Londres

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Ladybug saltava pelos telhados a meio da noite, apressada para chegar ao ponto de encontro onde ela e Chat iam começar uma patrulha. Encontrou-o encostado à parede de uma chaminé com a cabeça baixa, estaria aborrecido por Ladybug estar atrasada? Não parecia ser do feitio de Chat mas a joaninha sentiu a necessidade de pedir desculpa.
Aproximou-se dele e coçou a nuca um pouco envergonhada.
- Desculpa por estar atrasada, Chat. É que aconteceu uma coisa e...- Chat nem ergueu o olhar, continuava concentrado nas mãos que estavam pousadas sobre o seu colo, o cabelo caia-lhe sobre os olhos então ela não conseguia ver o seu rosto- Está tudo bem?
Chat inspirou profundamente mas, ao invés de expirar, os seus ombros começaram a abanar e ele começou a soluçar.
Ladybug ajoelhou-se à sua frente e segurou o queixo dele, fazendo-o levantar a cabeça e encontrou o que mais temia. Olhos encharcados, bochechas vermelhas e um semblante desesperado.
- Gatinho...- ela sussurrou- O que se passa?
A azulada quase guinchou ao sentir o rapaz puxá-la bruscamente para a abraçar e afundar o rosto no seu pescoço.
- Eu peço desculpa, m'lady!- a sua voz não passava de um berro abafado contra o ombro da adolescente- Eu não quero ir embora mas não há nada que eu possa fazer! Desculpa, desculpa, desculpa...
- Chat- Ladybug disse preocupada- O que aconteceu?
Ele não respondeu.
- Chat, olha para mim- empurrou o loiro pelos ombros para se separar do abraço- O que foi?
- Eu vou para Londres, Ladybug.
- Ok...mas vais voltar, certo?
- Não, eu vou morar lá...
A adolescente arregalou os olhos e afastou-se dele, tentando entender tudo o que ele disse.
- Vou dar-te o meu miraculous esta noite...
- Não...- ela balbuciou, já sentido as lágrimas e molharem as suas bochechas.
- Espero que encontres um Chat Noir que esteja disposto a cuidar da cidade e de ti...
- Para com isso, Chat!- ela berrou- Não tem piada!
- Ladybug- limpou as lágrimas e segurou-a pelos ombros- Estou a falar a sério.
- Impossível! Não podes ir embora, Chat! Por favor...
- Eu sinto muito, m'lady- o seu anel começou a apitar.
- Chat, tu vais...
- Shh...
- Isto está a ir longe demais.
Ele não respondeu e, quando o seu corpo foi tomado por uma luz verde, Ladybug fechou os olhos com força.
- Abre os olhos, m'lady...
- Eu não posso.
- Mas tem de ser assim.
- Eu não quero, Chat...- ela sussurrou e sentiu o rapaz a abraçá-la- Tenho medo que seja real.
- Também eu, mas vai tudo ficar bem. Abre os olhos...
Ladybug obedeceu e a primeira coisa que viu foi um casaco branco, então afastou-se lentamente, olhando sempre para baixo. Deparou-se com uma camisola preta com três listras coloridas, as calças de ganga azuis e as sapatilhas cor de laranja.
Cada vez mais lágrimas escorregavam pelo seu rosto e quando ergueu o olhar e encontrou os olhos verdes de Adrien o seu mundo desabou.
Ficaram parados durante bastante tempo, apenas a olharem um para o outro até Adrien tirar o anel para colocá-lo sobre as mãos de Ladybug.
- Desculpa...- disse e levantou-se. Deu alguns passos, afastando-se.
- Tikki, destransformar- as suas palavras fizeram-no parar a meio do caminho.
- M'lady...- ele murmurou- Não faças isso.
Adrien fechou os olhos ao sentir a adolescente a abraçá-lo por trás. Os braços dela envolveram-lhe o abdomên. Ele sentiu o calor da pele dela sobre a sua barriga, através do tecido da camisola.
- Eu amo-te, Adrien- a voz dela, por um instante, pareceu-lhe mais familiar que nunca.
Não podia olhar para trás, não devia olhar para trás mas não conseguiu resistir.
Arregalou os olhos ao vê-la.
- Marinette, tu...?- ela assentiu com a cabeça e Adrien deixou as lágrimas molharem o seu rosto- Oh...Mari...- murmurou, envolvendo-a nos seus braços com força.
O abraço apertou para os dois, ambos já sentiam saudades um do outro, mesmo estando tão perto.
Passaram a noite abraçados, deitados sobre a plataforma dura do telhado, provavelmente iriam acordar com dores no corpo no dia seguinte mas nada conseguiria ser tão forte como a dor que apertava o peito dos dois.

Duas semanas.
As últimas duas semana que passaram juntos foram dolorosamente incríveis.
Com beijos calorosos na varanda de Marinette, a irem a encontros românticos no parque às escondidas e sorrisos falsamente alegres.
Adrien ia embora no dia seguinte, na manhã seguinte, mais especificamente.
Passaram aquele último dia todos juntos, Adrien, Marinette e o resto da turma. Levaram Adrien aos lugares que ele desconhecia, abraçaram-no com força várias vezes e, novamente, mostravam sorrisos falsamente alegres.
Agora, de noite, Marinette estava sentada sobre a sua cama, a conversar com Alya pelo telemóvel e tinha o rosto húmido de lágrimas.
- Como está o Nino?- a azulada perguntou.
- Ele vai passar cá a noite mas até agora não saiu do meu quarto. Nunca o vi tão para baixo, Marinette- fez-se um silêncio- E tu?
- Tu sabes... como se tivesse sido esmagada por rinocerontes grandes e pesados- riu sem humor- Vou ter tantas saudades dele.
- Mari, eu lamento...
- Marinette, o Adrien está aqui!- Sabine gritou do andar de baixo e, poucos minutos depois, o loiro apareceu no quarto da adolescente.
O telemóvel da azulada vibrou, indicando que Alya tinha terminado a chamada.
Ambos trocaram olhares durante um longo tempo até Adrien começar a caminhar pelo quarto. Passos lentos transformaram-se numa corrida desesperada e, antes que Marinette pudesse processar o que estava a acontecer, Adrien estava ajoelhado à frente dela, o colchão a reclamar sob o seu peso, ele segurava o rosto dela com necessidade.
Estava perto... tão perto que ela conseguia sentir a respiração dele, rápida e desorientada, contra o canto da sua boca.
- Adrien, o teu pai...
- Eu amo-te- murmurou antes de a beijar intensamente.
Marinette retribuiu e passou os braços à volta do pescoço dele, puxando-o para ainda mais perto mas, depois, pareceu hesitar e separou-se primeiro.
- Isto uma má ideia- ela sussurrou ofegante.
- Eu sei- o loiro respondeu e a mão dele avançou até à nuca dela e colou os lábios de ambos novamente.
Marinette deixou que Adrien a beijasse com carinho e paixão e, lentamente, deitou-se sobre o colchão rosa e macio.
O loiro encostou os lábios à bochecha, à testa e ainda ao nariz da menor e, então, deitou-se ao seu lado, abraçando o lado do corpo dela.
Marinette acariciou os cabelos dele e beijou o cocuruto da sua cabeça.
- Promete que vamos ser sempre eu e tu contra o mundo- ela balbuciou com a voz embargada.
Adrien percorreu um caminho de beijos desde a sua clavícula até aos seus lábios.
- Sempre...
Não se largaram durante longos minutos e aos poucos o sono ia tomando conta dos dois.
- Não adormeças- Marinette pediu, a sua voz não passava de um som sonolento e desanimado- Assim o dia demora mais para acabar...
- Tu precisas descansar, querida...
- Preciso mais de ti do que de qualquer outra coisa.
Adrien soprou um riso.
- Vai ficar tudo bem...
- Não, não vai.
- Eu ligo-te todas as manhãs, e todas as tardes, e todas a noites...- a azulada não respondeu- M'lady?
Adrien ergueu a cabeça para encontrar o rosto de Marinette adormecido e sereno, então voltou a esconder o rosto debaixo do queixo dela e apertou ainda mais os braços à sua volta.
Fungou e chorou baixinho pelo resto da noite.

