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Corpos se sacodindo de uma lado para o outro, acompanhando a batida eletrizante que ecoava por todos os lados da boate pouco iluminada. Meus braços jogados para cima acompanhando os de Tiah.
Ela ria do modo em que estavamos dançando, derramando metade de sua bebida no próprio vestido.
-Merda. - ela disse. Eu mal ouvia sua voz por conta do ensurdecedor valume da música ao fundo. - Eu vou ao banheiro, me espere no bar.
Tiah apontou para o balcão pouco ocupado e correu entre a multidão que nos rodeava. Me espremendo entre as pessoas cheirando a álcool e perfume barato, cheguei até o tal bar.
-Dois "sex on the beach", por favor. - pedi ao barman.
O homem preparava a minha bebida e a de Tiah enquanto balançava o corpo no ritmo da música. A boate em que nós costumavamos frequentar estava mais cheia do que o normal esta sexta-feira, o que estranhei um pouco já que esse é o único lugar em toda Nova York onde poucas pessoas preferem frequentar depois de uma semana de trabalho ou estudos.
-Movimento forte hoje, não? - comentou Tiah ao chegar do banheiro.
-Sim. Não é estranho?
O barman colocou os dois copos cheios da bebida pouco colorida entre mim e Tiah antes de ir para o outro canto do bar.
-Na verdade, não. - ela deu um gole na doce bebida e voltou a falar. - A boate que tinha a duas quadras daqui fechou. O dono não conseguiu vender, e o único jeito era fechar.
-Hm. Bom, então pelo menos alguém saiu ganhando nessa história. - sorri. - Jay deve estar faturando hoje mais do que ele conseguia no final de semena.
-Pode apostar que sim. - Tiah virou o copo todo na boca, fazendo a bebida escorrer garganta abaixo. - Venha, vamos dançar.
Segurei meu copo antes de a seguir para o meio da pista novamente.

Quase três da manhã e as duas estavam completamente embreagadas. Tanto da música alta, quanto ao álcool em excesso.
-Eu quero dormir. - Tiah dizia prolongando a frase. - Quero um travesseiro fofo com um cobertor quente.
A risada dela me dava dor de ouvido. Eu odiava ficar bêbada. Parecia que meus sentidos ficavam ainda mais aguçados quando o maldito álcool estava em meu organismo.
-Cale a boca, Tiah. - resmunguei. - Meus ouvidos doem.
-Jessica Strugg e suas dores chatas de sexta-feira à noite... ou sábado de manhã, não sei. - ela tentou saber que horas eram pelo relógio em seu pulso, mas não conseguia. Os olhos arregalavam e estreitavam lentamente tentando ajustar a vista.
-Vamos logo pra casa, Tiah. - acenei para o táxi que se aproximava da entrada da boate. O carro amarelo parou em nossa frente e entrei junto a Tiah e fechei a porta. - Para a quinta com a Roosevelt, por favor.
E minha memória era a única privilegiada de minha embriagez. Ela era a única que me ajudava nesse momento horrível.
Com a cabeça pousada sobre o vidro, eu observava as luzes acesas em algumas janelas de prédios variados. Passados cinco ou sete semáforos, o táxi parou. Uma única parte escura da rua foi o que me chamou a atenção.
Um corpo jogado no chão, pálido e fraco como se não tivesse mais forças para se levantar, e um homem ao seu lado. Ele não fazia absolutamente nada para ajudar ou acordar o outro esparramado no chão molhado. O homem retirou uma espécie de estaca de ferro ou uma adága bem pontiaguda e furou o peito do outro de uma forma brutal e desumana.
-Meu Deus! - falei, levando as mão para a boca. Nesse exato momento, o homem se virou para mim e eu pude ver apenas dois enormes anéis verde-fluorecentes no lugar de seus olhos. O táxi voltou a andar e eu continuava em estado de choque.

Descer do táxi e ir até o elevador do edifício com Tiah desmaiada foi quase uma missão impossível. Mas graças ao segurança do prédio - que levou Tiah no colo -, nós conseguimos chegar ao nosso apartamento.
-Obrigada, Phill. - minhas palavras saiam embaralhadas, mas ele deve ter entendido já que assentiu com um sorriso no rosto.
-Boa noite... ou melhor, boa dia senhorita Strugg.
O enorme homem saiu fechando a porta. Tiah já estava esparramada em sua cama enquanto eu caminhava até o banheiro. Meu corpo todo doía de tanto ter dançado na boate, ele merecia uma bela ducha de água quente e algum remédio para dor no corpo.
Tirei o vestido, os sapatos e os assessórios. Entrei embaixo do chuveiro e deixei a água cair. Minha mente repassava tudo o que aconteceu nas ultimas horas, fazendo-me sorrir. Mas por algum motivo, ela trouxe à tona a lembrança do homem da estaca. O modo impiedoso que fincou o material de metal no peito da indefesa e totalmente vulnerável pessoa no chão fora cruél o suficiente para deixar aquela cena marcada em mim.
Fechei os olhos tentando dispersar aquela imagem. Um fino grito inundou meus ouvidos e, no escuro de minha mente, os anéis verdes se aproximaram de mim. Abri os olhos em desespero e logo desliguei o chuveiro. Observei meus braços e ali estavam os pelos arrepiados.

Suspirei de satisfação ao sentir o aconchegante travesseiro em meu rosto. O macio edredom me cobria dos pés à cabeça e esquentando meu corpo. Eu precisava de boas horas de descanço.

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⏰ Última atualização: May 17, 2015 ⏰

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