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SATURN

Alguns meses depois...

De volta a minha terra natal. Poeira na cara, vento puro, tratores, carroças, plantações, bichos soltos por todo lado, amor e família.

Voltar não foi uma tarefa fácil, tive que me reinventar e desistir de certas coisas. Mas me fez bem o retorno. Estar perto da minha irmã e mãe tem me feito muito bem. Foi como me reconectar com a minha verdadeira origem, o meu verdadeiro eu!

Todo santo dia eu falo com a Sol, sinto sua falta mas sei que diferente de mim, ela não arriscaria a cidade grande pela zona rural.

- Sat, café da manhã na cama. - Vênus bate na porta no intuito de me acordar

- Já desço! - grito de volta e ouço seus passos se afastarem

Empurro as cobertas para o lado e desligo o ventilador. Me espreguiço e logo me levanto pisando no frio assoalho. Pego minha toalha pendurada atrás da porta e caminho até o outro lado do corredor entrando no pequeno banheiro.

- Bom dia. - digo pra mim mesma me encarando no espelho

Eu mal dormi essa noite, e as olheiras abaixo dos meus olhos confirmam isso. Apoio minhas mãos na fria pia e me encaro, me analiso e reflito sobre tudo.

Tem sido noites e dias cansativos. Trabalhar aqui na pequena fazenda da família e ir para a cidade vender verduras, ovos e mel; todo santo dia, sem parar tem sido exaustivo.

Me estico novamente e levo minhas mãos até o fim da coluna tentando me torcer e consertar minha postura de cansada.

- Vamos para mais um dia Otto! - esfrego minha barriga e logo sinto seus movimentos

Retiro minha camisola e entro debaixo da água gelada tentando ficar cem por cento para o dia que se inicia.

Sim, estou grávida. Médicos não são Deus, apesar de todos os métodos ainda erram. E no meu caso, até hoje não entendo como me deram um diagnóstico tão errado como esse.

Deram meu pequeno serzinho como morto, sem vida. Descobri quando comecei a passar muito mal e corri para o hospital da cidade vizinha. Lá eu descobri que ele ainda estava aqui, ainda estava comigo. Foi um susto, mas ao mesmo tempo um alívio.  Ele não estava nos meus planos, mas já que Deus o mandou, quem sou eu para contestar? Lembro-me como se fosse ontem. O misto de emoção, choro e risos.

Minha mãe e irmã piraram com a notícia e Sol quase faleceu quando mostrei o exame pela chamada de vídeo.

Meu pequeno e grande guerreiro Otto!

Com relação ao pai dele, não tive notícias. Mas também não tentei contato. Não vou mentir dizendo que não esperei por uma mensagem ou uma ligação nos primeiros meses, mas nada. Então decidi tomar vergonha na cara e aceitar que ele nunca mais voltaria. Seria mãe solo, e estava tudo bem. Não precisamos dele, não mesmo.

Suspiro e desligo o chuveiro. Me seco e me enrolo em minha toalha. Escovo meus dentes e penteio meus cabelos. Volto ao meu quarto e me visto com uma Legging  e uma blusa larguinha. Não são muitas as roupas que estão entrando em mim no momento. A barriga já esta enorme para quem está entrando no sexto mês de gestação.

Depois de tudo organizado vou de encontro a cozinha para tomar café com a minha família.

- Bom dia meus amores. - saúdo enquanto entro no cômodo

- Bom dia meu amor. - minha mãe se vira para mim - Bom dia neném da vovó. - ela acaricia minha barriga assim que paro próxima a ela - Como foi a noite?

SaturnOnde histórias criam vida. Descubra agora