de tudo é que eu nem      estava realmente apaixonada.
Não que eu não seja capaz de me apaixonar, ao contrário, cultivo em meu coração uma paixão fumegante  porém total e completamente platônica.      Não tenho a menor esperança de ser correspondida, mas também não tenho a menor intenção de abrir mão. Gosto de sonhar. Na verdade amo sonhar, vivo pra sonhar.
É que sou humana. Meu corpo arde em desejos. Meu coração clama pela adrenalina do flerte.
Sinto extrema necessidade de madrugadas insones regadas a beijos molhados, bate papos filosóficos e gargalhadas. Sou viciada em olho no olho. E sou muito chegada num corpo a corpo, se é que me entende...
Então me deixei levar.
Detesto bancar a ingênua, mas foi assim que eu me senti, depois de tudo. Foi isso o que eu fui. E isso dói. Ah, dói. Estremecer certezas sobre si?! Dói demais.Só que não deveria doer tanto e talvez  isso seja parte do problema.
Havia indícios de que algo não ia bem, mas eu não os queria ver enquanto  estava imersa.
Cogitei trair a mim mesma, contrariando a todos os meus valores,em troca de uma chance de viver ao menos em parte, uma única noite, aquilo que anseio todos os dias.
Não cedi, mas cogitei. E ainda não me perdoei por isso.
Mergulhei de cabeça naquela onda de insinuações e demonstrações, havia algo de verdadeiro em tudo aquilo, apesar de saber bem que a realidade vivida quase nunca condiz com a realidade exibida.
Eu queria viver algo intenso e me prendi a cada verso que era a mim dedicado. Sou tão obcecada por belas palavras, especialmente quando são a mim direcionadas. Fui fisgada.
Exigi do universo sinais claros e ele prontamente me atendeu.
Acordei uma bela manhã chuvosa com o som de uma notificação do telefone, que se antecipou ao canto dos sabiás, para me avisar que eu havia recebido a primeira declaração.
Começou com um poema que exaltava meu sorriso. Depois outro, que exaltava meu olhar e outro ainda, minhas curvas.
Mas quando li sobre sentimentos meus que não ousava nem ao menos escrever...Ah...
Perplexa, embriagada, extasiada, não tenho palavras para descrever o que senti.
Como pode uma mente que não a minha me conhecer tão bem quanto eu?
Um "scanner de alma" é proporcionalmente assustador e afrodisíaco.
Me ler nos escritos de outro alguém sempre me causa um  espanto e pertencimento ao mesmo tempo. Amo isso.
E partir do poema vieram as interações mais diretas.
Trocas de elogios, de experiências, de vivências, até que enfim... A troca de telefone.
A troca que tirou aquele "encontro de almas" da total abstração e o aproximou do mundo real(real? O que é real?).
O frio na barriga veio. Sou loucamente apaixonada pelo sentimento de expectativa. Às vezes, tal qual David Aames em Vanilla Sky, eu adio o prazer das coisas, somente para preservar essa sensação por mais alguns instantes. Não que isso não me cause certos problemas, mas é algo que eu não posso evitar.
E então...

Entre Algoritmos e Perspectivas Onde histórias criam vida. Descubra agora