A COLOMBIANA "AMAZON"

03 - Vanessa Díaz

Vanessa Díaz

Deixo o Guilherme dormindo depois que contei mais de duas historinhas para ele, decido voltar para a cozinha e conversar um pouco com o Juan sobre as coisas que estamos vivendo, na verdade, estou muito feliz por tudo o que tem acontecido no último ano, amanhã é o último dia do ano e quero passar em família como sempre.

Mesmo que eu e meu irmão sejamos colombianos nativos, nos consideramos brasileiros e tivemos sorte em conseguir documentos confirmando isso, vivemos tantos anos lá que os seus costumes se tornaram os nossos costumes.

— Aqui outra vez, pensei que já fosse se deitar, disse que amanhã você tem que ir para a clínica! — Ele estava sentado no sofá assistindo ao jogo de futebol, com uma garrafa de cerveja na mão, me sento ao seu lado.

— Sei disso, mas queria conversar com você só um pouquinho até sentir sono. — Acho que ele percebe meu humor e começa a realmente prestar atenção em mim.

— Me diz a verdade o que aconteceu para ficar tristinha assim. — Solto um suspiro pesado e inclino a minha cabeça em seu ombro.

— Aquele sentimento de arrependimento que me consome, estava pensando, posso tentar ligar para ele e contar a verdade, mas estou com medo. — Ele para de me olhar e volta para assistir ao jogo.

— Essa conversa é velha, Vanessa, me lembro quando voltou de Vegas... — Deixo as memórias fluírem com as lembranças do período mais aflito que passei.

— Deixa de ser teimosa e o procure e diga que esta grávida, ele tem o direito de saber que tem um filho. — Olhava para meu irmão que fala como se fosse tão fácil assim.

— Juan, ele tem saído todo dia estampando as manchetes brasileiras com uma modelo diferente ou uma puta qualquer, você acha que ele quer me ouvir depois de tudo. — Digo apontando para a TV que noticiava novamente o nome Gustavo Lira. — Com quase dois meses longes, ele vai dizer que estou grávida de qualquer um! — Meu irmão começa a rir de mim.

— Vanessa, fala sério, estamos nessa brincadeira de esconde-esconde desde que voltou de Vegas, você acha que ele não vai te ouvir? — Reviro os olhos para o meu irmão, achar não, tenho certeza.

— Se estivesse no lugar dele, o que faria? — Pergunto para meu irmão que respira fundo e se vira na minha direção.

— Não sei Vanessa, mas nunca vi você tão envolvida com alguém como ficou com ele! — Quando ele fala apenas concordo, isso é verdade.

— Juan como poderia me envolver com alguém se o nosso pai fez escolhas erradas, sempre tínhamos que fugir de madrugada para não sermos mortos. — Falo lembrando da nossa vida atribulada.

Meu irmão não sofreu tanto, ele é mais novo, então sempre precisei cuidar dele, tentei ao máximo esconder dele as coisas que aconteciam ao nosso redor, mesmo um pouco mais velha ainda tinha coisas que não conseguia realmente entender, os motivos do nosso pai sempre nos carregar nessa fuga, sentia falta de casa e da única família que ainda tínhamos.

— Você sabe que não tenho palavras para agradecer o quanto precisou abdicar para me proteger de toda aquela bagunça que nosso pai fez. — Ele segura na minha mão e noto a sinceridade dele ali.

Infelizmente uma noite não tivemos tanta sorte assim, no meio do matagal alto o meu pai nos deixou escondidos e ele foi em outra direção para que não nos achassem, mas ele acabou sendo capturado e desde então estamos fugindo deles.

A lenda diz que meu pai escondeu uma grande fortuna e uma quantidade absurda em drogas em algum lugar, mas nunca soube onde ele escondeu tudo isso e nem se realmente é verdade.