Realeza Mortal

Capítulo 1

- A senhorita deveria descansar, todo o salão já está quase montado para a grande noite hoje - disse Joany, minha dama de companhia retirando uma dúzia de livros em branco de cima de mim, eu estava quebrando a cabeça neles desde que o sol subira no céu. Os ganhara da minha mãe em meu aniversário passado, ela disse que seriam um refúgio para minha alma, mas desde que os ganhei, não consigo sequer sair da primeira linha.
Bufei e me dei por vencida. Joany tinha razão. Aquela noite seria um terror para mim, mas eu precisaria estar lá, ou a corte inteira me arrastaria pelos cabelos. Haviam organizado há semanas um baile para que eu pudesse conhecer Simon, um Duque repugnante que estava prometido a mim antes mesmo que eu pudesse ter dentes na boca para decidir meu destino. A única coisa que eu gostaria de ser capaz de fazer, era fugir o mais longe que eu pudesse dele. O Duque Simon de Ballina já deveria passar dos seus 30 anos, enquanto eu estava no auge dos meus 18. Apesar de ser basicamente uma obrigação real, eu não queria ter que me casar por ter sido prometida a ele, eu só queria ter a oportunidade de encontrar o amor.
Me levantei e Joany me acompanhou até meus aposentos, ficava no fim do corredor, próximo ao quarto de Yanna e Lanna, minhas duas irmãs.
Yanna era mãe da criancinha mais amada do mundo, Peter, ele sempre teve o poder de afugentar todos os meus infortúnios. Era casada com Adolf, Duque de Glasgow - me disseram que era perto de onde Simon vinha - porém costumava passar mais tempo lá em seus negócios do que no reino, porém sempre vinha em festas e reuniões da corte. Já Lanna é a mais nova, ela é mas reservada e prefere passar seu tempo na sala de pinturas com suas damas, se encontrou na arte de uma forma que eu ainda não consegui na escrita.
Em meu quarto, desabei no macio colchão e respirei o mais fundo que consegui, as vezes algumas responsabilidades se obrigavam a tornar-se prioridade em minha vida. Eu nunca desejei me casar assim, sem ao menos conhecer que estará ao meu lado quando eu chorar ou comemorar algo, sem saber se ele gosta mais de observar a lua ou as estrelas, sem entender o que o faz sorrir.
- Joany, chame Violety por favor, ou juro que terei um ataque - disse, sentando-me na cama para olhá-la - Peça urgência.
Minha dama saiu do quarto e seus passos ainda reverberam pelo quarto quando uma batida na porta chamou minha atenção.
- Leonna? - chamou por detrás da porta fechada.
- Entre - resmunguei.
Lanna se esgueirou pelo quarto silenciosamente, sabia o que sua visita traria. Ela estava vestida em seu jeito mais imprevisível possível. Enquanto eu estava com um vestido enorme que nem era capaz de ver meus próprios pés, ela estava usando simples calças de linho e uma blusa manchada de tinta, o que evidenciava que vinha das salas de pintura.
- Eleanor acabou de chegar ao castelo - disse aproximando-se de mim - Ela vai tirar suas medidas novamente, seu vestido com ela, começará a produzir o de noiva ainda essa semana.
Seu semblante estava tão triste quanto o meu. Lanna sabia o quanto a ideia de me casar com um desconhecido me amedrontava, ela compartilhava do mesmo medo. Em menos de dois anos, o baile será para ela e serei eu a olhá-la com tristeza.
- Eu serei a pessoa mais infeliz desse mundo - exclamei mais abatida impossível, a ideia de dividir a vida com o Duque Simon me causava calafrios. Na única vez que o vira, já desanimei. Para ele, a mulher nunca podia sequer ter o direito de falar sem que ele permitisse, não deveria ter opinião própria além de cuidar dos milhares de herdeiros. Essa não sou eu. Essa vida não é para mim.
- Leonna, há momentos que chorar não adiantará nada. Essa é sua realidade, você não conseguirá convencer nossos pais e os milhares de subalternos - ela sentou-se ao meu lado - Por pior que ele seja, a realeza só nos dá a opção de fingir amar ou sofrer as consequências.