One shot

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Ele estudava na cafeteria há tanto tempo que eu já o considerava meu amigo. Pior, eu tinha até uma quedinha, mesmo nunca tendo tido uma conversa de verdade.

Naquele dia, o movimento estava fraco, os clientes sendo apenas um casal de idosos e Seungmin. Eu lavava os copos de medida, me aprontando para o fim do expediente, quando o garoto se aproximou do caixa. Corri para atendê-lo.

— Oi, Junnie — cumprimentou ele.

— Oi, Seungmin.

— Seu cabelo tá bonito hoje.

Sorri, corando. Eu tinha cabelos cacheados graças à omma, que nasceu na Escócia. Puxei a maior parte dos traços de appa, restando o cabelo cacheado e cor de cobre, e os olhos de um castanho mais claro que o comum entre os coreanos.

Não eram bem atributos que eu gostava, já que durante a infância e adolescência, fui maltratada em colégios e até shoppings.

— Ah, gentileza sua — consegui responder — Você... vai pedir algo?

— Sim, sim eu... gostaria de outro latte de caramelo, por favor.

— É claro, fica dois mil won. Eu levo na sua mesa.

— Obrigado.

Vi que ele reprimiu um sorriso. Suspirei assim que Seungmin virou as costas. Nunca o vi sorrir de verdade, e isso me entristecia por algum motivo desconhecido. Ele era lindo, tinha olhos escuros, cabelo cheio, os lábios pareciam ter sido desenhados à mão. Sempre vestia camisas de abotoar com jaquetas jeans ou de couro por cima. Já o vi com quase cinco livros na mochila, mas naquele dia, eram três, dois cadernos e um notebook.

— Licença — me aproximei — Aqui.

— Obrigado. Ei, Junnie, você... não pode sentar um pouco?

— C-como?

— É que a gente se conhece há tempos e mesmo assim, não se conhece de verdade. Não acha que devíamos mudar isso?

Senti minhas bochechas corarem. Encarei Jae, que trabalhava comigo, atrás do balcão. Ele acenou, meu horário já estava quase no fim mesmo.

— É, acho que tudo bem.

Seungmin bateu palminhas e cobriu a boca com as mãos quando começou a rir. Sentei-me de frente para ele na pequena mesa, pegando o livro mais próximo.

— Cálculo?

— É. Quero entrar na UNS. Engenharia mecânica. Robôs!

— Que incrível! Minha irmã estudou lá, enfermagem.

— Que legal! E você?

— Segundo ano de arte e atuação em Konkuk.

— Não parece muito feliz com isso.

— Ah, não, não, não é isso. É que meus pais não me apoiam. Eu fui... expulsa de casa logo que comecei. Moro por aqui com minha irmã, é o máximo que podíamos fazer. Vou até Konkuk toda manhã, e volto à tarde. Todo dia. Meu appa disse que ou eu escolhia uma "carreira de verdade" ou... poderia esquecer que ele existia. Que eles existiam.

Senti lágrimas se formarem em meus olhos, e abaixei a cabeça. Sempre achei que appa seria do tipo liberal, já que se casou com uma estrangeira, mas estava errada.

Um arrepio leve tomou minha coluna quando Seungmin tocou minha bochecha, limpando uma lágrima solitária que escapou de meu olho.

— Não chora — Sussurrou — Você vai longe, Min-jun. E ele vai pagar com a língua.

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