Capitulo 3

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No dia seguinte acordei com o Elias na porta do quarto, assim que o vi dei um salto e dei um berro tão alto que era difícil alguém não o ter ouvido. Acalmei-me depois do choque passar e perceber que era apenas o meu fiel e único companheiro, Elias. Aceitei  o tabuleiro que ele trazia nas suas tenazes metálicas que continha a minha refeição da manhã e pedi-lhe desculpa pelo meu berro, mas ele como a máquina que apenas me disse:
-Pergunta não identificada.
Suspiro e volto-me para ir comer a minha refeição, pois o meu estômago já roncava. Durante o pequeno almoço apenas tinha em mente que se esperasse mais duas semanas talvez conseguisse começar a fazer o meu projeto, o meu iglu.
Quando o Elias se começou a mover em direção aos meus tabuleiros empilhados ao meu lado só consegui argumentar:
-Esse é o meu projeto, larga as paredes do meu iglu!
Se ele desenvolvesse algum tipo de pensamento pensaria que estava doida, não o julgo mas também não lhe peço que me julgue a mim, estive sozinha durante 3 dias sem luz ou ar fresco não podia estar sã.
Elias pegou nos tabuleiros e rodou sobre as suas rodas e saiu do quarto tão silenciosamente como entrou. E eu fiquei ali especada a observá-lo a ir-se embora com a minha criação. 



Durante a manhã temas como: como fazer panquecas ou um resumo do " Grande livro da História de Redil" começaram a manifestaram-se na minha memória. Porquê? Também não sei.
  Ao almoço o Elias voltou e começo a achar que devia fazer amizade com o pequeno robô, pode ser que ele saiba fazer massagens. Desta vez o almoço era uma sopa com uma cor duvidosa, seguida por peixe cozido como prato principal e uma banana como sobremesa.
A sopa apesar do aspeto não era má mas a banana estava completamente podre quando a abri, por isso acabei por descobrir que não é suposto estas serem castanhas e moles.
Por volta das quatro da tarde ,enquanto rabiscava nas paredes com uma caneta preta, um homem de cabelos loiros como os meus e olhos escuros mas de alguma maneira vivos abre entra pelo quarto adentro e lembro-me de reparar no pequeno corte da sua boca e no seu porte altivo quase régio antes de sentir uma dor aguda e tudo se tornar numa névoa confusa. Mas lembro-me do homem retirar o relógio da parede e verificar por detrás dele e de me pegarem ao colo e vestirem-me umas calças de ganga simples, pretas e justas. Também me tiraram a minha longa camisa e equiparem-me com com uma T-shirt branca e larga com um remendo a dizer "Laura". Depois também me lembro de me guiarem por um labirinto de corredores e destes para um refeitório. O refeitório estava cheio do que me pareciam ser crianças entre os 6 e os 17 anos. Todas as mesas do cenáculo estavam cheias, menos uma que estava completamente vazia. Sentei-me nessa mesa e a névoa das minhas recordações desaparece aí. Fico uns sólidos 10 segundos a olhar ao meu redor. Nas outras mesas rapazes e raparigas riam-se e conviviam como se estivessem num campo de férias. Na parede mais longínqua umas vitrines estavam dispostas com várias sandes e algumas frutas. Em todos os cantos haviam guardas atentos como falcões antes de matar a presa.
Quando olho para a minha frente reparo que um rapaz se senta à minha frente. Parece ter a minha idade, e tem um cabelo loiro com um corte disfarçado e olhos verde floresta. Na cara tinha sardas, mas eram muito claras que quase não davam nas vistas. Usava calças de ganga azul escura quase preta e uma  t-shirt cinzenta simples.Senta-se na à minha frente e pousou o seu tabuleiro entre ambos. Reparei que o tabuleiro tinha três livros, os quais ocupavam mais espaço do que a comida. Estende-me a sua mão de tez clara com uma maçã vermelha e redonda:
- Não gosto de maçãs queres?- ao ver a confusão que devia estar espalhada pela minha cara fala novamente- Então isso significa que não gostas? Não faz mal hum... Laura- diz olhando para a minha camisola.
