Los Angeles, Califórnia
um mês antesUma coisa que não te contam quando você chega na casa dos vinte é que você vai passar a odiar o Natal e todas as outras datas comemorativas que envolvem reuniões familiares. Principalmente se você for como eu, uma jovem mulher de vinte e dois anos que trabalha como garçonete em um barzinho rústico e tem o cabelo pintado de rosa chiclete. Assim que completei vinte anos, deixei a pequena cidadezinha onde passei boa parte da minha vida e vim para Los Angeles, tentar a sorte e perseguir meus sonhos, essas coisas clichês que a gente vê o tempo todo nos filmes. Mas, como a vida não é um filme, o único emprego que consegui com o meu ensino médio foi como garçonete. Hoje em dia, aparentemente, até para atender telefonemas em um prédio chique, você precisa de ensino superior, algo que provavelmente nunca terei. Eu até que gosto do meu trabalho; não é o trabalho dos sonhos ou algo do tipo, mas também não é tão horrível. Mas se levarmos em consideração que com essa idade minhas irmãs estavam sendo brilhantes e construindo um futuro promissor, pode-se dizer que estou bem ferrada. e com a moral com a minha família bem lá em baixo.
Ninguém da minha família sabe que trabalho em um bar. Se minha mãe sonhasse, ela já teria me arrastado de volta para aquele muquifo de cidade. Por isso, nunca contei; disse que era recepcionista em um pequeno escritório de advocacia. Como todos moram longe, a mentira nunca iria ser descoberta. Era perfeito, até a desgraça do Natal chegar e destruir a minha mentira perfeita.
— Você não pode simplesmente, sei lá, dizer "não, mãe, esse ano não tô afim, beijos"? — Kat sugere com uma sobrancelha levantada e um grande tom de ironia, enquanto serve um copo de cerveja para um cliente.
Kat é minha colega de trabalho, tem cabelos pretos, que geralmente estão presos, olhos marrons e uma boca que está sempre pintada de batom vermelho. Não somos muito próximas; para dizer a verdade, somos quase desconhecidas, já que trabalho aqui há mais de um ano e a única coisa que sei sobre ela é que é mãe solteira de um menino.
— Kat, se eu fizer isso mais um ano, muito provavelmente ela vai aparecer aqui e me arrastar pra Minnesota pelos cabelos. — Suspiro. — Você não conhece minha mãe.
Kat rola os olhos enquanto coloca o copo na bandeja e logo em seguida sai do balcão para entregar o pedido. Estou limpando o balcão quando uma voz, que conheço muito bem, soa.
— Estava conversando sobre o quê com aquela Barbie de cabelo preto?
Rolo meus olhos.
Ethan Scott está sentado no banco que fica em frente ao balcão, com suas típicas roupas sociais chiques, que agora não estavam tão arrumadinhas quanto imagino que estivessem no início da manhã. Seus olhos verdes escuros, que seguiam Kat enquanto ela andava, agora estavam em mim. Conheci Scott logo que me mudei para Los Angeles. Ele é advogado bem conhecido por aqui e é dez anos mais velho que eu. Nossa amizade é bem improvável e um tanto peculiar; nem sei se podemos considerar o que temos como amizade, já que vivemos soltando farpas igual cão e gato.
— Em primeiro lugar, o nome dela é Kat, não Barbie. — Falo enquanto me inclino no balcão.
Scott deu um pequeno sorriso torto.
— Com ciúmes?
Dou um tapa em seu braço e depois me viro para pegar um copo e servir bebida para o presunçoso sentado à minha frente.
— Sobre o que conversavam? — Questionou novamente assim que coloquei o copo com bebida à sua frente.
Scott leva o copo à boca e bebe um tanto bem considerável da sua bebida.
— Natal em família. Que vai ser um completo fracasso quando minha mãe descobrir que trabalho em um bar, estou bem longe de estar em um relacionamento sério com algum engravatadinho da igreja e, para piorar, com o cabelo pintado de rosa.
Scott franze o cenho sem saber o que me dizer ao notar o tom desconfortável da minha voz. Ethan Scott veio de uma boa família, daquelas famílias de comercial de margarina e tudo mais, sem contar que ele se deu muito bem na vida. Então, não existe motivo para ele se sentir envergonhado ou qualquer outra coisa; na real, ele está mais para orgulho da família Scott. Para ele, não se dar bem com a família é um território totalmente novo.
— Você vai fazer o quê?
Dou de ombros.
— Estou considerando me suicidar. Que tal?
Ethan rola os olhos, depois bebe mais um gole da sua cerveja e me encara com uma expressão curiosa.
— Olha, e se eu for com você para Missouri?
— Minnesota — o corrijo.
— Ok. E se eu fosse com você e a gente fingisse que estamos namorando?
— A bebida deve ter afetado seu cérebro — resmungo— Isso só complicaria ainda mais as coisas.
— Talvez, sim, talvez não. — deu de ombros.
— Você não tem, sei lá, família? Não tem nada melhor para fazer no feriado do que fingir ser meu namorado?
Scott nega. E bebe mais um gole da sua bebida.
— Minhas mães são budistas, portanto, o Natal basicamente não existe para a gente. Além disso, fazer atos de caridade é bom, para aumentar os pontos com o cara lá de cima, pelo menos é o que dizem.
Bato em seu braço de novo e dessa vez ele coloca a mão onde eu bati e faz uma expressão exagerada, como se eu tivesse quebrado seu braço.
— Se minha mãe descobrir que menti sobre um relacionamento, ela me mata, Scott.
Scott sorri.
— Então é melhor não sermos pegos.
Penso na proposta por um momento. Scott é bonito, alto, engravatadinho, elegante e, se frequentasse a igreja, tenho certeza de que seria o homem ideal que minha mãe sonha que eu me case. Seria uma maneira de escapar de toda a pressão familiar. Se eles focarem no Ethan, ficaria bem mais fácil mentir sobre meu trabalho; ele seria o centro das atenções e eu me safaria.
— Tá bom. Mas além de fingir ser meu namorado, você vai ter que fingir que frequenta a igreja, pelo menos aos domingos. — Estendo minha mão para fecharmos nosso trato.
— Fechado. — Ele sorri, como se já estivesse planejando tudo e aperta minha mão. Tenho quase certeza que se alguém do bar prestar a atenção em nós nesse momento pensa que estamos falando alguma coisa séria, até fechando um contrato importante, talvez.
— Então é isso. Falsos namorados por um Natal. Nossa farsa natalina. Que divertido. — falo ironicamente.
Ethan ergue seu copo.
— À nova tradição!
E foi assim que eu me meti em uma das maiores furadas da minha vida: uma farsa natalina.
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Uma farsa natalina
RomanceAlyssa Herrera, se vê encurralada quando se vê obrigada a voltar a sua cidade para o natal. A jovem de cabelos coloridos, viveu quase a vida toda sob a pressão das expectativas conservadoras de sua mãe. Quando seu amigo, Ethan Scott, sugere que ele...