-Como assim clínica psiquiátrica? Você está tentando dizer que estou LOUCA? EU NÃO ESTOU LOUCA! -Vociferei o mais alto que meus pulmões permitiam. O que eles estavam pensando? Que eu estava maluca?
Sei que passei dos limites ao berrar com o guarda do cinema por não me deixar entrar com comida lá dentro. E que depois chamei a polícia. E que avancei no policial ao dar razão ao guarda. Mas me internar? Não! Isso era totalmente dispensável!
- Acalme-se Arissa, nunca a chamamos de louca, pois obviamente você não é. Porém nos últimos tempos seu remédio não está surtindo o efeito esperado e isso nos preocupa -Disse o Dr. Estevam com aquela voz de comiseração que tanto me irritava. Ele tinha cabelos acinzentados ligeiramente longos. Olhos de um verde escuro formidavelmente penetrantes. Alto,porém levemente corcunda. -E adicionando o incidente no shopping...
-FOI UM ACIDENTE!-Interrompi sem conseguir conter a voz mais uma vez. Sabia que estava próximo a um surto, mas não deixaria que ninguém soubesse. Sem outra solução, baixei o tom-Aquilo não foi culpa da doença e nem dos remédios ,aquilo ...aquilo foi...foi...
-Foi um surto bipolar Arissa.Me escute quando digo...
-NÃO!Não quero e não preciso escutar nada!NÃO VOU E PONTO!-Agora eu já estava em pé. Lágrimas caiam involuntariamente em meu rosto.
-Já chega!Sente agora mocinha!-Proferiu meu pai com as mãos nos ombros de minha mãe, que chorava copiosamente.Meu pai, um homem de estatura mediana e olhos acinzentados cansados, me olhava em um misto de emoções que variavam entre nervosismo, pena, angústia, frustração e ternura. Seus cabelos castanhos que já passaram da hora de cortar caiam superficialmente sobre seus olhos.
Ainda sustentando seu olhar que estava próximo a deixar cair uma lágrima ,me sentei em frente ao médico e baixei a cabeça simbolizando que iria escutar sem interrupções.
-Pois bem.- O Dr. continuou.- seus pais e eu já conversamos em particular -Lancei um olhar fulminante e completamente acusador em direção aos meus pais que, ou ignoraram, ou estavam incrivelmente compenetrados nas palavras do Dr.Estevam. Eu aposto na primeira opção- e decidimos que o melhor para você neste momento é se afastar um pouco de sua rotina e passar um período na clínica psiquiátrica de São Pedro.
O encarei profundamente assombrada com as palavras: clínica e psiquiátrica. O julgaria um péssimo profissional se não nota-se, mas ele notou e tratou de continuar o que poderia ser um belo discurso.
- Mas não por estar "maluca"- E sim! Ele fez as aspas com os dedos.- ou algo do gênero,mas sim por precisar de um descanso. Será temporário e logo logo voltará para casa.-Concluiu ele esperando por outra reação abrupta,porém apenas os encarei com o meu melhor olhar consternado.
Pensando bem, um descanso não seria ruim. Mas em uma clínica de malucos ? Bem que poderia ser em um SPA! Contudo era óbvio que já tinha sido vencida e mais protestos poderiam me levar a ser injetada um sonífero e assim eu acordaria na tal clínica ou talvez fosse amarrada a uma camisa de força.Todos me olhavam ansiosos. Não disse uma palavra até que meu pai interrompe meus devaneios.
-E então meu amor ?- perguntou ele receoso.
-Quando partirei?- disse simplesmente.
-Quanto antes melhor- disse Dr. Estevam com um tímido sorriso de quem conseguira-J á está tudo preparado na clínica apenas lhe esperando.
Traidores!Como assim já?!Tentando não criar mais uma oportunidade para me acusaram de loucura me refiz e tentei parecer o mais estável possível.
-Ótimo, então vamos ! Quero ir hoje!- disse decidida e já me levantando.
-Hoje?- disseram meus pais em uníssono.
-Sim! Vocês não queriam se livrar de mim? Então. Agora eu que não quero mais estar perto de pessoas manipuladoras como vocês- Olhei nos olhos de cada um ao dizer isso. Até nos do Dr.Estevam. E antes que perdesse a coragem sai do consultório batendo as portas sem olhar para trás.
Porém a culpa não ficou naquele consultório, ela, incrivelmente fiel, me acompanhou durante vinte e três dias.
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O Contorno de Ordiri
Romance* PRÓLOGO * Você já sentiu emoções súbitas que aparecem sem um motivo aparente? Você já sentiu que havia outra pessoa com você enquanto estava completamente sozinho ? Arissa Bergamo, uma jovem de 17 anos, diagnosticada com transtorno bipolar, tem...