Continuei sem lhe responder, estava pasmada com a sua facilidade de falar com estranhos e, apesar da maçã me parecer comestível, tinha aprendido a minha lição quando comi aquela banana que de certeza que não estava comestível. Mas claro que não ia ficar pasmada a olhar para ele.
-Como te chamas?- aclaro a voz- Como sabes o meu nome?
-Bem,sabias que há pessoas que não sabem que têm direito a ter um nome, ou seja não te conseguiriam responder a essa questão?- refere
-Hum, interessante... acho eu- este rapaz parecia ser uma cópia de mim só que em versão masculina.
-Pareces não ter muito conhecimento nos direitos humanos-examina a minha cara mais uma vez e recomeça- tenho aqui um livro que fala sobre isso. Deixa-me ver...
E com essa deixa começa a remexer nos livros há procura dos tais direitos humanos. O meu cérebro só piora a minha confusão,revelando-me mais receitas até agora escondidas nos recantos deste.
-Apenas perguntei o teu nome-digo com a confusão a transformar-se em impaciência.
-Oh, sim claro, desculpa tinha-me esquecido...- soa um pouco envergonhado, o que faz o meu ego inflar um tanto.
Quando o rapaz me ia finalmente dizer o seu nome ouve-se um microfone a ser iniciado. O meu corpo retorce-se um pouco ao ouvir o som agudo.
-Teste 1, 2, 1, 2, 1, 3, teste-é o que se ouve do microfone.
Olho para a origem do som e vejo que algumas mesas foram arrastadas e no meio foi erigido um pequeno palco, no centro estava o tal microfone num suporte metálico e uma pessoa a falar para ele:
Olá?- agora que olhava com mais atenção para o rapaz reparei na beleza do rapaz ao microfone. Este aparenta ter a minha idade, possui um cabelo castanho acobreado com um corte curto coreano, olhos castanhos avermelhados. Usava calças de ganga azul escura quase preta e uma camisa branca simples. As luzes do teto implementavam na sua figura alta um brilho na sua pele branca.
O rapaz da maçã deve ter reparado que admirava o outro rapaz então sussurrou para mim:
-Terra chama Laura.
-Só volto a falar contigo quando me disseres o teu nome rapaz maçã- surpreendi-nos aos dois com aquela resposta, mas ainda olhava para o rapaz palco
O maçã ( a cindy sussurra-me que esta será a nova alcunha dele) que  solta um suspiro e revela  finalmente o seu nome:
- Chamo-me Josh, quando olhei para ti reparei no teu remendo de identificação. Pensei sabias que todos os que estão aqui há menos de um ano usavam isso e que tinhas visto o meu, portanto quando me perguntaste ignorei a pergunta e usei-a como pretexto para falar de algo mais interessante.
Bem, a sua resposta fazia sentido. Suponho que o tenha julgado mal. No momento em que pensava algo que poderia ser astucioso o suficiente para lhe responder de volta, o rapaz do palco anuncia:
-Vamos então receber agora os nossos novos colegas: Laura e Josh! Subam ao palco e deixem-nos receber-vos.
Admito que era impressionante todos saberem o meu nome (mesmo eu, ostentando o meu nome como se tivesse orgulho nele como teria numa herança). Porém continuem sentada. Afinal poderiam estar a chamar outra rapariga chamada Laura. Já devia ou não saber, estavam a falar de mim.
-Hum parece que estão um pouco desorientados... Não se preocupem que amanhã todas as vossas dúvidas
desaparecem.-prevê, dá um pequeno salto para sair do palco e chega-se até nós. O jovem do palco estende-me a sua mão e eu aceito-a e deixo-o guiar-me até ao palco enquanto os olhares pousam em mim, no rapaz e no maçã que nos segue mantendo uma distância. Ao subir para o palco reparo em três almofadas sento-me na do meio enquanto Josh se senta à minha esquerda e o outro rapaz no meu lado direito.
