Maldita Sofia

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Descreva a paisagem vista de uma janela pelos olhos de uma criança.

O trem que partia da capital cortava todos os tipos de florestas e áreas rurais até que chegasse em seu destino.

Mônica, usando seu casaco de pele como coberta, esboça uma expressão exausta de quem já está cansado do procedimento de sempre.

A viagem está apenas começando e Mônica está prestes a entrar no seu ciclo de cochilar e acordar incessantemente. Ela desejava apenas dormir, mas ter escolhido o banco do corredor, a o invés do da janela quebrou suas expectativas. Talvez ela teria feito outra escolha se Henry não tivesse sentado na janela.

Ao contrário desta, o garoto mantém seus olhos atentos desde que partiram de sua cidade natal. Essa era sua primeira vez andando de trem, e isso enchia seu peito de expectativas.

Mônica nunca foi das tias mais responsáveis, e a empolgação de Henry a irritava consideravelmente, embora ela não pudesse demonstrar isso.

Seu sobrinho não era o tipo de criança tagarela, mas talvez tivesse algo em sua aura pura que ofendesse seu espírito de adulta.

Henry não notava muito sua tia, para ele, ela era como qualquer outro adulto distante de sua realidade, incapaz de entender sua mente cheia de fantasias e aventuras.

Os olhos do garoto se encheram de brilho quando o trem passou dos túneis e disparou em direção a o céu nublado. O frio do outro lado da janela era notável, Henry se sentiu tentado a desenhar no vidro úmido, mas sua empolgação com as inúmeras paisagens logo o fez esquecer a ideia.

A viagem, para Mônica, parecia mais longa a cada minuto, o que a fazia cogitar desistir de ficar com seu sobrinho nos próximos dias.

O deixaria na rua, num orfanato, o que fosse, qualquer lugar que não fosse sua preciosa casa. Ela odiava a ideia de alimentar uma boca que não fosse a sua.

Mônica nutria uma inveja descomunal por sua irmã.

Bem sucedida, tinha casa própria, carro do ano.

Sofia sempre ficava com os holofotes, enquanto Mônica permanecia sendo a filha fracassada.

Agora, ela fazia o favor de morrer e deixar seu rastro repugnante.

A mãe do garoto havia morrido em um acidente de carro no sábado, em uma cidade próxima, na qual viajara a trabalho.

Antes da morte de Sofia, Mônica só ficava com Henry nos finais de semana, mas agora teria que estar com aquela peste para sempre.

Observando o garoto por alguns minutos, Mônica podia ver claramente os traços irritantes de sua mãe.

Sua expressão mal humorada, agora, se transformava no oposto.
Sorriu.

Iluminada por uma ideia engenhosa, decidiu que poderia descontar os anos de frustração naquela pequena cópia de Sofia.

Ela não era assassina, mas o que se seguiu quando chegaram em casa faz a morte ser um presente irrecusável.

Henry era só um garoto de 5 anos, o que explicava o fato dele não entender bem porque estava com sua tia a quatro dias, mesmo não sendo final de semana.

O enterro iria acontecer no dia seguinte. Mônica se irrita com o fato de ter que gastar dinheiro só para ir até o local em que a mãe do garoto morreu.

Até morta ela consegue ser um prejuízo

Mônica faz um pequeno cafuné nos cabelos loiros de Henry. A criança permanecia alí, focada no horizonte, parecia nem sentir o toque de sua tia.

O garoto chorava de saudades as vezes, mas agora ele só conseguia se concentrar no fato daquela ser sua primeira viagem de trem.

Entre as nuvens cinzentas surgiu um lindo laranja, enfeitado com pequenos pontos amarelos, o que fez o coração do garoto disparar. O sol penetrava na vasta vegetação de milho onde reluzia o belo verde das folhas.

Ele adorava como o sol era capaz de trazer vida a tudo que tocava, e aquele certamente era o mais belo pôr do sol que o garoto já vira. Seu coração parecia aquecido, ele havia ganhado vida.

Embora ele não soubesse disto,

para se encontrar com os mortos é necessário se revestir de vida.

Sorriu.

Sorriu

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