Capítulo Único

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Dormir no sofá era muito desconfortável, não dava para negar.

Virando de lado novamente, Helô sabia que ia acordar com uma dor terrível nas costas. Isso se ela, ao menos, conseguisse pregar o olho. Parecia impossível. Mesmo depois de noites sem descansar, trabalhando mais do que nunca para resolver a situação do Stênio - porque aquele homem só trazia confusão para a vida dela! -, ela não tinha a capacidade de relaxar por um momento que fosse. Não com tudo que aconteceu nos últimos dias. Não após ver Stênio daquele jeito, todo machucado, obviamente traumatizado.

A delegada suspirou, abrindo os olhos e se levantando do sofá. Já que não ia dormir, podia muito bem revisar alguns casos que deixou em aberto para focar no sequestro.

Além do mais, tinha essa questão. Com o sumiço de Stênio, Helô não pensava em outra coisa a não ser reencontrar o advogado. Até deixou a delegacia de lado, o que sempre era sua prioridade, para investigar onde ele estava. Cachorro! Toda vez, ele arranjava um jeito de criar algum problema por causa dos seus clientes, mas passou dos limites. Ele poderia ter morrido. Ela não gostava nem de pensar nisso; tentou ignorar essa hipótese o máximo possível antes, mas não podia evitar o questionamento nessas horas sozinhas da madrugada.

O que mais a afligia é que Helô não fazia a menor ideia de como seria sua vida sem Stênio. E ela não queria saber.

Ela balançou a cabeça, afastando os pensamentos. Isso não importava. Ele estava bem, e logo estaria recuperado o suficiente para voltar a aparecer em sua casa inconvenientemente, com garrafas de vinho e flores de presente. Helô sabia que o melhor era parar com essa linha de raciocínio antes que chegasse em algum passado em que ainda eram casados... o que não iria acontecer de novo, claro. Duas vezes foi mais do que suficiente. Já deu de Stênio.

Procurando algumas pastas que tinha separado, ela entrou no seu quarto. Não teve que olhar duas vezes para encontrá-las em cima da mesa de cabeceira, exatamente onde tinha deixado. Pegou os documentos e se virou para sair, mas parou por um momento, se voltando para a cama na qual o advogado repousava. Bem, repousar não era bem a palavra. Ele não parecia estar tão melhor do que ela em questão de sono - remexia de um lado da cama para o outro, inquieto. Helô cruzou os braços, o observando de longe, tentando conter um sorriso de canto ao vê-lo, vivo, após tanto tempo. Não importava o quanto ela negasse ou reclamasse, a preocupação era maior do que qualquer raiva que sentisse. Se sentia confortável o tendo por perto; era exatamente por isso que precisava afastá-lo. Porém, antes que pudesse ir embora dali, viu o rosto do ex-marido se fechando em uma expressão conturbada, possivelmente tendo um pesadelo. Era possível ouvir seus murmúrios no sono. "Não... de novo não... por favor..."

"Stênio?" Helô sussurrou, chamando-o mais alto quando ele começou a ficar mais agitado como o que quer que estivesse em sua cabeça. Ela se aproximou, cogitando se não devia apenas voltar para a sala. Sem condições - não era preciso intuição policial para saber que ele estava revivendo alguma coisa do cativeiro em que foi mantido. Obviamente, ela não podia deixá-lo passar por isso. Se agachou do lado da cama, balançando o braço dele. "Stênio, acorda."

"Eu não sei de nada, me deixem em paz... não, não, não..." Ele ainda murmurava, alheio ao seu exterior.

"Stênio!" Ela deu uma chacoalhada mais forte nele, quase o empurrando para o outro lado da cama. "Foi só um pesadelo, acorda!"

Ele abriu os olhos em um susto, acordando sem reconhecer o ambiente com a adrenalina. Na sua cabeça, ainda estava no cativeiro. Preso. Sozinho. Se afastou de quem quer que estivesse perto dele, desviando o olhar para suas mão e balançando a cabeça. "Eu não fiz nada! Eu não sei o que vocês querem, eu já disse, vão embora!"

O coração de Helô apertou em seu peito com o medo claro na voz dele. Ela se aproximou novamente. "Você tava dormindo, isso já passou. A gente já te encontrou, tá tudo bem, lembra?"

"Só me mata de uma vez!" Ele recuou até a borda da cama, sem nem ter escutado direito o que ela disse. "É... é melhor do que-"

"Para com isso! Você não vai morrer!" Ela parou, suspirando. Então, pacientemente - ou o tão paciente quanto conseguia ser -, se sentou na cama, colocando as mãos no rosto dele para que ele a encarasse. "Você não tá mais naquele sequestro. Você- Stênio, olha pra mim."

Ofegante, ele ergueu o olhar até ela, o reconhecimento para ele. Houve um segundo de pausa, no qual a troca de olhares entre os dois foi simplesmente pessoal e propriamente deles. "... Helô?"

"Sou eu." Concordou com a cabeça. "A gente tá no meu quarto, tá tudo bem. Foi um pesadelo. Você tá seguro."

Com as palavras de afirmação da delegada, Stênio quebrou contato visual apenas para estabelecer o físico, a abraçando. Helô era quem ele mais confiava no mundo inteiro. Além de ser o amor da sua vida - porque, para ele, era óbvio -, ela também era sua melhor amiga. Ele não a soltou, com medo de que isso não fosse real. Surpresa, Heloísa travou por um momento, em seguida retribuindo o abraço, fazendo carinho nas suas costas. Nenhum dos dois disse mais nada, o silêncio sendo quebrado apenas pela respiração pesada do casal.

Acontecesse o que fosse, não importava a situação, eles estariam ali, um para o outro. Helô e Stênio. Juntos.

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