Beijinho de aparelho

Único

—Ugh...— Zenitsu choramingou de dor enquanto levou a mão até a bochecha e a acariciava com cuidado.

O dia ainda nem tinha começado direito, ele ainda estava fazendo seu trabalho matinal de checagem de uniforme mas já estava sendo um dia absurdamente difícil, por que ele inventou de ir pra escola naquele dia? Por que não resolveu faltar pelo menos naquele dia?

—Zenny!— Uma voz doce chamando seu nome lhe fez o favor de lembrar o por que. O loiro sequer teve tempo de reagir antes de sentir seu corpo ser envolvido por um abraço de um certo ruivo carmesim que ele amava demais.

Geralmente Zenitsu repreendia seu namorado quando ele de repente o abraçava daquele jeito no portão da escola, especialmente por desconfiar que ele estava fazendo aquilo de propósito apenas para chamar sua atenção. Mas naquele dia ele simplesmente não estava com energia para reclamar, então apenas soltou um suspiro e se permitiu ser abraçado, o que não passou despercebido pelo Kamado.

—Vai me deixar te abraçar hoje? Parece que alguém acordou carente né?— O loiro apenas desviou o olhar e soltou uma risadinha abafada, só então Tanjirou percebeu que tinha alguma coisa errada— Ahm... Tá tudo bem?

O Agatsuma então se soltou dos braços do namorado e pegou sua prancheta abrindo em uma folha vazia e começando a escrever. Tanjirou até pensou em perguntar o que estava acontecendo, mas rapidamente teve sua resposta quando o menor mostrou o papel onde estava escrito:

"Minha boca dói muito, eu não consigo falar"

—Oh...— Tanjirou não pôde deixar de expressar sua preocupação ao ler aquilo.

—Caramba... É por causa do aparelho?— Perguntou Nezuko, que tinha entrado na conversa só naquele momento visto que Tanjirou saiu correndo para dar aquele abraço em seu amado assim que o viu e acabou deixando a irmã pra trás. O loiro apenas concordou.

Zenitsu tinha uma deformidade em seus dentes que era uma de suas maiores inseguranças: uma sobremordida ou mordida profunda. Seus dentes de cima eram extremamente desalinhados com os de baixo fechando-se muito à frente dos mesmos acabando por cobri-los quando sua boca estava fechada. Em outras palavras, ele era "dentuço".

O Agatsuma sempre demonstrou odiar aquela parte de si com toda as as suas forças, por isso ficou feliz quando seu avô finalmente o levou para colocar um aparelho ortodôntico. Mas não podia dizer que tinha ficado aliviado, sabia muito bem que usar aparelho não era a coisa mais prazerosa do mundo e ainda por cima ele teve a brilhante idéia de ler as "histórias de terror" que as pessoas com aparelho viveram na noite anterior em que foi colocá-lo.

E agora ele estava vivendo sua própria história de terror.

—Hmhm...— Murmurou em concordância acenando com a cabeça.

—Nossa... Doeu colocar?— Perguntou Tanjirou. Zenitsu pegou a prancheta de novo e escreveu a resposta para mostrar ao namorado e a cunhada:

"Na hora de colocar não doeu nada, mas agora que passou um dia até que um cavalo deu um coice na minha cara"— Os irmãos Kamado trincaram os dentes sentindo uma "dor empática" só de ler a descrição do que o Agatsuma sentia.

—Boa sorte Zen... Você vai precisar durante esses meses...— O mais velho apenas concordou com a cabeça.

—Hm... Que tal um beijinho pra ajudar a sarar a dor, ein?— Tanjirou ofereceu obviamente querendo uma desculpa para ganhar um beijo.

Zenitsu sentiu seu coração falhar uma batida por ter sido tão pego de surpresa por aquele flerte do mais novo, tanto que chegou à esconder o rosto corado atrás de sua prancheta. Mas rapidamente se recompôs e pigarreou antes de apontar de forma irritada para alguns alunos que estavam se aproximando do portão.