Interlude

Não somos amigos

Não demorou muito para que os colegas de trabalho percebessem como Jiyoung mudara. Ela sentiu-se na necessidade de contar a verdade para Pdogg, pois ele a conhecia há mais tempo, mas Suga rapidamente soube, após Pdogg contar a verdade.

-Quase ninguém sabe a quantidade de coisas que você já passou... - Pdogg disse enquanto observava Jiyoung ao longe. - por trás desse jeito calmo, tem alguém que já enfrentou muitas tempestades.

Não que a verdade fosse dura demais para ser ouvida, mas ao saber de toda a história de vida de Jiyoung, Suga se sentiu mal. Ele, mas do que ninguém, conhecia as dificuldades que a indústria musical o fez passar, mas além do peso e da pressão, ele sabia como era necessário ter o apoio da família nesses momentos.

Apesar das dificuldades que a produtora enfrentava, ele notava que ela não perdera seu brilho. Estava o tempo inteiro sorrindo, fazendo piadas ou enchendo seu saco nos momentos livres. Ela parecia trabalhar com mais afinco. Passava horas diante do computador, criava as melhores melodias, gravava os próprios instrumentos, fazia ad-libs para as canções e entregava tudo com a mais perfeita organização e no prazo estipulado.

Suga passou a entender o jeito como Jiyoung levava as coisas e começou a seguir seu ritmo, o que fez com que as brigas entre os dois diminuíssem e ambos passassem a se entender melhor.

-Você está bem? - O rapaz perguntou girando a cadeira e observando a garota que trabalhava concentrada no sofá de couro.

Jiyoung parecia tão absorta nas partituras que não ouviu o que Suga disse. O garoto continuou observando em silêncio a mesma. Há semanas trabalhando nas produções musicais, os dois pareciam ter encontrado um jeito de se entenderem, no entanto, o rapaz mal sabia que, apesar da calmaria naquele estúdio, a cabeça da garota estava uma bagunça, fato que a deixava cansada mentalmente. Para ela, era como se para todos os empecilhos da vida, ela apenas dissesse que estava tudo bem.

-Jiyoung-si? - Ele chamou sua atenção, enquanto permanecia virado para a mesma.

A garota levantou seu olhar e deu de cara com Suga.

-hum?

-Você está bem?

-Sim, estou. - Ela se ajeitou na poltrona. - Porque?

-Tem certeza?

-Tenho. - Ela lançou um sorriso fraco.

Suga não disse mais nada, apenas se levantou e saiu da sala. Em poucos minutos, ao retornar, trazia nas mãos duas xícaras fumegantes de um café cheiroso, que inundou todo o ambiente. Ele se aproximou de Jiyoung e entregou a bebida.

-Tome isso, vai ajudar.

-Obrigada. - Ela recebeu.

Suga voltou a se sentar na cadeira, mas dessa vez, tinha sua atenção completamente voltada para Jiyoung.

-Não quer me contar o que está acontecendo?

-Pensei que todo mundo já soubesse.

-Vamos lá, Jiyoung...

A garota suspirou.

-Minha avó está doente... - Ela se recostou na poltrona – Ela é a única pessoa que está do meu lado, que me apoia, então está sendo um pouco difícil lidar com isso.

-Pensei que ela não soubesse que você trabalhava produzindo músicas...

-Ela não sabe. - Jiyoung suspirou.

-Porque não conta a ela?

-Não quero terminar de matá-la.

-Acho que ela gostaria de que você fosse sincera com ela.

A garota calou-se, sentindo o peso da verdade cair sobre seus ombros.

-De qualquer forma. - Ela voltou a falar. - Vou trabalhar duro para segurar as pontas.

-Cuide bem dela. - Ele disse por fim. - Não hesite em sair para acompanhá-la em exames ou algo do tipo.

-Obrigada. - Ela deu uma última golada em sua bebida.

Jiyoung olhou confusa para o garoto. Não estava acostumada a ser gentilmente tratada por Suga. Sendo engolida pela curiosidade, ela cortou o silêncio.

-O que deu em você?

-Como? - Ele quase se engasgou com seu café.

-Por que você parece tão interessado?

-Não estou.

-Sim, você está. Você não é de tratar bem as pessoas.

-Pare com isso.

A garota riu fraco ao vê-lo envergonhado.

-Não somos amigos, Jiyoung-si. - Ele disse por fim. - Pare de querer forçar uma amizade aqui.