Hoje acordei cedo. Odeio acordar cedo.
Peço desculpa aos que gostam de madrugar, mas também acho que nem odeio tanto o cedo, penso que seja mesmo mais o acordar. Se conseguisse, dormia sem parar durante dias. Juro que sim.
Gosto de pensar que a morte é como um longo sono, sem sonhos, sem nada, enterno descanço, enterno nada. É a minha ideia ideal. Quero dizer, acho eu. Como posso saber se é? Ainda não vivi metade do que a vida tem para me oferecer. Não desfrutei metade dos prazeres e não sofri metade das angústias.
Mas essa é outra história e fica para outro dia.Apanhei o metro para o liceu. Odeio o metro. Odeio o liceu.
Gosto de olhar pela janela e ver o nascer do sol sobre a cidade. A explosão de cores de tons alaranjados, as já desnecessárias luzes das ruas ainda acesas, as pessoas com um ar fatigado na corrida matinal para mais um inútil dia de trabalho.
Cheguei ao liceu. Já mencionei que odeio o liceu?
Sedenta pelo toque de saída, sobrevivi a uma aula de cada vez. Tentei ignorar o desespero e a desilusão nos olhos dos professores como eles mesmo ignoram-nos. Passei as aulas a rabiscar o caderno e a observar os meus colegas. Todos tão ingénuos, agarram-se tanto a tudo o que têm sem perceberem o quanto insignificante é.
Apanhei o metro de volta a casa. O sol acenou-me de despedida, os tons de laranja escureceram e as pessoas que agora, com um ar ainda mais cansado, voltavam para casa.
Cheguei a casa. Deitei-me na cama e fechei os olhos.
Acho que no geral foi realmente um dia razoável. Saltei o jantar, não me apetecia comer. Mas a verdade é que não sei quando foi a última vez que tive vontade de comer. Deve ser um efeito secundário dos milhões de comprimidos que tomo todos os dias, o que é bastante engraçado porque é suposto me abrirem o apetite. Talvez seja só de mim.
Adromeço.