Amigos não dormem juntos

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— Tem mais uma?

A mão de Steve estica na direção da garota deitada ao seu lado na grama pedindo mais uma bala das dezenas que ele e a amiga aproveitam após terem roubado o saco de um mercadinho no centro.

Natasha, a cobiçada garota de longos cabelos ruivos e olhos verdes, enfia a mão no saco de balas ao seu lado e alcança um doce, que leva até a mão do amigo.

— Valeu. – agradece Steve com um sorriso que brilha com os olhos viciados em açúcar.

Segurando nos cantos da embalagem, o garoto puxa com força o plástico para liberar a bala de sua prisão plastificada, que é jogada no gramado junto com todos os outros papéis das balas passadas.

Mastigando o mais recente doce, Steve coloca as mãos sob a cabeça e encara os pontos brilhantes que desenham o céu na noite escura e aconchegante.

As pontinhas úmidas e confortáveis da grama recebem o corpo dos amigos, cutucando a pele deles toda vez que se mexem e certamente manchando a camiseta branca do uniforme da escola que se encontra em contato com o mato há algum tempo. Os corpos deitados pelo quintal dos fundos da casa de Natasha é mais um hábito rotineiro dos amigos quando a semana finalmente chega ao fim.

No final das aulas de sexta-feira é sagrado que Steve e Natasha corram pelo centro em busca de uma vítima para suas travessuras que sempre terminam com um saco de doces roubado.

A garota é habilidosa, tem mãos leves que sempre conseguem o que quer. Steve, com aspecto mais inocente e olhos bondosos, é quem normalmente serve de distração enquanto a ruiva passa a mão pelo doce que mais a interessar naquele dia. Nunca foram pegos durante os pequenos roubos, e pela idade imatura de 11 anos, ainda não temem as autoridades, apenas os puxões de orelha das mães.

— Vi outra ali! – anuncia Natasha apontando para uma estrela-cadente que deixa um rastro ao passar rapidamente pelo céu. – Mais um ponto pra mim! Agora é sete a cinco.

A contagem de estrelas cadentes também se tornou rotina desde que tinham oito anos, mas se tornando uma competição quando completaram dez.

— O quê?! Eu não vi passar! Não vale! – Steve contesta enquanto procura a tal estrela, mas não encontrando nada.

A testa dele franze sutilmente na busca pelo astro passageiro, não é a primeira vez que Natasha conta algumas que ele nem chegou a ver, e faz um tempo que está começando a suspeitar que a amiga está roubando só para ganhar.

Natasha, você é uma trapaceira!

— Eu não sou, só sou mais rápida e presto mais atenção! Você que não presta atenção e fica aí viajando. – ela se defende erguendo os ombros e não ligando muito para as acusações.

Natasha de fato rouba de vez em quando na contagem desde que virou uma competição. Está no sangue dela a vontade de vencer e a não aceitação quando o assunto é perder. Mas também, ela sabe que é mais rápida que Steve, processa mais rápido e sua atenção funciona como a de uma águia, o que a ajuda nas brincadeiras e também na escola, levando-a a ser uma das alunas prestigiadas da sala.

Diferente da amiga, Steve não tem tanta facilidade, costuma penar para conseguir acompanhar tudo, mas se esforça para sempre estar ao lado de Natasha. Precisa acompanhar a garota, pois assim se sente um passo mais próximo de seu futuro planejado: se tornar um grande advogado junto com a amiga para que eles comprem o prédio mais alto da cidade e se tornem presidentes para mandar no mundo todo.

— Nat...

Quando um pensamento aleatório pula no cérebro de Steve, ele vira a cabeça recostada na grama e olha para Natasha, que mesmo ouvindo o amigo, segue olhando para as estrelas.

Amigos Não Dormem Juntos... Ou Dormem?Onde histórias criam vida. Descubra agora