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Alguns podem não se ver assim, mas a maioria dos jovens atuais são românticos. Uma das principais características dessa escola literária é o fato dela ter sido usada como uma fuga da realidade, algo para os ricos fugirem de toda a revolução que estava acontecendo. A geração atual chama isso de válvula de escape, a geração anterior chama isso de besteira, os românticos chamam isso de obras. Os livros e poesias românticas mostravam algo que não acontecia na vida real para que os burgueses pudessem se distrair.

Esse era um ponto romântico em Olympia e, mesmo que inconscientemente, foi isso que fez ela querer a literatura em sua vida por definitivo. Ela nunca quis ser escritora, nunca achou que tinha a habilidade para isso, sempre quis compartilhar esse amor pela literatura, por isso todos os seus estágios foram na área de ensino. Foi monitora de muitas turmas, assistente de professora em pesquisas e estagiou em dois colégios como reforço de literatura. Esse tipo de coisa a encantava, por isso foi para a Inglaterra, esse tipo de coisa também encanta muitos ingleses. Dessa forma, a primeira coisa que fez quando começou a escrever seu trabalho final, foi tentar entender mais o povo, entender como a literatura funciona na prática em conjunto com a sociedade. Foi assim que ela escolheu o tema dele: Como a literatura pode representar e formar a personalidade dos cidadãos.

Contar essa ideia para George foi a coisa mais fácil do mundo. Estando quase no final do projeto, era difícil se manter confiante de que isso era o melhor que poderia entregar. Buscando alguém neutro, perguntou e recebeu uma resposta positiva.

— Sabe, eu acho que você está me usando de cobaia para se formar. — Levantou as sobrancelhas, prestando atenção na estrada.

— Talvez um pouco, você está servindo de inspiração para um dos últimos tópicos. — Confessou sorrindo e ele demonstrou interesse, a fazendo continuar sua fala. — Eu estou falando sobre como um movimento literário pode representar a personalidade de alguém e você tem isso. — Pegou o celular do britânico mais uma vez, o desbloqueando e colocando na playlist já criada por ela.

— Ah é? — Ele estava de verdade intrigado com isso. — E como e o quê me representa? — Perguntou curioso.

— George Russell, você é um romântico. Te identifiquei de cara. Você é uma pessoa que tem certeza de um final feliz, que tem um drama no meio, mas mesmo assim tem a certeza de um final feliz. Você é uma pessoa que usa fugas da realidade, que faz uma idealização da vida, que usa a emoção e não a razão. Você é um romântico... modernizado, vamos dizer assim. — Falou como se fosse uma analista social.

Olympia gostava de pensar em si mesma como uma realista. Gosta de analisar os indivíduos, gosta de pensar no psicológico, de pensar na sociedade. A brasileira consegue identificar bem os problemas de si mesma, os problemas dos outros e os problemas entre as pessoas. Pensou em entrar para a psicologia por um tempo, mas seu amor pela literatura superou essas coisas.

— Uau. — George a trouxe de volta para a Terra. — Eu admiro muito seu amor pela literatura, Olympia. — Ele expressou, pegou a mão dela e deixou um beijo ali. Ela sorriu.

Os dois chegaram até uma livraria enorme. Ela estava encantada com o lugar, que parecia ter sido tirado diretamente do Pinterest ou de seus sonhos. Não havia muitas pessoas dentro, George escolheu justamente o dia em que poderiam ter mais privacidade, o dia em que teria menos possibilidades de ser reconhecido.

— Escolha o que você quiser. Esse é seu mundo, Olympia. — Ele falou perto do ouvido dela, o que a arrepiou da cabeça aos pés.

— Posso escolher alguns para você também? — Perguntou animada, querendo se distrair com a pequena distância entre os dois.

— Pode. — Sorriu e foi puxado por ela.

Os dois se distraiam com qualquer coisa, qualquer título ou cor chamativa. Eles passaram por basicamente todas as sessões até chegar na favorita de Olympia. A brasileira segurava o livro como se fosse algo sagrado, como se fosse algo especial. Significava muito para ela.

— Foi esse livro que fez com que eu me apaixonasse pela literatura. — Ela abriu e cheirou o livro, o que o fez rir com a cena. — 1984 de George Orwell.

— Parece que todos os Georges são gênios. — Sorriram juntos e ela colocou o livro de volta na prateleira. — O que você está fazendo? Agora eu quero ler. — Pegou de volta e colocou na pequena pilha de 4 livros que ela selecionou para ele.

Ela pegou o braço dele e se aproximou mais de seu corpo. O primeiro e até agora único beijo deles foi no primeiro encontro, aquela proximidade e intimidade com toques limitados já estava cansando ela. Por isso pegou o rosto dele com as duas mãos e juntou o lábio dos dois. As mãos de George foram para a cintura dela, os corpos já não tinham mais distância. Era um beijo lento, aguardado por muito tempo.

— Eu vou ter que tomar todas as iniciativas? — Ela se desprendeu dele e voltou aos livros, o deixando sem palavras.

O caminho para casa era silencioso. Os dois haviam se divertido muito entre os beijos e os livros, esse havia sido o segundo melhor encontro de sua vida, ficando atrás apenas do anterior a esse, que também foi com George. Já ele achava que este estava sendo melhor, o melhor de todos. As perspectivas diferentes me favorecem, mas o encontro das flores definitivamente é o meu favorito. De qualquer forma, isso não é algo com o que eles se importam. Olympia cantava Sabrina Carpenter em plenos pulmões enquanto George tentava tomar coragem ao mesmo tempo que ria da performance da mulher ao seu lado.

Ele sabia que ela estava apenas brincando com a situação na livraria, quando perguntou se era ela quem iria tomar todas as iniciativas, mas de certa forma ela estava certa. George de repente percebeu que estava tão focado em tomar riscos em sua carreira que nem se deu conta de quanto sua vida pessoal estava estancada. Ele merecia isso, ele precisava tomar riscos. Por isso, quando parou em frente a casa dela, virou e se ajeitou antes de se despedir.

— Olympia, você tem todo o direito de dizer não, talvez seja muito rápido e eu entendo, mas... — Parou por um segundo com medo de ser interpretado errado. — Você quer passar a noite lá em casa? Não temos que fazer nada, de verdade. Eu só acho que... não quero me despedir. — Falou e Olympia deu uma risada.

A reação dela o fez ficar completamente confuso. Ele piscava várias vezes tentando entender se aquilo significava que eles dois nunca mais iriam se ver porque ele é um babaca ou se ela estava apenas estava tendo uma crise de riso como Rachel em Friends. Aquilo era assim tão louco para ela? Rachel beijar Ross realmente é uma loucura, na vida real ele não teria a mínima chance, mas George era... pelo menos ele achava que teria chances com ela.

— Desculpa, é só que... o contexto, o jeito. — Ela estava começando a se recuperar das boas risadas que deu. — Pareceu que você ia me pedir em namoro. Só o timing foi... não que seja cômica a ideia de você me pedir em namoro só... — Ele calou ela com um beijo. Os beijos de George eram encantadores, eram calmos e lentos de um jeito que a hipnotizava completamente.

— Você vem? — Perguntou assim que se separaram.

— Vou. Mas vem comigo, preciso pegar algumas coisas. — Pediu e eles foram embora do carro.

Beethoven | George RussellOnde histórias criam vida. Descubra agora