II.| O Museu

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- Futuro, informo que são horas de acordar e começar um novo dia.

- Já vou, 404.

O rapaz, deitado numa cama confortável num quarto amplo e espaçoso, contorcia-se por baixo dos lençóis, enquanto bocejava e tapava a cara com a almofada. A luz radiante da manhã entrava solenemente pelas frestas da janela.

- Passaram onze minutos e vinte e dois segundos desde o toque do despertador. - Declarou o robot, num tom calmo e pausado.

- 404, por favor. Só mais um bocadinho.

- Passaram onze minutos e cinquenta e quatro segundos desde o toque do despertador.

- Tenho sono.

- Passaram doze minutos e quinze segundos desde o toque do despertador.

- Está bem, está bem. Pronto. Já me levantei. - Disse o adolescente, saindo da cama com o cabelo desgrenhado e uma expressão mal-humorada. - Se dormisses, compreender-me-ias.

- Bom dia. - Cumprimentou o humanóide, ignorando as resmunguices do jovem.

- Mais um dia, não é, 404?

O apartamento era altamente tecnológico. As paredes de um neutro tom bege, eram cheias de mecanismos futuristas. Os móveis e as prateleiras arrumavam-se, apareciam e desapareciam numa mágica dança harmoniosa, enquanto Futuro fazia a sua rotina matinal e 404 preparava a primeira refeição do dia para o humano.

Terminada a sequência de acontecimentos rotineiros, o rapaz calçou as luvas e, obedecendo a um mero gesto com a mão, a porta para o exterior abriu-se. Acompanhado pelo seu companheiro robótico, aventurou-se pelas ruas movimentadas como costume. Sempre com um sorriso, sempre com um cumprimento, sempre com um ar amigável, pareciam felizes as pessoas belas e perfeitas com quem o jovem se cruzava. Pele mais branca do que a neve, cabelos mais claros que o mais polido ouro, olhos mais azuis que o céu mais límpido, e aquela inalterável simpatia... Mas seriam felizes aqueles seres aspirantes a deuses no ritmo acelerado em que viviam?

Os robots, sem sentimentalidade, corriam de um lado para o outro, entregando recados. Carregavam caixas, entregavam mensagens. Apenas obedeciam e apenas cumpriam.

Futuro e 404 tentavam parecer agir o mais normal possível. Mas tal tarefa não era fácil. As suas "imperfeições" não se limitavam a vinte e quatro dedos em vez de vinte e a incrível capacidade de se tornar invisível. Não. O humano transportava uma expressão sonolenta no rosto. O humanóide preocupava-se com o seu protegido. Fossem eles os "imperfeitos", os outros os "perfeitos". Ou talvez a situação fosse a inversa?

O miúdo e a máquina deram por terminada a sua travessia pela cidade quando vislumbraram um majestoso edifício com um aspeto antiquado. As suas colunas eram imponentes, a estrutura sólida, o revestimento minuciosamente trabalhado com pequenas figuras e representações. Nada semelhante com os altos prédios de vidro quebradiços e frágeis, ainda que impressionantes. Aquele edifício assombroso, pelo contrário, apresentava uma pintura acastanhada. No pórtico, em letras finas e espaçadas, lia-se "Museu de História Antiga". Futuro encheu os pulmões de ar, maravilhado com a construção onde passava boa parte dos seus dias. Ser selecionado para trabalhar no Museu tinha sido uma das melhores conquistas que tivera no seu mal-fadado percurso. Muitos considerariam o trabalho no Museu uma maldição. Mas o rapaz adorava o que fazia. Adorava o Passado, adorava conhecer os remotos viveres dos seus antepassados.

Enchendo-se de coragem e de satisfação, o jovem subiu as íngremes escadas de pedra que davam acesso ao magnífico interior do Museu.ao

- Bom dia! - Exclamou o adolescente, dirigindo-se a um senhor já de alguma idade, proprietário atual do Museu.

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