O espelho

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Continue a cena:

"Quando mudei de casa, encontrei um espelho antigo em um dos quartos. Eu nunca imaginei que veria um reflexo que não era o meu..."

Seu rosto cansado e olhar perturbado me causava estranheza.

O rosto era pálido como de um moribundo, seus cabelos secos e sem vida indicava que talvez ele não soubesse o que era um bom banho.

Talvez o marido dedicado que sempre trazia às mais belas rosas perfumadas para sua esposa, após um longo período de trabalho, não estivesse mais alí. Ele certamente não era dos mais românticos, mas demonstrava todo seu amor com esse gesto pequeno, e ela entendia isso.

Afinal, como as coisas desabaram a esse ponto? O marido dedicado agora estava em pedaços na minha frente, sua casca frágil e velha caía sem piedade, revelando uma figura perturbadora e angustiada.

Não podia olhar por mais nenhum segundo para aquilo, então abri a janela, que estava escondida por uma cortina branca.

A vista no terceiro andar normalmente seria considerada bela e esperançosa.

No meio do grande jardim tinha um chafariz, que era rodeado por arbustos decorados com pisca-pisca - resquícios da comemoração de natal dos antigos moradores da mansão.
Tudo isso era belo, eu sabia disso, mas assim como o marido dedicado, essa beleza me parecia distante.

Logo tal beleza se distorcia, e eu não enxergava mais nada que estava alí; pensamentos agitados pairavam sobre mim, eu não conseguia ficar calmo nem por um segundo.

Busco essa paz já fazem duas semanas, afinal, foi pra isso que me mudei para tão longe da minha antiga cidade. Uma mansão no meio do mato era a melhor opção.

E por mais que eu buscasse isso incessantemente, algo não me deixava se aproximar da minha antiga calmaria.

Tenho tentado me apegar aos bons momentos que tinha com Ellena. Como quando ela brincava com os cachos do meu cabelo enquanto assistíamos a novela dás 8 que passava no domingo.
Ou quando conversávamos horas sobre nosso futuro e sobre a ideia de termos um filho.

Essas lembranças me confortaram desde que me mudei, embora elas sempre sejam ofuscadas, no final, por aquela cena terrível.

As vezes eu imagino a mídia anunciando:

Marido espanca esposa até a morte e agora terá que pagar pena de 15 anos.

Olho para as minhas mãos e continuo sentindo o sangue espesso de Ellena escorrendo pelos meus dedos. O cheiro ainda está impregnado nas minhas narinas.

Ellena queria ir para o exterior, estava animada com a idéia de fazer faculdade em Paris.
Ela estava mais apaixonada pela torre Eifel que por mim.
Ellena me destruiu com seu egoísmo. Mas eu a amo, e já a perdoei. Fizemos as pazes,

agora Ellena nunca vai embora.

agora Ellena nunca vai embora

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