Capítulo VI

658 91 7
                                    

ATENÇÃO

o capítulo a seguir há conteúdos que podem gerar gatilhos. é sim importante para a história, mas se não se sentir confortável, sinta-se à vontade para pular esse capítulo.

Rosé se sentou respirando fundo e olhou ao redor. Estava no quarto de Lisa, seu corpo estava agitado, Lisa se aproximou da garota e a abraçou, Rosé gradualmente foi se acalmando e fechou os olhos se entregando ao abraço de Lisa e escondendo o rosto em seu peito.

— Está tudo bem... — Diz Lisa. — Já acabou... — Lisa beijou a cabeça de Rosé que se permitiu chorar.

— Ele está mesmo morto? — Sua voz saiu abafada. Lisa engoliu em seco.

— Sim... Você está Livre. — Diz novamente. Lisa descansou sua cabeça, na cabeça de Rosé.

— Lis... — Rosé se engasgou com um soluço. — Acho que você deve saber o que aconteceu...

— Não precis ... — Lisa tentou.

— Sim, precisa!

Roseanne Park, que tinha o nome coreano Park Chae-young, nasceu em Auckland e teve uma infância feliz em Melbourne, vivendo feliz com seus pais e irmã mais velha.

Quando criança, recebia apelidos por conta de seus olhos e características coreanas fortes herdadas de seus pais, mas na pré-adolescência começou a chamar a atenção por sua beleza digna de esculturas e deusas gregas.

Atenção essa que chegou à um homem, ele sempre observava a menina sair da escola, observava seu jeito, passou anos a estudando, até que se passou por um agente de modelos coreanos interessado na garota. Ganhou a confiança da menina, e, aos dezesseis anos, Rosé foi sequestrada e levada para o Estados Unidos.

Primeiro a levou para um lugar cheio de outras meninas, onde Rosé se encantou e se apaixonou por uma delas, foi pega beijando a garota no banheiro do cativeiro onde estavam, aquilo causou repulso no homem, que tinha um desejo estranho e psicopata para com a garota. Rosé foi tirada do que eles chamavam de abrigo e levada para outro lugar, foi espancada e abusada, o homem dizia que ela iria se tornar mulher, ela chorava, ela tentava tirar sua própria vida, ela se sentia culpada.

Era abusada por não só aquele homem, mas às vezes outros apareciam, às vezes vários ao mesmo tempo, era um tratamento horrível e doente. Ela só queria que tudo acabasse. Se sentia suja, humilhada, os dias que se passavam, ela só desejava a morte, morte essa que nunca chegava, mas ela já se sentia morta por dentro, ela só queria acabar com toda a dor que era viver naquele quarto sufocante.

No quarto onde ela estava havia uma velha TV, uma cama, uma porta que dava para um banheiro estreito, um fogão, armário, pia, talheres, pratos, copos, era como uma pequena casinha, que o homem tentava pôr na sua cabeça que era para ela se sentir em casa.

Quando soube que estava grávida, a menstruação atrasada e a barriga a crescer, além dos chutes que sentia, decidiu que iria fugir, não iria submeter ao ser que crescia dentro de si, viver daquela maneira, ser vendido ou descartado como se fosse nada.

Era isso que o homem dizia que faria quando a criança nascesse, ele se livraria dela.

Rosé precisava fugir, a criança era inocente, não tinha culpa de nada. Então arquitetou seu plano.

Fingiu estar doente, o homem culpou a gravidez dela, e Rosé passou cinco dias sustentando a mentira de que não se sentia bem, até que no sexto dia, o homem se preparava para sair. Rosé esperou ele digitar a senha no painel de segurança, e gritou, chamando atenção e quando o homem se aproximou para examiná-la, já achando estranho a doença que ela dizia ter. Rosé conseguiu usar um caco de vidro para ferir seu rosto, resgatando forças que nem sabia que tinha para chutá-lo e sair correndo do quarto onde estava, não se importou com a dor que sentia, não se importou com a chuva, ela só queria fugir. Caiu, mas não desistiu, se levantou e voltou a correr.