Nos segundos antes da conversa recomeçar sussurro calmamente mas com um tom de sarcasmo :
-Foi necessário uma entrevista em grupo  para saber o teu nome.- ele não se riu. Porém aceitei o novo brilho dos seus olhos como resposta, primeiro dia fora da minha jaula branca e penso ter feito um amigo.
- Vamos começar por vos conhecer melhor. Parece que já se conhecem um pouco... Assim sendo falem-nos sobre vocês.
Não aguentei muito tempo sem responder à sua voz hipnótica, mas triste? Talvez? bem não interessa.
-Conheço a tua voz. Como é que disseste que te chamas? 
No instante que em acabo de o questionar ouve se um riso baixo espalha-se pelas faces de todos, até no próprio jovem que nos entrevista, sorte minha que Josh parecia tão confuso como eu.
-Chamo-me Ash, pode-se dizer que faço o trabalho de irmão mais velho para os que estão aqui presentes. Ajudo com os treinos e vivo aqui há mais tempo do que qualquer um...
-Por seres fraco- alguém conclama do meio da multidão, porém Ash ignora.
-Dito isto bem vindos ao Complexo Ment...
-Mental de Koglamorth- continuo. Os guardas que estavam nas sombras ficam tensos ao ouvir a minha resposta, os risos e comentários também esmorecem logo após a reação dos guardas.
Ash engole a sua surpresa e tensão e recomeça num tom mais baixo:
-Compreendo por que Pietro te quer na sua experiência de ouro...
- Experiência de quê?- desta vez quem lhe interrompe é a maçã.
Experiência de ouro... Talvez a sua experiência mais importante ou uma em que o elemento principal é o ouro ou nada a ver. Mas nessa altura pressenti que era algo de grande importância.
-O que interessa aqui é que ao que tudo indica já és familiar com o espaço.- tenta reiniciar a conversa mas é logo interrompido por uma rapariga na multidão
-Se o dizes está correto eles deviam estar a ser monitorizados ou mortos.Finalmente as atenções que iam de mim aos guardas mudaram o seu rumo para ela.
- Segundo o que sabemos dos rumores da experiência de ouro, vocês devem ter quase se afogado no rio e sobreviveram.Se não estão a ser monitorizados é porque já foram, não acredito que vos tenham mandado logo para aqui.
Infelizmente não sabemos que alterações podem acontecer nas vítimas. Os seus olhos cintilavam com esperança de que eu lhe pudesse dar informações novas, todavia estava tão perdida como ela.
-Acordei numa sala há pouco mais de dois dias, não me lembro de nada antes disso, não te posso ajudar a enumerar os passos dessa tal experiência.- digo com sinceridade mas sinto a gota de veneno na minha voz.
Um outro rapaz com uma aparência mais nova do que a rapariga faz-se ouvir com uma voz:
-Há mais ou menos quatro dias recebemos a notícia de que um rapaz e uma rapariga foram imprevisivelmente transferidos para cá. Segundo Ostraldo eles assassinaram os próprios pais, mas quando chegaram à ilha tentaram fugir dos guardas e caíram na vala da sociedade acabando por "dar um mergulho" no rio.
-Então isso significa que eu e a Laura somos...
-IRMÃOS?-exclamei, talvez um pouco mais alto do que devia. Não queria acreditar pois isso seria aceitar que tinha morto os meus próprios pais. Senti-me tonta, só de pensar no sangue que deveríamos ter feito. Qual seria o motivo? Talvez não houvesse, talvez tenhamos sido obrigados a assassiná-los. Talvez. Ou talvez não?

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⏰ Última atualização: Nov 27, 2022 ⏰

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