A luz da lua, cintilante em seu ponto alto no céu livre de nuvens e fumaças, recaía sobre uma figura desesperada. As estrelas faziam companhia àquele pobre astro constantemente solitário.
As águas respingam sobre a areia quando aquela cauda em tons azuis se debate de um lado para o outro, tentando desvencilhar-se da rede que a prendia.
Os grãos de areia se desprendem de forma bruta dos fios cacheados e loiros escuros enquanto a cabeça vira de um lado para o outro, deixando a água escorrer por todo seu rosto, inclusive aquela que compunha as lágrimas que se formavam nos olhos desesperados.
Os gritos de socorro eram diminuídos a resmungos cansados e choramingos, clamando para que, sobre aquela luz, surgisse ajuda.
Aquela floresta que ficava longe da parte arenosa escondia diversos segredos, nos quais Finney jamais saberia. Sendo um tritão, não poderia caminhar sobre as terras, despertando-lhe uma curiosidade perseguidora até mesmo em seus sonhos.
Ele deveria ter obedecido às ordens do Rei Terrence, seu pai. A liberdade era relativa e parecia apenas apetecer às profundidades dos mares, mas os lugares desconhecidos sempre foram donos dos interesses de Finney.
Era apenas mais uma noite como qualquer outra. Os céus, na maior parte das vezes, possuíam belezas indescritíveis e capazes de atraírem a admiração de Finney como luz atraía mariposas.
A solidão naquela superfície de areia permanecia intacta, então Finney não via problema em se expor naquele local. Nadou até a borda e sentou-se na areia, banhando apenas sua cauda.
Passaram-se apenas alguns segundos para que Finney percebesse objetos estranhos e intrigantes com o canto do olho. Estavam afastados de si e Finney não os reconhecia.
Eles estavam em cima de estranhas cordas entrelaçadas, ou, no caso, uma rede. Finney a reconhecia através dos próprios mares, encontrando-as perdidas por aí; às vezes, com peixes dentro.
Estava totalmente aberta e não parecia ter nada de errado. Finney se arrastou, sujando sua calda e um pouco de sua barriga de areia, e se aproximou daqueles objetos.
Finney nunca os vira antes: um suporte de madeira com espinhos esquisitos, nos quais, ao passar a mão, não perfuravam; um objeto redondo e de porcelana; e outro suporte de madeira, porém este com uma superfície que refletia o rosto de Finney, como as águas podiam fazer.
Era inevitável que cortasse de vez a distância entre si e os objetos, arrastando-se com ainda mais rapidez para pegá-los.
Assim que terminara de por seu corpo em cima daquela rede, ela se levantou subitamente e se pendurou na árvore que doava a sombra, enrolando Finney dentro dela.
Era, desta forma, que Finney acabara preso naquela rede desconfortável.
Suas mãos estão desgastadas e vermelhas de tanto apertar as cordas e tentar puxá-las, mas que acabava em falhas e decepções. Era uma maldita armadilha e o tempo que se desenrolou desde que acabou preso lá já era algo perdido e desconhecido.
Finney sabia que assim que os responsáveis por aquela prisão aparecessem, ele nunca mais veria as águas que formavam seu doce lar.
— Papai... Socorro... - Finney murmurou, sentindo o corpo balançar com a brisa que farfalhava as árvores.
Mal havia completado seus catorze anos e já estava sendo encaminhado para a morte. O quão maléfico o destino poderia ser?
Os arbustos farfalharam novamente, mas a brisa não estava fazendo seu trabalho. Eles farfalharam porque outra força se fizera presente sobre eles, algo que não vinha da natureza.
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Concha Estelar
FanfictionEra uma armadilha. E era um tritão. Era um salvador. E era um humano. Eram Finney e Robin, e era uma concha estelar.