Two

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Para Aonung a calma que a água o trazia foi instantânea, quase conseguiu esquecer da ansiedade das últimas semanas. E talvez, ele pudesse admitir que a presença de um certo Omatikaya ajudava. Neteyam o cercava durante o caminho todo que percorreram na última meia hora, com alguns intervalos para respirar, claro, mas até ele tinha de respeitar a melhora do Na'vi terrestre.

Havia algo de diferente em estar ao lado de Neteyam, até mais singular do que comparado ao resto de sua família. Eles se entendiam de forma única, sem contar a forma que a presença do outro rapaz era o suficiente para o deixar tão vulnerável. Afinal só ele sabia a angústia que sentiu ao acompanhar a semana que o guerreiro ficara inconsciente, sempre o viajando de longe com medo.

Mas agora, sozinhos com apenas a companhia de seus ilus que o seguiram, ele volta a sentir aquela vontade de se aproximar. De tocar suas sardas, de se perder nos olhos amarelos...

Ele notou quando o outro sinalizou que subiria, o acompanhando à superfície, assistindo enquanto ele montava em seu ilu para descansar da corrida. Só então ele percebeu que não sabia quem ganhou. Não. Que na verdade não havia um vencedor.

Seus pensamentos se perderam de novo ao perceber o sol que ainda brilhava, a forma como a luz cobria o corpo ciano do Omatikaya, que estranhamente também o observava. Será que ele conhecia os pensamentos do mais novo?  Uma parte sua não parava de considerar, talvez ele tivesse semelhares...?

- Está muito distraído ultimamente... As preparações foram muito difíceis?

Ele se aproximou do garoto antes de responder:

- Você deve se lembrar do seu próprio Iknimaya... nossos testes são diferentes mas ainda assim... Pelo menos estou pronto para amanhã a noite, onde me tornarei adulto em frente a todo meu clã... Onde talvez escolha um companheiro, sabe?

Ele realmente esperava que sua risada não tivesse saído tão nervosa quanto achava, ou que o mais velho notasse o olhar que ele lançava, esperando por sua reação. Neteyam sentiu um estranho amargor na boca, mas fez o melhor para não expressar seus pensamentos.

- Bom, eu ja passei pelo meu Iknimaya, e não escolhi uma companheira... Para o desagrado de minha avó - Ele riu mas no ato havia uma ironia e... Algo que Aonung não reconhecia. Havia dor também, ele percebeu. A mesma dor sempre que mencionava as florestas e seu antigo clã.

-- Neteyam... Seria burrice não achar que voltaria ao seu clã se tivesse a chance mas... Você é feliz aqui? Com... nós?

Em resposta, ele olhou para si como se o chama-se de skxawng mentalmente. É, ele se sentia assim perto do mais velho numa frequência vergonhosa. Se Aonung pudesse ficar de frente a si mesmo,  ele se socaria da mesma forma que Lo'ak o "ensinou".

Neteyam parecia trazer a tona todos seus lados, bons e ruins. Até os vergonhosos. O pior? Ele não conseguia o odiar por isso.

-- Céus, você é mesmo um idiota - Ele sorri com o olhar irritado de Aonung e riu mais ainda quando esse o bateu na perna, ele reclamaria se não tivesse notado quão perto estavam -- Falando sério, é óbvia a saudade que eu sinto mas minha família é também Metkayina agora. Eu sou. Qual é, ainda querendo se livrar de mim?

A pergunta veio acompanhada de uma risada mais leve e um movimento de seu rabo jogando água no garoto a seu lado. Aonung não o jogou no mar para o afogar ou resmungou daquele jeito único, como esperava. Na verdade, ele riu. E se aproximou mais de Neteyam, enquanto um sussurro saía de sua boca:

- Não, não quero. Fico feliz que esteja aqui Neteyam. Agradeço a Eywa.

Certo, agora seu coração havia definitivamente parado. No entanto ele podia sentir suas orelhas levantando, o sorriso tonto e feliz. Ah, e claro que aquele frio na barriga tão familiar.

O amarelo e azul de seus olhos se encontraram, trazendo aquela eletricidade que percorria a ambos. Neteyam voltou às águas, suas mãos encontrando as de Aonung, os corpos de cores diferentes se encontrando tão próximos que o mais novo precisava se segurar para não tocar o rosto do outro Na'vi. Diferente do que imaginavam até aquela amanhã, o gesto não foi estranho, mas sim tão certo. Não havia mais dúvidas ou auto-repreensão, eles sabiam como ambos queriam aquilo.

- Neteyam... -- Ele não se segurou mais, seus dedos percorrendo o lado esquerdo do rosto alheio -- Oel ngati kameie... Eu vejo você.

- Eu vejo você Aonung...

Um suspiro, e então seus lábios se encontraram. De forma intensa, mostrando como desejaram, como esperaram por isso. Os segundos transformaram o ato em algo ainda mais doce, ambos esperavam expressar a certeza que haveria mais. Que não importasse o futuro, eles se escolheram e eternizaram a certeza de pertencerem um ao outro.

Chances (Aonung x Neteyam)Onde histórias criam vida. Descubra agora