PRÓLOGO

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Londrina, 24 de abril de 2007.

Segunda-feira, 2 : 45 PM

Era pra hoje ser um dia de comemoração, afinal, eu havia acabado de vencer uma gangue rival. Deveria estar sorrindo e festejando junto a todos que estiveram comigo naquela batalha. Então por quê? Por quê eu estava lá? Por quê justo no enterro de Lucas?.

O som da chuva, batendo fortemente nas telhas ao meu redor, reverberava sinfonicamente pela capela na minha frente. Eu juntava um pouco da coragem que me restava para encara-lá, uma parte minha me dizia pra correr, correr como se não houvesse amanhã e só parar quando estivesse distante o suficiente dessa realidade. A outra me dizia para entrar e ver que tudo não passava de uma mentira, uma mentira besta que Lucas bolou pra me assustar e que quando eu entrasse, seria recebida com risadas extravagantes e o rosto do moreno despencando de tanto gargalhar.

Eu sabia que nenhuma dessas partes estava certa, então respirando fundo entrei.

A capela se encontrava lotada, alguns eu reconhecia dos aniversário de Lucas.Tios e tias que ocasionalmente me reconheciam e viam me cumprimentar. Boa parte ficava pelos cantos bebendo e conversando,como se a estivessem evitando, titia Wanda, a mãe de Lucas.

Se eu fosse dizer como titia era : teria que citar como ela era uma mulher ativa, tinha o costume de andar por Londrina toda a pé, sempre sorridente e conversadeira. Era uma mulher no auge de seus 46, também morena e com um cabelo que alcançava o meio de suas costas. Religiosa e um pouco ortodoxa era o quê a definiam melhor. A descoberta do quê o filho fazia a deixava revoltada, não foram poucas as vezes que ouvi Lucas reclamar sobre como a mãe reclamava dos hematomas em seu corpo ou sobre a mesma lhe escondendo o uniforme.

Essa mulher tão forte se encontrava sentada, um pouco a direita do caixão. Trajava um vestido preto e os cabelos para trás, junto ao par de sapatilhas cinzas que eu havia lhe dado naquele ano aos pés. Ela tentou esboçar um sorriso ao me ver, fiz o mesmo e puxei uma cadeira que gruniu enquanto eu a arrastava pra me sentar ao seu lado.

-Como está sentindo, meu bem? -Ela perguntou me olhando, os olhos estavam vermelho e pelo semblante a mesma não havia dormido direito assim como eu. - Conseguiu descansar um pouco ?

- Não muito titia.-Respondi tanto a primeira quanto a segunda pergunta, procurava me acalmar quando percebi que minha mão tremia.- Eu estou tentando processar, é muito de repente e pertubador. Mal consegui dormir a noite de tanta angústia!- Exclamei já sentindo meu rosto transbordar novamente, eu queria mentir. Mentir sobre estar bem, mentir dizendo que estava lidando bem com aquilo mas meu corpo e minha mente já não agiam em conjunto e sinceramente preferia não segurar mais.

-Está tudo bem meu amor, não precisa mais segurar isso. Eu estou aqui. - Disse titia me abraçando, deixei meu rosto afundar no seu ombro e despejei aquela dor que me matava aos poucos.- Está tudo bem, você pode chorar. Eu estou aqui. - Ela falava devagar e tentava exalar seguranças mas eu também sentia lágrimas em meus ombros, como se eu tivesse dito o mesmo que ela desejava.

O enterro terminou por volta das seis da tarde. Silencioso e com um clima pesado que se instaurava acima das cabeças de todos, a cerimônia se encerrou.
Aos poucos vi o cemitério esvaziar, as cadeiras o faxineiro recolher e simplesmente a capela se fechar atrás de mim. Não sentia a mínima vontade de me mover encarava o túmulo novamente, já tinha perdido a conta de quantas  vezes já tinha relido as palavras gravadas em pedra "Amado Lucas, filho, irmão e grande amigo. Que possa descansar em paz, e que Deus de vós cuide". Suspiros deixavam a minha boca, devagar deixei o buque em frente a Lucas com uma breve reverência enquanto repassava nossos últimos momentos juntos de algumas horas atrás.

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