5. Injustiça

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Conversar com minha orientadora não será uma tarefa fácil e eu não posso continuar adiando isso.

Bato na porta da sala dos professores durante o intervalo e sou recebida pelo mesmo professor de dias atrás, o de educação física. Quase reviro os olhos, mas seu sorriso generoso me impede.

ㅡ A professora Weaver está?

ㅡ Está sim. ㅡ seu tom é manso. Noto a presença de uma xícara de sapo na sua mão. Espera, sapo? ㅡ Weaver, tem uma aluna querendo falar com você.

Dito isso ele dar passagem para que eu entre na sala sem empecilhos. Percebo a mulher de quarenta e tantos anos subir sua visão da tela do seu notebook com expectativa, e também percebo o exato instante que sua expressão muda para uma de completa decepção.

Escondo as mãos nos bolsos do meu moletom velho e com o preto desbotado. A senhora Weaver se afasta um pouco da mesa e estica as costas na cadeira para retirar a armação do rosto, me fitando com seu olhar tão vazio que quase apaga o verde das íris. Engulo em seco.

ㅡ O que você quer, Catra?

Meu nome soa tão asqueroso na boca dessa velha.

Olho para os lados a procura de mais pessoas e confiro que o último além dela na sala, o professor Micah, não está mais presente.

ㅡ É sobre o evento. ㅡ dito isso ameaço querer sentar no pequeno sofá ao lado da mesa dos professores, mas a orientadora pingarreia.

ㅡ Não sente aí. Fale logo o que tem pra falar, não tenho o dia todo.

Solto um suspiro cansado.

ㅡ Eu soube que por conta da diminuição das verbas ou algo assim, estão chamando menos bolsistas e que os orientadores que estão decidindo quem vai ou não. E já fazem meses que o edital do evento foi lançado e a senhora não disse nada pra mim ou pra qualquer uma das meninas do projeto...

Weaver levanta uma sobrancelha e arrasta uma mecha do seu cabelo negro para trás. Ao tempo todo parece com sono, entediada. Como se nem estivesse me ouvindo.

Por algum motivo não consigo olhá-la muito nos olhos e minhas mãos ainda estão escondidas nos meus bolsos.

ㅡ Sim, e?

ㅡ Eu queria pedir pra que a senhora... ㅡ o simples uso da palavra pedir a faz semifechar as pálpebras. Engulo em seco. ㅡ Lembrasse de mim. Eu fui a primeira a entrar no projeto, boa parte da pesquisa é minha e-

Ela rir.

ㅡ Sua?

ㅡ É, minha. ㅡ junto as sobrancelhas. ㅡ Eu não estou falando isso com superioridade, acho que qualquer uma das estudantes que estão no projeto merecem ir a viagem tanto quanto eu, mas eu peço que reconheça minha importância no projeto no decorrer desses anos na hora de avaliar qual ou quais bolsistas irão para o evento.

Ela nega com a cabeça e sussurra alguma coisa que soa como ridículo. Cerro os punhos e o maxilar.

Essa mulher sim consegue extrair ao máximo a raiva acumulada que há em mim, e pior, não é de um jeito imaturo ou agressivo. Eu só sinto vontade de me encolher e chorar como uma criança frágil, por apenas uma encarada diferente dela.

É um tipo de poder sobre mim que sequer consigo discernir de onde vem ou como pará-lo.

ㅡ Eu já tenho em mente quem vai.

ㅡ Ah, já? ㅡ meu tom soa completamente desesperançoso. ㅡ Quem?

Sra. Weaver levanta da poltrona e procura um papel dentre suas pastas. Quando o acha, coloca sobre a larga mesa retangular e o arrasta em minha direção.

Rivais - Catradora +18Onde histórias criam vida. Descubra agora