prólogo

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all the bad dreams that you hide
show me yours, i'll show you mine...

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O clima lá fora estava tão agradável que não era difícil de ouvir crianças correndo de um canto a outro do parque dando seus gritinhos entusiasmadas com o balanço ou o escorrego dispostos ali, suas roupas coloridas brilhavam ainda mais por causa da forte coloração no horizonte do pôr do sol, algumas pessoas adultas passando apressadas para retornarem a suas casas ou famílias mas também havia muitos idosos conversando ou apenas se divertindo em ver as crianças brincarem felizes.

As árvores balançavam lenta e majestosamente com a brisa leve da estação, o cheiro no ar era de um misto de várias fragrâncias das flores ao redor daquele quarteirão, respirou fundo sentindo o ar mais puro entrar em seus pulmões o preenchendo rapidamente, deixando aquela sensação boa de alívio, mas logo teve de fechar a grande janela do quarto, não tão grande assim, para não ter riscos de infectar o ambiente e levar mais um sermão da enfermeira.

De repente sentiu sua garganta seca e em poucos passos chegou na bandeja que ficava na cômoda ao lado da cama e serviu-se um copo quase cheio do líquido transparente e se sentou na pequena cadeira de plástico postada ao lado da cama branca também.

Assim que se sentou e tomou um gole grande olhou para o corpo em cima da cama, começando pelos pés e passando seu olhar devagar até chegar no rosto, rosto esse que tinha os olhos fixos nele com um sorriso ladino, sempre travesso.
Sentiu uma vontade incontrolável de rir e chorar.

“ Deu para ficar me olhando dormir agora? Isso é tão romântico…”
Os dois riram baixinho, ele desviou o olhar e focou no copo pela metade em suas mãos, passando o indicador na borda do mesmo.
“ Você está aqui há muito tempo ? ”

“ Vou ficar o tempo que for necessário…”
Ele ainda não conseguia olhá-lo.

O outro olhou para a janela, a coloração do céu agora estava num tom alaranjado mais escuro, algumas estrelas já começavam a ficar visíveis e as árvores se balançavam com mais pressa, neste momento não se ouvia mais as crianças brincando ou o falatório dos mais velhos.

Agora ele olhava para o outro que fitava o lindo entardecer, ele podia ver seus olhos brilhando mas não saberia dizer se era lágrimas ou apenas o brilho das luzes atravessadas pelo vidro quadrado.
“ Me desculpa…”
Pediu, sentindo dor nas juntas dos dedos de tão forte que agarrava aquele copo, desejando poder extrair coragem do plástico.

Ao ouvir aquelas palavras quase num tom de confissão o outro virou seu rosto agora o olhando, vendo-o tão vulnerável assim fazia seu coração se despedaçar em mil pedaços, nenhuma das dores que sentira antes e depois de ser internado se comparavam em ver seu amado daquela forma.

“ Me desculpa também…”
Sentia como se uma bola de fogo estivesse se formando em sua garganta, as palavras saíam dolorosas, o outro franziu a testa como se não entendesse o porquê daquele pedido de desculpas então o outro completou: “  Por tudo, por tudo ter chegado ao ponto em que chegou…”

As lágrimas já rolavam em seu rosto sem nenhum impedimento, sentia-se fraco e a ponto de cair da cadeira a qualquer momento, ele queria se agarrar ao outro e assim se sentir seguro em seus braços mais uma vez, mesmo que fosse pela última vez.

“ Vem aqui…”
O outro chamou com a mão e ele sorriu largo pois parecia que havia lido seus pensamentos, sua cabeça e peito doíam em conjunto por causa do choro engasgado mas tentou forçar seu corpo a reagir.

E assim que estendeu a mão para finalmente tocá-lo o copo escapa de sua mão e caí no chão jogando água para todos os lados, e é nesse impulso de tentar segurar o que já está quebrado que Si-eun acorda num solavanco que o ônibus dá na saída de uma parada.
Ele se percebe e olha ao redor vendo que nada daquilo era real.

Ele não estava no hospital. Soho não havia acordado, eles não haviam conversado.
O falatório dos mais velhos eram os passageiros e as crianças gritando e brincando eram os bebês que choravam copiosamente nos braços de seus responsáveis.
O tempo lá fora estava feio, chovia muito e tudo parecia apagado pelo céu nublado num cinza quase preto.

Nada daquilo foi real.

*
i'm a bad liar
with a savior complex...

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savior complex - weak hero class 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora