O sol está alto no céu, esquentando a areia sob qual Neteyam está sentado, a água batendo até sua cintura. Seus olhos fechados enquanto ouvia as ondas quebrando e o som dos ilus que nadavam perto de si. Sua respiração está regular e sua mão perto da cicatriz, aquela que marcava o pior dia de sua vida, mas também representava a segunda chance dada por Eywa, uma segunda chance de viver.
Mesmo depois de dois meses era no mínimo estranho pensar naquela noite. Ainda conseguia ver o mesmo olhar desesperado de Lo'ak tentando estancar seu sangue (ele sabia que seu irmãozinho se sentia culpado, mas não tinha forças suficientes para o tranquilizar) ainda conseguia ouvir sua mãe implorando a Eywa para não deixá-lo morrer, seu pai pedindo que ele não fechasse os olhos enquanto ele mesmo dizia querer voltar para casa. Ele sorriu só de pensar na forma que Tuk mal o largava depois disso. Ele riu alto dessa vez lembrando do olhar aliviado de sua irmã Kiri que tremia quando se reencontraram, para nem duas semanas depois ela estar rindo da cicatriz que havia ficado. Ele fingia ficar bravo com isso, mas no fundo sabia que era a forma dela aliviar o medo e a dor que ela sentiu. Ele não podia a culpar por isso.
Como por instinto, ao abrir os olhos, virou seu rosto em direção aos alojamentos atrás de si. Seus olhos mirando a figura que andava distraído pelo lugar, desligado do mundo ao redor. Aonung. Muitas coisas mudaram depois de sua família estabelecer moradia com os Metkayina, uma delas era o próprio Aonung.
Ele se desculpou, de novo, por suas ações e parara de implicar com sua família (como muitos outros da tribo), na verdade os garotos descobriram ter muitas coisas em comum, como o fato de serem os filhos mais velhos de pais importantes, carregando não só o farto de preservar suas imagens mas serem os exemplos de seus irmãos. Eles não falavam abertamente disso nas muitas vezes que se encontravam, sendo ambos orgulhosos demais, mas eles se entendiam e era claro pelo jeito que se olhavam.
Havia algo estranho quando seus olhos se encontravam, era como se pudessem conversar assim, sem dizer nada. Seu pai sempre dizia que como ele, Neteyam era expressivo demais, então ele nem se surpreendia pela forma como seu coração batia quando eles caçavam juntos ou como ria abertamente quando a mando de suas mães eles tinham que ir atrás de Lo'ak e Tsireya, seus irmãos mais novos, que insistiam de irem a mar aberto juntos. Ele não costuma ter paciência para pessoas que reclamavam demais, mas havia algo diferente na forma que o garoto de pele mais esverdeada resmungava, ameaçando matar seu irmão se ele "ousar tocar em minha inocente irmã"
Aonung sempre que podia ia caçar junto de Neteyam, que jurava ver preocupação em seus olhos. Ele aproveitava para irritar o outro sobre isso, mas o mais novo apenas o socava no ombro e voltava a resmungar daquela forma fofa. Ele no entanto nunca teve coragem para mencionar quando sua irmãozinha caçula, com o costume de falar mais que devia um dia o contou que jurava ter visto Aonung parado observando o inconsciente Neteyam, que se recuperava do acidente. Diariamente estava lá preocupado vendo se o garoto mestiço parecia com dor ou acordasse. Ou se pararia de respirar.
Com essa nova mudança do amigo, Neteyam preferia ignorar a forma que seu rabo balançava sempre que suas mãos se tocavam ou quando via o orgulhoso Metkayina sorrir no oceano, tão confiante e feliz naquelas águas que deixava uma sensação fria (e agradável) na barriga do garoto da floresta.
Agora, sem conseguir segurar sua impulsividade ele corre e grita o nome do garoto que nesse momento andava distraído até a costa da praia. A verdade é que o filho mais velho de Tonowari andava cansado e ao mesmo ansioso por conta da preparação na última semana, recebendo muitas ordens dos pais. Em alguns eclipses ele comemoraria junto ao clã sua maturidade, onde se prepararia para um dia ficar no lugar do pai como Olo'eyktan.
No entanto, no momento que ele ouve aquela voz, o cansaço some e é substituído por uma adrenalina estranha. Seu coração para por um instante, fazia dois dias que eles não se viam, em que imaginava o que diabos ele estava fazendo longe si.
Neteyam quase jura ter visto seus olhos claros se aregalharem, como os seus próprios fizeram no dia que se conheceram. A mão do mais novo levantou rápido, quase como se indo de contato a ele, rápido demais para talvez ser uma ilusão. Um sonho, como muitos que havia tendo.
- O que quer garoto da floresta? Fugindo do pirralho do seu irmão ou ele que fugiu de novo? -- Neteyam estava acostumado demais com aquele sorriso sarcástico. Acostumado até demais para saber que era o jeito dele perguntar se Lo'ak estava no mar com a irmã dele. Ele definitivamente não ficará feliz quando oficializarem o namoro.
- Ele está com meu pai na verdade, só com ele -- Ele fingiu não notar como seus ombros relaxaram. -- Eu... Não consegui falar com você nesses dias. Sei que pode estar ocupado, mas gostaria de me acompanhar em um mergulho? -- Merda, será que tinha sido muito abrupto? O garoto devia nem ter pensado nele nesses dois dias, e com certeza estava ocupado demais, considerando a forma que olhou apreensivo para trás. Estava quase se desculpando quando o Metkayina o olhou nos olhos.
Ele também conhecia aquele olhar, que parecia mostrar a urgência para aventura, para se distrair. Ele sabia a resposta antes mesmo do outro verbalizar o "sim".
E então eles correram. Neteyam podia não saber, mas ambos preferiram ignorar a forma como seus corações batiam quase no mesmo ritmo acelerado. Como seus movimentos estavam sincronizados ao nadar o mais fundo possível no oceano. Como apostavam uma corrida mas nenhum queria verdadeiramente ganhar, mas estarem juntos, perto, pelo máximo de tempo possível.
Como tudo que ambos queriam, sem talvez sequer perceber, era eternizar aquele momento, eternizar aquela conexão e o novo sentimento de finalmente estarem em casa.
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Chances (Aonung x Neteyam)
RomanceNeteyam sabia como algumas, se não muitas coisas haviam mudado desde o incidente em que quase morrera, mas a principal era com certeza Aonung. E bom... Talvez seus sentimentos em relação ao "amigo"