A dor foi ficando insuportável, ela não sabia por quanto tempo estava correndo e fugindo, parava para recuperar o fôlego, mas voltava a correr, mal vendo por onde ia e sem saber por onde estava. Até que ela parou na casa de Lisa, não aguentando correr mais de tanta dor que sentia.

A morena chorava ao ouvir aquela história, seu coração estava apertado. Rosé tinha uma vida feliz, tinha uma família que a amava e foi tirada deles da maneira mais brutal possível, foi sequestrada, agredida, abusada, Lisa socou a cama com força.

— Rosé... — Tentou falar algo, mas não conseguiu.

Rosé também chorava ao lembrar de tudo. Não sabiam, mas uma estava salvando a outra. Sem falar nada, Lisa apenas a abraçou apertado, olhando para cima tentando espantar as lágrimas, mas ela não conseguia e não podia imaginar a dor que Rosé sentiu.

— Eu me sinto tão suja, Lisa... — Diz Rosé. — E eu sei que a Mi não tem culpa, mas sempre que olho para ela, eu lembro e me sinto culpada por uma alma tão pura e inocente ter vindo ao mundo dessa maneira.

— Você não tem culpa de nada, Rosé... — Lisa se afastou e enxugou as lágrimas da loira. — Nem a Mia... O único culpado é quem fez isso com você e agora ele teve o que mereceu. — Rosé engoliu em seco. — Você e a Mi estão livres agora. — Rosé enxugou as lágrimas.

— Eu não sei se ele é o pai da Mi, ou um dos muitos que às vezes iam com ele. — Rosé fez uma careta. Lisa negou.

— Nenhum deles é, a Mi não tem um pai, tudo que ela tem é uma mãe maravilhosa... — Lisa acariciou o rosto de Rosé, que sorriu fraco e segurou a mão da morena ali.

— Você não tem nojo de mim? — Lisa negou.

— Claro que não, Rosé... Já passou, eu tenho nojo deles, você... — Lisa sorriu. — Você é uma das pessoas mais preciosas que eu já conheci... A Mi tem sorte de ter você. — Rosé conseguiu sorrir.

— Ela também tem sorte de ter você... — Respondeu no mesmo tom.

— Não quero que pense jamais que eu deva ter nojo de você, está bem? Eu não quero você triste ou cogitando a ideia de deixar a sua filha com uma surtada depressiva. — Rosé desviou o olhar, mas Lisa a seguiu, a forçando encará-la, Lisa queria olhar para aqueles olhos castanhos brilhantes enquanto pronunciava as palavras. — Digo que a Mi me salvou, e é verdade, mas você também fez isso... — Rosé a encarou com dúvida. — Você me dá forças para continuar de uma maneira absurda. Lembra quando eu surtei semana passada? — Rosé assentiu e Lisa sorriu. — Você ficou comigo, o tempo todo, me abraçou, passamos o dia todo apenas abraçadas e eu nunca me senti tão calma. Preciso de você Rosé.

— E eu preciso de você, Lisa.

Nenhuma das duas percebeu quando aconteceu, uma força parecia ter puxando-as uma para a outra e no segundo seguinte, as duas estavam envoltas em um beijo, um beijo calmo e cheio de carinho. Mas logo é interrompido por Lisa.

— Desculpa... — Pediu Lisa. — Eu não devia... — Lisa iria se levantar, mas Rosé segurou seu braço, as duas se encararam por pouco tempo.

Você pode dizer muito com apenas um olhar e era o que Rosé estava fazendo, com um olhar disse sim. Lisa a beijou novamente, segurando levemente o seu queixo e sendo a mais carinhosa possível, a fim de fazer Rosé esquecer, nem que fosse por um segundo, o que havia acontecido, tentando, com aquele beijo, espantar as lembranças ruins da garota.

Second Chance [Chaelisa]Onde histórias criam vida. Descubra agora