[ Gabriella Montezino]
Ho'omau. Significa persistência, seguir em frente com determinação. Continuar, sem nunca desistir. Persistência, pode ser facilmente o resumo de parte da minha história e isso eu falo no geral. Nasci em um parto de alto risco, tive várias complicações quando neném, na adolescência desenvolvi alguns transtornos e ainda criança descobri o TDAH. Pois é, desistir nunca foi uma opção.
Obviamente, se eu não tivesse a minha família talvez tudo teria um caminho diferente. Eu nunca desisti, porque eles nunca deixaram de acreditar em mim. Eles são incríveis, graças a Deus, nisso eu tive uma extrema sorte. Desde pequena, tive apoio e incentivo de todos os lados. Sou o que sou graças a eles, até porque sempre tive eles. Acontece que eu cresci.
Crescer foi uma das coisas mais temerosas, de longe, da minha vida. Se você me perguntasse meu maior medo a uns 18 anos atrás, eu responderia "crescer". Mas desde a adolescência, tinha colocado na cabeça que quando isso acontecesse eu sairia das asas dos meus pais e assim eu fiz. Terminei o colégio, arrumei meu primeiro emprego, me formei em arquitetura, fiz minha pós e cá estou eu embarcando no fruto do meu maior sonho.
Sair da minha zona de conforto, ao mesmo tempo que foi libertador me deixou cheia de medos. Acho que deixar Maceió, de uma hora pra outra, foi um passo muito grande.
Eu acabei de chegar no Rio, bastou apenas o avião pousar em solo carioca para eu me desmanchar em lágrimas e correr pro banheiro pra não passar vergonha no meio do povo. Pânico me resumia.
Respirei fundo, no mesmo momento que uma mensagem do meu pai brilhou na tela do meu celular.
Painho: "Não esquece de continuar a nadar, peixinha" "Liga quando puder"
Sorri ao ler a mensagem. Fazem uns bons anos, que meu pai fala essa frase pra mim e parece que ele sente o momento certo de falar. Procurando Dory, era um dos meus filmes favoritos e eu vivia assistindo com ele. Foi daí que ele tirou isso, foi de onde saiu também nossas primeiras tatuagens "Just keep swimming" na costela.
Respirei fundo, jogando água no meu rosto e tentando controlar as lágrimas que ainda caiam. Estava tudo sob controle, mesmo eu visivelmente cansada... não tinha com o que me preocupar, certo?
Resolver morar aqui não foi nada difícil, ja fazia parte dos meus planos e ter sido convidada e contratada pela construtora só me fez decidir que estava na hora de vir. Talvez, tenha sido uma decisão meio impulsiva e no calor do momento, porém, eu já estava certa do que eu queria.
Já tinha vindo pra cá diversas vezes, até porque tenho família em Niterói e meu irmão mora no rio a alguns anos. Mas, dessa vez, eu cheguei como nova moradora e falando isso agora me deixou ansiosa.
Peguei minhas malas, saindo do banheiro e já pedindo um uber com o destino ao apartamento que eu financiei. Essa parte meu irmão ajudou, porque eu precisava de alguém pra averiguar o local e o antigo dono tinha deixado tudo com ele.
Eu acabei chegando mais cedo do que o previsto, ou seja, eu pegava um uber ou esperava meu irmão sair do trabalho la em Niterói no horário de pico pra me buscar aqui. Obviamente, uber.
Depois de uma longa espera, morrendo de frio na frente do aeroporto, um corolla preto parou ao meu lado destravando. Abri a porta, colocando minha bolsa dentro e me abaixei para falar com o motorista que me encarava estranho.
— Oi?! – ele exclamou confuso.
— Oi, boa noite. – sorri fraco e ele continuou com a maior carranca – Pode abrir o porta malas, por favor?
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Sobre nós | YM
RomanceSobre nós. Pronta, ou quase, pra viver mais uma etapa da sua vida. Gabriela Montezino ao ser aprovada pra participar de um projeto, em uma das maiores construtoras do país, resolve desembarcar de vez no Rio de Janeiro. Deixando parte de sua vida em...