Apesar do quanto eu tenha tentado enganar meu coração, todas as tentativas falhas só me fizeram perceber os meus sentimentos. A negação do meu querer só me deixava tenso no fim das contas e eu acabava chegando a lugar algum, como em todas as vezes que eu tentei ignorá-lo. Meu coração não me deixava mentir e acabei dependendo muito do meu autocontrole para não expor isso à sociedade preconceituosa na qual sempre vivi.O fato de ter de encará-lo de frente estava me corroendo em uma ansiedade inexplicável. Não tenho certeza se porque nos enfrentaríamos como adversários, mas minhas mãos continuavam suando frio enquanto o mesmo suor escorria da testa só por vê-lo na tela do celular. Pensando em quando nos conhecemos, não fui capaz de parar de pensar no sorriso genuíno que recebi sem sequer conhecer aquela pessoa. Eu não pretendia me apaixonar, mas a cada vez que parava para pensar no quanto tínhamos nos aproximado nos últimos meses, meu corpo não se continha em reagir a qualquer mínima lembrança que vagasse pela minha memória.
Acreditando que tudo o que construímos no meio do campo não passaria de uma grande amizade temporária, fui enganado pela minha própria mente que me traiu no fim de tudo. O que eu poderia fazer com o estado deplorável no qual eu me encontrava?
— Son, você não vem?
— Para onde?
— Assistir o jogo.
— Quais os times de hoje?
— Brasil e Suíça.
— ... — sem demonstrar o olhar apreensivo em meu rosto, demorei um tempo até que pudesse responder com certa dúvida. — Não. Hoje eu passo. Podem ir sem mim, vou voltar para o quarto para descansar um pouco, não me sinto tão bem hoje.
— Beleza então, bom descanso!
— Valeu.
Era como se eu estivesse fugindo, mas eu não podia evitar. Sempre que o tinha à frente dos meus olhos, fisicamente ou não, meu coração acelerava e eu não conseguia ter controle das minhas reações. Fiquei sozinho no meu quarto e liguei a TV depois de muita hesitação. Enquanto o jogo rolava, decidi tomar um banho para esfriar tanto a cabeça, quanto meu corpo. Era como se ardesse em chamas sempre que o via e mais uma vez eu estava fazendo aquilo inconscientemente como se toda a minha carne estivesse em um êxtase momentâneo e todos os membros do meu corpo agissem por conta própria. Sempre que acordava desse lapso, era tarde demais para manter a compostura quando eu já tinha a mão suja do que me era indesejável. A água que escorria sob a minha pele me causava arrepios e levava consigo toda a impureza que restava no meu corpo e, além dela, o resto de esperança existente. Seria realmente bom se essa esperança descesse pelo ralo e nunca voltasse a surgir.
No final, eu sempre desistia, estava farto de me sentir assim há tanto tempo que me irritava continuar insistindo em tal história. Até quando isso continuaria? Cansado, saí do banheiro com ar de perdedor e me sentei na cama para perceber que o jogo havia chegado ao fim do primeiro tempo. Aproveitando para suspirar um alívio forçado, penteei o cabelo rápido e deitei na cama ainda de toalha para mexer no celular um pouco. Adormeci sem perceber e perdi o segundo tempo do jogo também.
As instalações eram separadas por time e eram individuais. Então não era como se houvesse necessidade de dividir quartos ou visitar o alojamento de outros times, cada time tinha o necessário e não havia motivos para pisar fora do próprio quadrado. Mas, tarde da noite, pude ouvir batidas na porta do quarto. Sem perceber as condições em que me encontrava depois de um sono tão repentino, acordei com as batidas e me levantei para abrir a porta apenas para me surpreender com a visita inusitada.
— Richarlison? O que veio fazer por aqui? — Ainda tinha uma voz sonolenta e sem muita surpresa pelo sono que não se esvaiu com rapidez.
— A gente ganhou, sabe? Talvez eu seja seu adversário nas oitavas. — Sua boca cheirava a álcool.