No ramo em que trabalho existe só uma regra: nunca ouse se apaixonar.
E lá estava eu, numa típica manhã de terça-feira sentindo o gosto, a textura de minha boca sugando com força a pele de minha cliente.
Mais um pouco... —reclamava ela baixinho
Vou cobrar um extra por isso, Cabello—reclamei antes de voltar a beijar toda a extensão de sua coxa— está gostando mesmo? Que cachorra...
Enlaço com força minha mão na volta do pescoço de Camila. A expressão de surpresa e o gemido entrecortado foram dissipados com um sorriso demoníaco que dizia "vá em frente".
Seus lábios se chocaram contra os meus, fortes e desesperados enquanto puxavam minha camisa num contato desajeitado, mas apressado. Os dentes dela não tiveram dó de cortar meus lábios por dentro, chupando cada raiz de sangue, lambendo aquele gosto metálico com destreza. Desci minha mão até sua coxa direita e apalpei com força aquela carne macia.
C-chega—decretei assim que o som do meu temporizador portátil decretou que havia passado do prazo que a mesma contratou, mas Camila ainda parecia alucinada enquanto trazia seu pescoço para perto de minha cara— Cabello, chega!
Por favor... —reclamou mais uma vez de maneira manhosa— eu pago, pago o que quiser, mas não para agora.
Camila ergueu a coxa que acaricio e a encaixa no meu quadril, perdendo-me a si.
Me deixa te sentir mais um pouco, S/n! —pediu inclinando seu quadril um pouco mais contra o meu— esfrega...esfrega sua língua em mim.
Contraí meus lábios numa expressão sem graça ali. Eu queria, mas o contrato de meia-hora não foi eu que decidi e sim minha chefe.
Eu não posso—lamentei a vendo suspirar de frustração
Aquela filha da puta da Halsey... —praguejou— ela sempre te faz trabalhar como um cão e ainda manda quantas horas deve ficar com cada pessoa. Isso é tão errado
Você só tinha dinheiro para meia-hora—avisei apanhando meu moletom do chão— e você me exigiu que as preliminares durariam bastante, então... o tempo acabou sendo exclusivamente para isso. Talvez Halsey tenha encurtado o tempo porque você mora na casa ao lado da minha, isso faz com que eu tenha menos trabalho de lhe encontrar no local marcado.
Meu ex-marido irá me dar o dinheiro da separação de bens logo—prometeu ela— e então poderei ter o quanto quiser de você
É, justo—concordei antes de abrir a porta— tenha um bom dia, senhorita Cabello
[...]
Trabalhar como "garota de programa" exclusivamente para mulheres bottoms tinha milhares de pontos negativos quando o dinheiro era escasso, pois significava que boa parte do que deveria ser meu salário ficaria com minha chefe. A única coisa que poderia fazer era subir no telhado de onde moro e refletir sobre essa vida miserável que levo enquanto lembro de coisas bem do passado obscuro que vivi. Ouvia histórias quando mais nova sobre outros lugares fora daqui. Países habitados, pessoas que se divertiam em parques de diversões que chamavam atenção até do longe pelas suas cores animadas e rodas gigantes. Eu sempre ria nessa parte, afinal, o que era uma roda-gigante?
É como um mito para mim isso ter sido verdade alguma vez. Quando se olha ao longe (onde teoricamente devia poder ser visto as tais rodas gigantes), tudo o que os olhos conseguem ver é uma terra escura e sem vida. Sai enxofre do chão e nenhuma planta brota naquele solo, nunca brotou e nem brotará. Graças ao meu avô, a cidade de Middletown sobreviveu (apesar do um formidável cataclismo científico que nos arrebatou até aqui nesse futuro longínquo), onde a Terra já está velha, moribunda, estranha, de há muito abandonada pelos homens. Ninguém sabe ao certo o que ocorreu, e se sabiam, faz muito tempo que não conseguem lembrar.

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A Última cidade da Terra - five-shot (Billie/you)
FanficS/n Mardoc Demers não era sequer nascida quando ocorreu a dramática situação da pequena cidade do oeste americano, Middletown, cujos cem mil habitantes foram repentinamente lançados em uma situação terrível após serem vítimas de um cataclismo cientí...