One step into the abyss

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11 de setembro de 1990

Outono - 🍁 Terça-feira

As palavras vão com o tempo. Se desfazem no pó que ainda resta de memórias medíocres. E a medida com que se vão, tendem a deixar seus reflexos; As atitudes. E são essas palavras as mesmas que enganam e deixam a esperar o melhor de quem as pronunciou e as atitudes [...] São as únicas a te mudar por completo.

Acordei no dia seguinte, meu despertador tocou deixando ecoar aquele barulho estressante e repetitivo por toda a casa. Os sons dos pardais e outras aves do lado de fora, eram escassos comparado ao som das finas e serenas gotas de chuva que ainda caiam no amontoado de folhas molhadas e poças espalhadas pelo chão, tentando relutar a brisa suave da manhã fria entre galhos ou nas biqueiras da casa.
Tudo parecia tão distante e ao mesmo tempo tão perto, minha realidade até ali estava excepcional. O mix de sensações e pensamentos jamais sentidos por mim ecoavam em minha cabeça, e deixando-os transparecer, sorri, ainda de bruços sobre a cama macia e meus lençóis quentes.

Hellie e eu nunca estivemos tão longe uma da outra, eu a considero minha irmã e ela sempre esteve junto a mim mesmo nos momentos mais difíceis. Lembro-me bem que em uma manhã como essa saímos pelo jardim de casa quando ainda morávamos em Mineápolis. Pulamos em algumas poças e aproveitamos o resto da manhã escura e úmida naquele jardim extenso e por toda a área da casa, lembro-me que naquele dia fiquei muito doente junto com Hellie.
O motivo? Bom, ninguém sabe, mas tia Marry acreditava que foi devido as bactérias presentes nas poças, quem diria que algo tão inofensivo quase causou minha morte. Por isso temo muito essas manhãs.

Coloquei algo quente e confortável, um vestido verde pastel não muito colado e feito de lã, parecia mais um suéter enorme, mas me mantia aquecida naquela manhã fria.
Arrumei meu cabelo e os ajeitei com uma tiara lisa, branca. Pus um batom vermelho e o suavizei com papel toalha e desci a cozinha para procurar algo para o café, tudo isso após um belo banho quente.

Procurei pelas gavetas do armário, geladeira e até na dispensa mas nada pude achar, a não ser veneno de rato e algumas quinquilharias sem valor ou utilidade para mim. Decidi sair. Havia aquela conveniência no posto de gasolina, aquele lugar deveria servir como supermercado naquela pequena cidadela.

Fui até um até um quartinho minúsculo em baixo das escadas, era escuro e embutido na escadaria que subia para o segundo andar.
Feixos de luz da manhã, escassos, entravam pelas frestas entre um degrau e outro. Puxei a cordinha cujo deveria acender uma pequena lâmpada a qual iluminaria aquele mini depósito de velharias, porém a mesma não acendeu.

── Droga!

Apalpei as laterais calmamente, a madeira fria e úmida da parede que me fazia arrepiar ao toca-la porém em pouco tempo encontrei o guarda-chuva que eu estava a procurar.

Sai de carro pela estrada encharcada. O som das pedras pequenas soltas pela estrada de terra, se misturava ao barulho da lama a cada centímetro em que os pneus do meu automóvel se movia. No meio do caminho algo me interrompeu forçando-me a parar o carro, era um pinheiro caído, uma grande árvore de tronco oco e desgastado bloqueava meu caminho, parecia ter caído por conta de um raio na madrugada tempestuosa.

Desci do carro e observei por alguns instantes o tronco que bloqueava meu caminho, enquanto pensava no que fazer. Decidi ir a pé, achei que precisaria do guarda-chuva mas vi que já não fazia sentido abri-lo em meio aos pingos finos de chuva que mais parecia orvalho da manhã. Mas em todo caso sempre é bom levar.

No banco traseiro havia uma sacola mediana feita de tecido biodegradável e papel que ganhei de Tia Marry quando fui a uma feira de artigos reciclados quando era mais nova, a peguei, dei a volta no tronco e segui a pé. A medida com que andava, os pingos de chuva se tornavam cada vez mais finos chegando ao ponto de já não mais haver chuva, nem grossa e nem fina, a garoa cujo caira pela floresta cessou-se por um momento dando espaço para uma névoa espessa e úmida que vinha das entranhas da floresta e cobrira toda a estrada molhada coberta de folhas encharcadas e alaranjadas que rolavam em direção ao vazio na estrada cinzenta. Ela parecia se estender mais e mais, e nunca ter fim.

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⏰ Última atualização: Feb 06, 2023 ⏰

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A Vingança é Minha: Diz o SenhorOnde histórias criam vida. Descubra agora