Perfect

Capítulo único

Bokuto-san andava um pouco estranho nesses últimos dias. Andava errando quase todos os passes que eu mandava para ele durante os treinos com o time, não falava com ninguém na escola, nem mesmo com os membros do nosso time ou com o treinador, e ele estava descaradamente evitando um possível encontro comigo.

O único lugar onde eu conseguia vê-lo corretamente era durante os treinos rotineiros durante a semana, mas mesmo assim ele evitava ao máximo trocar algum diálogo comigo que não tivesse ligação com os passes que trocávamos. Bokuto-san estava tão distante que o técnico o colocou no banco durante os treinos e ele nem discutiu como sempre fazia.

Eu não sabia se tinha feito algo de errado e o problema estava em mim, já que sempre que ele estava triste ou preocupado com algo ele procurava a mim para desabafar, o que claramente não estava acontecendo naquele momento.

A aula havia acabado há alguns poucos minutos e eu me via dirigindo meus passos para a casa de Bokuto, já que ele não havia ido até a escola naquela manhã, o que me preocupava mais ainda. Se eu desse sorte eu pegaria a mãe dele saindo de casa para voltar ao trabalho, e ela me deixaria entrar.

Dito e feito, assim que a mulher mais velha me viu, depositou um selar casto em meus cabelos e soltou um "Por favor cuide do meu filho..." aumentando ainda mais a ansiedade que sentia no fundo do meu âmago.

Subi as escadas bem devagar, tentando não chamar a atenção do acinzentado para algum barulho que eu fizesse, já que ele não sabia que eu estava ali. A porta do quarto dele estava entreaberta, e eu conseguia ouvir soluços baixos vindos de lá de dentro. Me apressei e adentrei o quarto em passos rápidos, me deparando com Bokuto sentado na cama enquanto abraçava seus próprios joelhos. Ele levantou o olhar para me ver e arregalou os olhos, limpando as lágrimas rapidamente.

- Hey, Akaashi-kun, o que está fazendo aqui? - estranho, ele nunca me chamou desse jeito, ele nunca acertou a pronúncia correta do meu nome, ele definitivamente não está bem. Ele tinha um sorriso falso no rosto.

- Vim ver você. - sussurrei chegando mais perto de onde estava e me sentando ao seu lado. - Bokuto-san, não finja para mim, eu o vi chorar, e quero saber o motivo. Poxa, sou seu melhor amigo, você pode me contar essas coisas. - disse calmo enquanto o puxava lentamente até que sua cabeça estivesse deitada em minhas pernas.

Não disse mais nada durante um bom tempo. Já havia dito o que queria e não iria pressioná-lo mais. Ele voltou a chorar, dessa vez mais baixo, me deixando cada vez mais preocupado. Me limitei a acariciar seus cabelos cinzentos e a deixar pequenos beijinhos na palma de sua mão enquanto dizia que eu faria de tudo para que ele ficasse bem. Passamos um tempo assim, até ele se levantar e se sentar de frente para mim, enquanto lentamente parava com os soluços. Peguei em sua mão e deixei um sorriso escapar, tentando encorajar o maior a falar.

- E então, o que houve contigo Bokuto-san? - perguntei tentando olhar em seus olhos, mas ele abaixou a cabeça e começou a brincar com seus dedos.

- Kashee .... não precisa fingir. Eu sei que ninguém se importa comigo, você não é a exceção.. - disse com a voz trêmula e eu o encarei incrédulo, porém não ousei dizer algo e interromper sua linha de raciocínio. - O Kuroo...espalhou para todo mundo que eu sou gay Akaashi, eu pensei que ele fosse meu amigo, ele era o único que sabia!! - disse levantando a cabeça e me olhando, pude perceber o medo e a vergonha estampada em sua face, ele também não estava pronto para me contar aquilo,eu apenas o abracei.

- Kashee...Por que ninguém gosta de mim? Eu tento ser o melhor Ace, mas ninguém liga. Eu tento falar com eles, mas ninguém escuta. Eu tento fazer amigos, mas ninguém quer ser meu amigo. Eu não sei o que eu fiz de errado, eu não queria nascer assim. Eu queria ser bom o suficiente pra você....mas nem isso eu consigo ser.

E aquilo foi a gota d'água pra mim, o que veio a seguir surpreendeu até a mim mesmo. Quando vi Bokuto já estava com um lado do rosto avermelhado enquanto me olhava com medo. Ele se assustou ao olhar para o meu rosto, eu estava irritado, e eu nunca ficava irritado.

- Eu não aguento te ouvir falando assim de si mesmo! Os outros podem não ligar, mas eu ligo, e sei que você é o melhor Ace de todos, de todos mesmo. Eles podem não escutar, mas eu escuto tudo o que você diz, e eu me lembro de cada palavra e de cada frase que você diz pra mim. Eles podem não querer, mas eu quero ser seu amigo Bokuto-san, e quero passar a minha vida inteira com você ao meu lado. O Kuroo foi um babaca de espalhar isso quando você não estava pronto pra contar, e eu vou falar com ele uma outra hora, e vou mesmo, mas quem gosta de você não vai te abandonar por causa da sua sexualidade. - e lá estava novamente aqueles olhos lindos, cheios de lágrimas, me encarando.

- Kashee...-

- Eu ainda não acabei Bokuto-san. - cortei sua fala e peguei seu rosto entre minhas mãos, me aproximando e colando minha testa na dele. - Você não tem que se importar em ser suficiente para ninguém além de você mesmo, mas já que se importa, eu quero dizer que você é mais do que suficiente pra mim, e eu amo você do jeitinho que você é.

- M-me ama?

- Sim Bokuto-san...te amo, mais do que tudo no mundo. - disse enquanto dava o famoso beijinho de borboleta nele, que riu. Aquela risada que eu não ouvia faz muito tempo, e eu senti tanta falta...ah como senti.

- Eu também te amo Kashee!! Muitão!