Enquanto os gritos da briga ainda ecoam na minha mente, meus dedos pressionam com força a superfície do volante. Lá fora, o trânsito está tão parado que permite que vendedores ambulantes transitem tranquilamente entre os automóveis.
Suspiro profundamente. Até agora, meu dia está sendo péssimo. E eu sei que a tendência é piorar.
Quando os carros diante de mim voltam a avançar, mudo de faixa. Contudo, estou tão distraída que não me dou o trabalho de verificar os espelhos retrovisores. Simplesmente jogo o carro para a direita e CRAC!, derrubo um motoqueiro e sua moto.
Era só o que me faltava. Arranjar uma briga de trânsito com um motociclista na Avenida Brasil.
Mais uma vez, suspiro. Removo o cinto de segurança e, não tendo escapatória, destravo as portas do carro e me retiro do veículo, indo em direção à minha vítima de atropelamento.
O motoqueiro já está se levantando, com a moto ainda caída no chão, uma pesada Harley-Davidson. Percebo, com um lamento íntimo, que pelo menos o vidro do seu espelho retrovisor direito, sobre o qual a moto está caída, sofreu algum dano. Com toda a certeza a haste de metal do retrovisor também deve ter sido comprometida, e vai sobrar para mim lidar com as despesas.
A pessoa que derrubei da moto é um homem, percebo. Está vestindo uma regata, deixando os braços tatuados e relativamente musculosos completamente nus. Noto que a queda provocou um machucado na área do seu ombro. Não parece nada muito grave, mas está sangrando. O homem tira o capacete e revela um rosto de olhos separados, nariz evidente e cabelos fartos, negros e bem aparados batendo na altura do pescoço. Uma franja cai sobre o seu olho esquerdo. O rapaz empurra a mecha de cabelo para atrás, e noto um anel peculiar enfiado em seu dedo indicador. No anel, há uma joia que lembra assustadoramente um olho humano.
O motoqueiro não está com uma cara boa, e as pessoas logo começam a buzinar.
Antes de falar comigo, ele me lança um olhar de fúria, que sinto penetrar em cada centímetro do meu corpo, como se estivesse me despindo e fazendo um raio-x das partes mais profundas da minha alma. Em seguida, ele se volta para a moto e a levanta num segundo, revelando a ausência do espelho do retrovisor e uma haste danificada. Quando enfim se vira para mim, sua voz está carregada de impaciência:
— O que custava ter prestado atenção e ter usado a merda do seu espelho retrovisor? Sorte que eu não vinha muito rápido...
— Desculpa — me apresso a dizer, me livrando daquele torpor que seu olhar havia me causado. — Desculpa... Foi minha culpa, reconheço. Realmente não prestei atenção, mas é que eu...
— Não me importa. Quero saber como você vai resolver isso. Não dá preu continuar a viagem sem um retrovisor. Diferente de você, eu faço uso dele.
Apesar do meu humor estar tão azedo quanto o do rapaz, eu não estou disposta a comprar briga, até por que, naquela situação, até então ele tinha razão. Me preocupo em resolver o problema.
— Tá bom, escuta... — aponto para o meu carro, uma picape. — Por que não põe sua moto na traseira do meu carro? Você vem comigo, descemos na primeira oficina mecânica que aparecer e eu te compro um retrovisor novo.
Ele hesita, pensando nas possibilidades. Não haviam muitas, para falar a verdade. E eu tenho certeza de que, se ele pudesse, recusaria a minha proposta. Mas não pode. Ele exaspera, liberando o resto de sua raiva que pretendia usar contra mim, e concorda:
— Beleza.
Enquanto ele se volta para a sua moto, eu abro a traseira da picape. Ofereci ajuda para amarrá-la no compartimento de carga, mas fui educadamente dispensada. O motoqueiro prefere fazer tudo sozinho. Quando enfim acomoda bem o veículo, me viro para entrar na picape, mas logo paro, percebendo que ele não está me acompanhando.
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My Last Dream
FanfictionQuando eu conheci o Jaebum, achava que tinha encontrado o amor da minha vida. Até descobrir sua traição. Para piorar, logo quando descubro, conheço dois dos caras que vão mudar minha vida: Christian e Kyungmo.