Marinette acordou no dia seguinte sem Adrien ao seu lado, incomodada pelo som interminável de um telemóvel a tocar.
Apalpou o colchão até encontrar o aparelho e levou-o ao ouvido enquanto piscava os olhos para focar a vista, tinha as pálpebras pegajosas.
- Alô?
- Onde estás?- a voz de Alya ecoou pela sua cabeça.
- Em casa, acabei de acordar, porquê?
Ouviu-se um suspiro do outro lado da linha.
- O Adrien parte daqui a 10 minutos, Marinette.
O corpo da adolescente ganhou vida naquele momento, saltou na cama e vestiu a primeira roupa que encontrou pela frente, uma camisola de alças branca e umas leggings pretas. Deixou o cabelo solto e despenteado, desceu as escadas a correr, pegou na sua mota e saiu de casa o mais rápido possível.

Chegou mesmo a tempo de ver Adrien largar o abraço do melhor amigo que dizia, com a voz chorosa, algo parecido com: "Lembra-te de ligar quando chegares, adoro-te meu!"
Toda a turma estava lá a despedir-se dele.
Correu, com esperança de pelo menos chegar perto o suficiente para o abraçar mas, sendo ela quem é, tropeçou e caiu.
Soltou um leve grito e analisou um arranhão que tinha no braço.
Pronto, lá se foram todas as chances que tinha de tocar no amor da sua vida uma última vez, nunca mais poderia observar a estranha e linda mistura de tons de verde e amarelo dos seus olhos, nunca mais ia sentir o calor da pele dele, nunca mais ia...
- M'lady!- ouviu a voz dele chamar por ela e, assim que ergueu o olhar da ferida, encontrou-o ajoelhado à sua frente, exatamente como tinha estado na noite anterior antes de a beijar- Estás bem?
A maneira como ele olhava para o arranhão no seu braço despedaçou ainda mais o coração dela, tão preocupado e atencioso.
Abraçou-o com quantas forças tinha, pouco importava a dor que sentia naquele momento.
- Adrien...- foi só isso que ela conseguiu dizer, apenas o nome dele de forma tremida e quebrada, já sentia lágrimas a escorrer pelo seu rosto.
- Eu estou aqui, princesa- ela soluçou- Já passou. Respira fundo.
- Adrien- Gabriel apareceu atrás do rapaz- Temos de ir.
Ele não a largou e continuou a sussurrar palavras e frases amorosas pra ela.
- Adrien.
- Vai- Marinette disse entre soluços e encostou a testa à dele.
- Não te quero deixar aqui...
- Também não quero que vás... Amo-te, amo-te, amo-te...
- Adrien- agora Gabriel segurava o ombro do adolescente. Sem outra opção, largou-a e seguiu o pai até à porta do aeroporto, mas parou a meio do caminho.
- Adoro-vos, malta- disse ele à turma e, antes de entrar para o avião, virou-se para Marinette e disse apenas com os lábios: Tu e eu contra o mundo. Amo-te.
E assim ele desapareceu de vista. Pela janela do aeroporto conseguiam ver o avião de Adrien partir.
Marinette rebentou naquele momento, abraçou o próprio corpo e chorou como nunca tinha chorado antes.
- Será que ela está bem?- as pessoas que passavam murmuravam.
- Pobre miúda...
- O que aconteceu com ela?
Ouviu passos a virem na sua direção mas nem se deu ao trabalho de ver quem era, mas quando sentiu alguém a abraçá-la e soluços na sua nuca percebeu que era Nino que chorava tanto como ela.
Seguido dele, veio Alya e Luka abraçá-la, depois Rose, Juleka e todos os outros encolheram-se no chão gelado com ela com algo no peito a apertar.

Poucas horas depois, Adrien tinha chegado à casa da tia e estava a desfazer as malas no seu novo quarto. Assim que acabou, tirou do bolso das calças de ganga o amuleto da sorte que Marinette havia lhe dado pouco antes do Max ter sido akumatizado pela primeira vez.
"Dá-me sorte" dissera ela.
- A mim também me deu a sorte de me apaixonar ainda mais por ti- sussurrou consigo mesmo e atirou-se na cama sentindo lágrimas molharem as suas bochechas.
Olhou pela janela do quarto e, onde a torre Eiffel devia estar, estava o Big Ben.
Riu no meio do choro, um pouco orgulhoso de si mesmo por ter cumprido o que o seu pai aconselhou.
"Aproveita o tempo com ela, são momentos preciosos. Vais criar lembranças maravilhosas para relembrar em Londres, para o ano que vem."

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