Enchentes

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Olá meus amores boa leitura, havia esquecido de avisar: essa história é oneshot, ou seja capítulo único!

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Olá meus amores boa leitura, havia esquecido de avisar: essa história é oneshot, ou seja capítulo único!

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Jimin ficou parado, sua mente dava-lhe somente uma mísera alucinação.

A febre alta e a fome o deixaram assim, o cansaço físico e mental, levando seu corpo ao limite. Molhou-se na última enchente, não teve tempo ou a chance de fugir, não conseguiu sair da água e nem dos corpos apodrecidos que eram arrastados pelas correntezas.

Sua mente passou a dar-lhe esse vislumbre, quando perdeu a última companhia que tinha; o único "amigo" que os andarilhos não haviam estraçalhado. Estava parado, preso ao morto que não morre que um dia chamou de amigo. Em suas memórias o jovem movia-se de maneira irregular, os músculos rígidos e a pele acinzentada, os olhos desfocados e a saliva preta que escorreu entre os dentes sujos. Conhecia o homem, um jovem cheio de sonhos, compartilhavam o mesmo corredor e bloco de apartamentos.

Cresceram juntos, compartilhando risos e segredos; tanto que sua mente se negou a acreditar, pensou que seria mais uma das inúmeras brincadeiras sem graça envolvendo os mortos.

Desde a primeira morte, quando a primeira enchente de cadáveres veio, no instante em que os primeiros andarilhos surgiram, quando as águas subiram e com ela corpos em estado de decomposição, esses que ainda tinham habilidade motora básica e uma fome sem precedentes. Sentiu medo, sua família deixou de existir na segunda onda, quando a pequena cidade foi inundada, forçando-o a ir para longe dos litorais, buscando abrigo em meio a densas florestas e lugares que permitissem uma fuga rápida e um esconderijo preciso. O governo não suportou a pressão da terceira onda, o número de desabrigados ultrapassaram a casa dos milhões em pouquíssimas semanas. Cidades e litorais viraram morada de mortos, homens e mulheres na qual os corpos são incapazes de descansar, fazendo-os se mover em busca de "alimento".

Pessoas com poder construíram muros, criando fortes fortalezas e grandes estoques de comida. Houve uma vez em que tentou buscar refúgio, as exigências o deixaram enjoado; o rosto bonito e a pureza em seus olhos despertou desejos depravados. Tais condições forçaram Jimin a fugir, vagando e escondendo-se de pequenos e grandes grupos, passou a andar junto a um amigo, esse que acabou sendo arrastado pelas enchentes.

Seus olhos lacrimejaram, a amarga lembrança do último sorriso, a piada sem graça na qual se esforçou para rir. Queria recordar somente dos bons momentos, apesar dos últimos dois meses terem roubado-lhe qualquer lembrança boa do passado.

O enterrou na floresta, na mata densa próxima a um pequeno canteiro de flores, pequenos brotos e pétalas amarelas, tão alheias e radiantes diante ao pandemônio na qual o mundo foi jogado. O deixou próximo a um cenário bonito, foi a única forma que encontrou para se desculpar, não queria vê-lo se tornar um andarilho, então fez a única coisa que poderia ser feita, poupando-o de apodrecer enquanto caminha.

Andarilhos • jjk+pjm+thyOnde histórias criam vida. Descubra agora